#68 (Sessenta e oito)

Começar do início
                                    

Engato a primeira marcha e acelero depois de o sinal ficar verde. Meus dedos estão tremendo e deslizando pelo volante. Meu peito está latejando, batendo tão forte quanto um bumbo.

Não sei se consigo.

A buzina estridente me lembra de que preciso pegar a esquerda e virar no próximo retorno, porque não estou indo para casa.

Talvez casa não seja necessariamente um lugar, pode ser uma sensação. Ou um cara grande que gosta de usar meias dentro de casa, de filmes velhos e ruins, de escrever emails longos e de um cachorro que não é exatamente dele. E isso é tão assustador.

Quero dizer, com Alex eu me sinto em casa, literalmente, da mesma forma: segura, inquieta e aconchegada.

Eu fico me perguntando quando foi que tudo aconteceu. O exato momento em que deixamos de ser a louca da jaqueta e o cara estranho que recebeu a mensagem por engano para virar Alex e Lena.

Não, eu sei sim. Foi naquela viagem dele à Portugal, no meio de todo o meu ciúme ridículo por Sandra. Ali entre o desejo de que ela se perdesse junto com a bagagem e minha vergonha em admitir isso.

Depois de tantos emails, um encontro frustrado e todas as recusas dele em sair comigo, eu posso pensar que amo Alex Veiga. Do jeito mais estranho que isso parece. Sem nenhuma certeza de como ele se parece, mas amo o barulho que ele faz antes de rir, o jeito com que ele boceja, o som da sua respiração no telefone e como muitas coisas são ditas assim e, principalmente, o modo como ele diz meu nome.

Então é isso: tudo mudou naquela viagem e de fato se tornou algo bem concreto ontem.

E agora também o amo ainda mais por ele ser o cara na frente do café.

Por semanas eu fiquei pensando naquele homem e em como ainda existiam pessoas gentis no mundo. As suposições não foram muito longe, porque não fazia sentido continuar analisando uma situação tão comum, não havia a menor possibilidade de ligar a gentileza de Alex ao responder aquele email à daquele homem que cedeu o táxi para uma desconhecida.

Jamais imaginaria que ele era tão importante. É até meio vergonhoso admitir isso, mas se me pedissem para apontar Alex no meio de várias pessoas, com certeza eu escolheria o homem errado. Nunca passou pela minha cabeça que ele fosse tão alto ou que tivesse olhos tão sinceros, essas foram as únicas coisas que chamaram a minha atenção naquela noite confusa. Seria muito cruel exigir mais do que isso.

Ouço o meu celular vibrando no banco e o nome de Vic aparece na tela:

— Você quer me deixar maluca? — Afasto o telefone do ouvido e ainda assim ela continua gritando — Lena!

— Eu tô bem, Vic — Apoio o celular entre o ombro e o queixo, enquanto tento levar o carro até uma rua mais sossegada.

— É claro que você não está! A gente estava conversando e de repente você desliga o telefone na minha cara e some.

Sabia que ela ia reclamar por eu ter desligado sem me despedir.

— Me desculpa, foi o choque da notícia.

Era uma notícia grande demais para assimilar tão rápido.

— Você vai mesmo atrás de Alex? — Ela diz e eu encosto a testa do volante. Sei o que essa pergunta significa: Vic acha que não é uma boa ideia.

— Talvez ele nem esteja em casa.

Talvez ele tenha ido tomar café com a irmã ou simplesmente esteja na casa de alguém que ele conheceu ontem à noite.

Ah, meu Deus! Eu estou sendo tão idiota.

— Esse é meu maior medo. Você vai ficar muito mal e vai começar a inventar um monte de desculpas e interpretações malucas só pelo fato de ele não estar em casa. E sabe o que acontece depois?

Com Amor, Lena [Concluído]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora