A quem culpar pela morte de um grande amor? Você pode entender muito mais do que eu, mas aqui o caso é diferente. Ela poderia ter culpado o tempo, a vida sedentária dele, a situação complicada do relacionamento ou até a si mesma, mas era melhor responsabilizar o bebê indesejado que não podia reclamar.

Foi assim que passei parte da infância: com a responsabilidade de ter matado um pai e com o peso do desprezo, por quase dez anos, de uma mãe viva.

Eu entendo que a morte de Reginaldo transformou a vida dela, mas, muito mais do que isso, sentenciou a minha. Lis e eu nos resolvemos com o tempo e muitas sessões de terapia, mas eu ainda sinto o jeito que ela me olha às vezes, com se estivesse vendo ele. Eu sei o quanto ela ainda sente mágoa por Reginaldo não estar aqui.

Todo esse peso vai se afundando em mim a ponto de me deixar sem ar. Sabe quando uma crise de falta de ar aparece sem que você tenha feito qualquer esforço? Mas não é asma, é só uma sensação psicológica de sufocamento. Foi tentando evitar estar sempre sufocada que eu sai desesperada à procura de pessoas para manter por perto, mas eu nem sempre tenho um bom imã. Vic e Leo são exceções e talvez você.

Assim, acabei com tantos namorados ruins, mesmo que nenhum deles tenha sido como Alexandre.

Eu fico pensando que o problema não pode ser sempre dos outros, talvez tenha algo de errado comigo também. Talvez eu seja só alguém difícil de amar, que gosta de coisas complicadas e que já está tão acostumada a ser maltratada que inconscientemente procura por isso.

Não, não estou justificando as ações de Alexandre. Eu o odeio, principalmente, por ter me ajudado a ser alguém de que não gosto e por ter me usado de um jeito cruel.

Também não quero passar a imagem da coitadinha sofredora. Não é isso, Alex. O que quero dizer é que posso entender que o seu interesse tenha desaparecido. É justo!

Me vejo o tempo todo fazendo as escolhas erradas e pedindo desculpas ao tempo por estar sempre perdendo. Fiz uma escolha errada naquela noite e não posso ser perdoada. Então, eu te deixo desistir. Sobrevivemos por tempo demais nessa coisa estranha de emails.

Vê que faz algum sentido quando eu digo que não somos uma boa perspectiva?

Você é incrível e não merece ficar esperando na mesa arrumada de um bistrô por alguém que pode simplesmente não aparecer.

Com amor,
Lena
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Vinte e nove minutos depois...

De: lena.jun@mail.com
Para: alex.veiga@mail.com
Assunto: RE: Precisamos conversar

Alex????

Esteja aí ainda, por favor,
Lena
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De: alex.veiga@mail.com
Para: lena.jun@mail.com
Assunto: RE: Precisamos conversar

Achei que tivesse me despedido no último email, mas estou aqui ainda. Meio sonâmbulo e meio acordado, eu continuo lendo você.

Só precisei de um tempo para assimilar e também para reler algumas partes.

Eu disse que o sono me impede de ser coerente, mas está mesmo me dizendo que eu devo desistir de você, porque tem um histórico duvidoso de ex-namorados e problemas na família? É esse o grande motivo pelo qual eu devo justificar a minha suposta perda de interesse em você e em um novo encontro?

Isso é tão louco quanto parece ou sou eu que estou com dificuldade de entender?

Lena... Você é a pessoa mais incrível que já conheci através de emails, não que já tenha conhecido muitas pessoas desse jeito. E ninguém nunca foi tão envolvente e irresistível.

Com Amor, Lena [Concluído]Where stories live. Discover now