VI - O GUIA FELINO

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Lauren assistia às tentativas frustradas de Lú para pescar no rio. Ele realmente não tinha jeito com a coisa. Pescar com as mãos não era fácil, ele até conseguiu agarrar um peixe, abraçando-o, porém, escapou, fazendo a ninfa dar altas gargalhadas.

— Bem que você poderia me ajudar ao invés de ficar rindo de mim — disse Lú, impaciente.

— Eu não posso interferir no equilíbrio — respondeu ela.

Lú resmungou em voz baixa e voltou a sua atenção para a água, avistando um peixe entre seus pés. Estava pronto para agarrá-lo, até que a sua atenção foi quebrada por um barulho. Pareciam ser vozes em desespero. Ele olhou para o alto, para além das paredes de pedras.

— Está escutando isso? — ele perguntou.

— O quê? — Lauren parecia um tanto distraída.

Lú escutava com muita precisão. Eram gritos de desespero de mulheres e crianças. Isso o fez se lembrar do ataque em sua ilha. As lembranças vieram em um flash, misturando-se com as vozes em sua mente. Lauren chamava por seu nome, mas ele não ouvia. Apenas via uma cena aterrorizante.

Ele se escondia, abraçando suas duas irmãs embaixo de uma mesa. A sua mãe carregava uma faca e estava em pé à sua frente. A porta de madeira da casa tremia com as tentativas de arrombamento. Não ia durar muito. Logo a porta se foi ao chão e dois homens entraram. Eles eram fortes e carregavam uma pesada armadura de ferro. Lú estava com medo, com muito medo, e as suas irmãs choravam e gritavam.

Os dois soldados sacaram as espadas e a sua mãe ergueu a faca, segurando-a com as duas mãos. Os homens gargalhavam em zombaria. Lú sabia o que ia acontecer naquele momento. Sem piedade alguma, eles desferiram o golpe contra a pobre mulher. As duas espadas atravessaram o seu corpo, fazendo sangue espirrar contra as faces das crianças ali presentes.

Os dois homens pareciam impacientes com os choros das meninas, e assim que o corpo da mulher tombou no chão, eles olharam para o Lú, furioso. A espada ensanguentada refletiu a face amedrontada das crianças azuis. Era a vez deles. A espada foi erguida, e com força, mais uma vez foi desferida contra eles.

— Lú!

Lú acordou de seu devaneio ao ouvir a voz de Lauren gritando por seu nome. Ele olhou para ela, ainda atordoado.

— Está vindo alguém, esconda-se!

Lú nem quis protestar, saiu da água e seguiu a ninfa, procurando se esconder atrás de um arbusto. Lauren estava certa, um homem surgiu do meio das árvores. Ele parecia aflito e olhava para várias direções, pelo visto havia desconfiado da presença deles por ali.

O cabelo prateado balançava ao vento e a pouca luz do sol que penetrava naquele lugar iluminava o seu corpo. Para Lú, ele parecia uma criatura mística como a Lauren, apesar de dispersar mais luz que ela própria. O garoto procurou se manter em silêncio, controlando até mesmo a respiração, principalmente quando viu o jovem homem caminhar até a margem do rio.

O homem agachou, observando o chão molhado. Com uma mão no queixo alisando a barba rala, ele analisava com atenção aqueles rastros.

— Só pode ser a mesma pessoa da estrada — disse ele a si mesmo. — Me escutou chegar e se escondeu.

Ele levantou-se, olhando para os arbustos. Lú sentiu um frio na barriga ao vê-lo fitar o seu esconderijo, então engoliu em seco, tremendo de medo. O homem sacou a espada da bainha que levava na cintura, e caminhou lentamente naquela direção.

Lú não sabia o que fazer. Aquele homem podia matá-lo e o pior, se ele tentasse fugir seria pego. Ele se aproximava como um felino pronto para agarrar a sua presa.

Legend - O Feiticeiro Azul ( Livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora