VIII - O DESPERTAR DO FEITICEIRO

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Lú se jogou do penhasco, sentindo aquele frio na barriga enquanto caía. Ele abriu os braços e em sua face surgiu um sorriso. A queda era rápida, mas, ao mesmo tempo, sem fim. O ar gélido congelava os seus pés descalços, enquanto ele fechava os olhos, repetindo a mesma frase como um mantra.

— Eu não terei medo. Eu não terei medo. Eu não terei medo. Eu não terei...

De repente, o garoto já não caía mais. Ele abriu os olhos, era inacreditável. O impossível aconteceu! Lú estava flutuando.

O seu peito estava a poucos centímetros de um espinho de pedra, um segundo a mais o garoto teria virado um "espeto". O ambiente ali era como um desfiladeiro, um estreito corredor de estalagmite e pedras pontiagudas, com um cheiro nauseante de carne podre e centenas de crânios entre outros ossos espalhados pelo local. Uma armadilha perfeita!

Um dos soldados caiu ao lado de Lú, onde duas estalagmites atravessaram o seu corpo. Embora assustado, o garoto manteve a concentração, um vacilo e teria o mesmo destino. Ele respirou fundo, precisava se movimentar. Ergueu os braços para trás e esticou bem o corpo. Estava dando certo! Mesmo de forma lenta, ele estava conseguindo voar.

Ele estava dominando aquela técnica de forma impressionante, e ainda se divertia no ar. Foi então que ele entendeu o significado de "não ter medo" e "despertar seu poder", e agora, ele iria fazer o que o gato preto disse. "Usar o seu poder para o bem". Aquelas pessoas estavam esperando por ele.

Uma fecha zumbiu.

Um corte de raspão surgiu na manga da camisa de Lú. Olhando para a frente, ele viu o que menos esperava. Dois sujeitos, ou melhor, criaturas, que o garoto nunca viu antes, embora as asas de morcegos e os chifres torcidos os entregassem.

Drácons.

O garoto devia estar na área deles. Os drácons não eram pacíficos como se esperava e o pior, a única maneira de se escapar dali vivo seria fugindo. Mas, competir com dois voadores habilidosos? Não só voadores, como bons arqueiros.

Outra flecha zumbiu e dessa vez passou longe, mas eles se aproximavam rapidamente, não demorariam para alcançar o garoto azul. Lú tentou ir mais depressa quando sentiu uma dor aguda em sua coxa direita.

Por um instante, ele perdeu o equilíbrio, indo de encontro a uma estalagmite, mas recobrou o voo a tempo. Retirou a flecha ensanguentada, porém a dor que sentia não era comparável à chuva de setas mortais que cortava o ar ao seu encontro. Era questão de segundos para ser atingido. Mesmo que não adiantasse de nada, ele colocou os braços cruzados sobre o tórax, abaixando a cabeça e encolhendo as pernas.

A colisão.

Lú esperou ser atingido, ter seus órgãos internos perfurados até a morte, mas havia passado tempo demais. Arriscou abrir um olho e a sua pupila dilatou com o que viu à sua frente.

Um escudo esférico o contornava. Era transparente e lembrava um vidro, embora bem mais resistente. As flechas não causaram um arranhão, elas chocavam-se contra aquela proteção, tilintavam e deslizavam como se fosse uma superfície escorregadia.

Frustrados, os drácons partiram para o ataque manuseando os seus punhais, cujas lâminas cortantes reluziam o fio que havia dilacerado várias presas. O cabo de madeira era coberto por couro, e o garoto nem queria saber da procedência daquele material.

Lú não sabia por quanto tempo mais aguentaria a projeção do escudo. Os seus braços formigavam em um calor que queimava as juntas, sem falar no ferimento em sua coxa, que latejava em uma dor profunda.

Os drácons tentavam quebrar o escudo com seus punhais, eles socavam com força, e o garoto sentia o impacto dos golpes, eram como choques em seu corpo. Ele não ia mais suportar, até ouvir um trincar de vidro.

Legend - O Feiticeiro Azul ( Livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora