#68 (Sessenta e oito)

Começar do início
                                    

— Ei! Eu não faço esse tipo de coisa!

— Lena….

— Você disse que eu deveria tomar uma atitude e ir atrás dele, não foi? É o que eu tô fazendo.

— Você tá pirando.

— Eu preciso vê-lo.

— Não seria melhor ligar e ter certeza de que ele estará lá?

Acho que Vic também concorda com a minha teoria de que Alex pode ainda estar na casa de alguém que conheceu ontem ou nas últimas semanas. Nós paramos de falar sobre outros encontros há algum tempo, então há chances disso acontecer. Eu poderia perguntar se ela sabe quem é essa pessoa nova com quem ele tá saindo, mas vou parecer tão ridícula. É, ela tá certa, eu estou pirando.

— Posso ligar para ele, mas tô longe demais para voltar. Não tô falando de casa, tô dizendo sobre tudo. Não dá para esperar mais.

— Eu sei. Só vai com calma, ok?

— Vou assustá-lo se aparecer agora, não vou? E se ele não estiver sozinho lá ou ainda não tiver voltado do encontro que ele teve ontem. Ah, Vic! Eu vou morrer se isso acontecer.

— Encontro? O que é que… Lena!

— Eu sei que tô fazendo tudo errado, mas só preciso ir até lá, conversar e talvez dizer a ele que eu o amo. É isso.

— Por que não deixou o carro no shopping e pegou um táxi? Podia ter me esperado e eu te levava.

— Eu não pensei! Você disse que eu não deveria pensar tanto, então eu só fiz a primeira coisa que veio na minha cabeça. Não, você não tinha que estar aqui.

— Puta merda! Só espero que chegue inteira. Por favor, ligue, mande uma mensagem, um e-mail, mas deixa ele saber que você tá indo. E não bata a droga do carro, porque….

Ela continua falando, mas meu dedo se arrasta com peso demais pela tela e desligo sem perceber. De novo. Vic vai me matar por causa disso.

Certo, eu preciso avisar e saber se ele está em casa. Também preciso pensar um pouco, mas não muito. Só o tantinho suficiente para não convencer a mim mesma de que essa é uma péssima ideia, porque eu disse a ele ontem que nosso encontro não era uma prioridade.

Eu sou uma mentirosa! E a culpa é de Alex, porque ele tem aquela coisa maravilhosa e contagiante. Como fez quando assistimos aquele filme péssimo que prefiro nem ficar lembrando. Ele me fez acreditar que poderia ser incrível ter um encontro à distância, mesmo que fosse completamente sem lógica. Ele também conseguiu me contagiar sobre termos uma nova forma de nos comunicar agora e frustrou mais uma tentativa de um novo encontro.

Pisco e ainda estou no mesmo lugar, encarando a tela escura do celular. Vic não liga novamente e eu continuo no mesmo lugar.

Aperto o botão para o histórico de chamadas e Alex está lá. Não foi um sonho, uma fantasia ou uma mentira.

Inspiro pesadamente e olho o movimento da rua. Há pessoas correndo com cachorros e eles nem desconfiam que uma mulher está tremendo dentro do carro e não é de frio. Aperto os olhos, a voz de Alex me manda pegar o telefone.

Ele já tinha meu número e só esperava pelo momento em que eu pediria.

Seguro o celular contra meu peito e peço baixinho: esteja em casa, Alex.

A chamada não completa, porque desligo antes. Não consigo fazer isso, a minha voz vai se recusar a falar.

Eu vou mandar uma mensagem. Sempre fizemos desse jeito, não vai parecer anormal enviar um SMS inofensivo e habitual. Não tão habitual, já que nunca trocamos mensagens SMS. Mas uma ligação faz com que estejamos alguns degraus acima na escada do nosso relacionamento, então é justo.

Com Amor, Lena [Concluído]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora