04 - Sem querer, eu aborreço o meu diretor

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Eu fui para a escola com a cabeça doendo, pensando ainda no último pesadelo, e aliviado por saber que o meu pai viria nos visitar. Cumprimentei os meus amigos no campus e procurei com os olhos, sem saber bem o motivo, os três valentões encrenqueiros de ontem; eles não estavam por perto.

- Cara, você está péssimo – disse Natsuno, me fitando com uma sobrancelha erguida.

- Não tive uma noite muito boa – expliquei, mas decidi que não comentaria sobre o pesadelo. Poderiam pensar que eu apenas estava com medo depois da quase-briga de ontem, o que não era verdade.

A sineta soou. Meus amigos e eu entramos no pátio principal do colégio e estranhamos um amontoado de alunos perto de uma das paredes próximas à escada. Nos aproximamos e avistamos um anúncio num cartaz de papel, letras tão grandes que eu pude ler mesmo em meio à multidão:

48° CAMPEONATO DE ESPORTES ROBERTO MARTINS

INÍCIO: 27 DE MAIO

TODOS OS ALUNOS QUE IRÃO PARTICIPAR DO EVENTO DEVERÃO COMPARECER AO GINÁSIO AMANHÃ (29/04) ÀS 12h30 PARA AS INSCRIÇÕES.

A DIREÇÃO

- Eu estou muito ansioso para o começo do campeonato - confessou Natsuno, mostrando-se empolgado; subíamos a escada.

- É campeonato de quê? - perguntei.

- Cada sala pode ter vários times diferentes – Jake explicou, sua voz calma e suave. – Um time para cada modalidade diferente. Por exemplo: vinte garotos da nossa sala decidem montar um time de futebol, enquanto dez meninas decidem montar outro de handebol; outra pequena parte de xadrez, e/ou basquete, atletismo, vôlei, etc. São vários times num só.

- Entendi.

- Ah - ainda lembrou o grandalhão Joe, como se algo tivesse acabado de passar pela sua cabeça -, você pode, também, participar de duas modalidades diferentes ao mesmo tempo! Mas só duas.

- E as salas campeãs de algumas modalidades representarão a nossa escola no Torneio da Cidade entre escolas - inseriu Natsuno; a essa altura, já estávamos virando o corredor à esquerda.

- Que legal - admiti. Mas, na verdade, eu não estava nem um pouco entusiasmado. Não tinha amizade com ninguém na sala, a não ser com o Natsuno, o Jake, o Joe e, de uma forma estranha, com a Sophia. Eu poderia me inscrever pelo menos no xadrez, pois presumi que não precisava de equipe.

- Fica tranquilo, Dio – Natsuno pareceu perceber o meu desânimo -, você não vai ficar sozinho nessa. A gente chama você pro time de futebol.

Desde pequeno, eu amava futebol, e até era bom jogando. Mas foi o Natsuno quem me chamou, e não os outros garotos.

- Sem problemas, cara – forcei um sorriso, agradecido pela consideração. Natsuno até aqui mostrava ser um grande amigo.

E mais uma vez percebi que não tinha tanta sorte na escola.

Havia uma pequena elevação de altura entre o piso do corredor e o piso da minha sala. Uma pequenina rampinha minúscula exatamente na entrada. E adivinhem o que aconteceu? Tropecei ali e caí no chão da sala, atraindo todos os olhares possíveis.

Foi um mico tremendo. Senti o meu rosto aquecendo de forma apressada, uma repentina descoberta da sensação desconfortável de ser o centro das atenções por alguns segundos. Vários alunos riram em deboche, enquanto outros apenas me olhavam com sobrancelhas arqueadas. Eu não sentia dor, apenas não fiquei tão contente em cair daquele jeito na frente da classe inteira.

Caçador Herdeiro (1) - Vento Sufocante | COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora