Gelo por todos os lados

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Diário de Bordo, dia 360 após a perda da comunicação

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Diário de Bordo, dia 360 após a perda da comunicação.

Aqui é o Comandante Rafael Lisboa da missão Sobrevivência, e essa é a entrada de número trezentos e quarenta e nove após a perda de todas as comunicações com a civilização.

Já não sei mais se alguém está me escutando em algum lugar, ou se fomos apenas exilados para esse inferno gelado... Mas se você estiver me escutando, nós precisamos de ajuda.

Acredito que agora estamos perto do natal do ano 2026, e tudo o que sabemos é que um meteoro caiu no planeta Terra e as pessoas começaram a ficar doentes. Alguns dias após sabermos disso fomos instruídos a permanecer aqui e não voltar para casa até segunda ordem.

(Pausa)

Faz mais de um ano que não vejo minhas filhas... Garotas, eu sei que prometi que não abandonaria vocês após a morte de sua mãe... Comportem-se com a vovó. Espero que vocês me perdoem algum dia...

(Suspiro)

Me desculpem por essa última parte. 

Fim da transmissão.

***

Rafael desligou o rádio comunicador barra gravador, secou uma lágrima chata que começou a cair quando ele falou sobre suas filhas e saiu de seu quarto na estação Salvation.

Um ano e meio antes, em uma última tentativa desesperada das Organização das Nações Unidas vários oficiais das forças armadas de todos os países foram enviados para tentar colonizar os pólos, ou que ainda sobrava deles, e tentar de alguma forma impulsionar a economia. 

Nunca explicaram corretamente qual seria o propósito da missão, apenas deram as ordens e eles obedeceram. 

Tudo o que Rafael sabia a essa altura era que todas as pessoas enviadas tinham entre vinte e sete e trinta e cinco anos, e que agora eles estavam sozinhos, abandonados a sua própria sorte. O especialista em comunicações da missão conseguiu captar sinais de transmissões sobre um meteoro que havia caído próximo a África e várias mortes estranhas que haviam começado a acontecer em todo o mundo. Pouco tempo após isso eles receberam a última comunicação de seus superiores dizendo que não era seguro voltar para casa e que eles deveriam permanecer onde estavam até segunda ordem.

Isso havia sido há quase um ano, e apesar de suas ordens iniciais, agora tudo o que eles tinham para fazer era tentar sobreviver e aguardar.

Rafael saiu da estação e encontrou Steve, o americano loiro e grande,  montando guarda, como sempre.

_Bom dia Steve.

_Good Morning Rafael.

Rafael sorriu. Ainda era estranho manter uma conversa em mais de um idioma.

_Alguma novidade?

_Nothing.

_Ok. Entra, deixa que eu fico de aguarda agora.

O americano sorriu e agradeceu sem sequer pensar duas vezes. 

Após ficar sozinho Rafael olhou a sua volta e suspirou mais uma vez. Aquele lugar era bonito demais e ao mesmo tempo tenebroso ao extremo. Por quilômetros não era possível ver nada além de um deserto branco e gelado. 

As portas da estação de abriram e Luena, a angolana, saiu de lá, se abraçando em uma tentativa de se aquecer.

_Olá Rafael.

_Olá Luena. 

_Precisamos conversar sobre algo.

Rafael sorriu para ela.

_Claro, sobre o que?

_Acredito que descobri o motivo de termos sido enviados para cá.

Rafael engoliu em seco. Ele tinha suas próprias suspeitas, mas esperava estar errado.

_E qual você acha que foi o motivo?

O solo tremeu, tirando a atenção de ambos. Rafael correu até as portas, mas elas não se abriram.

_Droga!

_O que houve?

_As portas travaram, não sei o que aconteceu.

_Tenta o rádio.

Rafael levou a mão até seu cinto, mas não encontrou o dispositivo.

_Não posso, ficou lá dentro.

Luena se sentou no chão, encostada na porta enquanto Rafael batia com desespero na escotilha.

_Eu acho que eles sabiam sobre o meteoro...

Foi apenas um sussurro, mas Rafael parou de esmurrar a porta e se voltou para Luena.

_O que?

Ela olhou diretamente em seus olhos, como se não quisesse repetir o que havia dito.

_Eu acho que eles sabiam sobre o meteoro, e por isso nos enviaram para cá. 

_Isso não é possível.

_Pense a respeito... Aqui as possibilidades de sobrevivência são maiores se o meteoro tiver trazido algum vírus, e todas as pessoas que foram enviadas tem as idades propícias para a reprodução.

Alguém bateu na porta pelo lado de dentro, fazendo sinal para Rafael de que eles já estavam trabalhando para abrir a porta, mas ele registrou pouco da situação. 

Tudo se encaixava perfeitamente, mas ainda não fazia sentido... Porque eles mantiveram segredo de todos os oficiais enviados?

A porta começou a se abrir e tudo o que Rafael conseguiu fazer foi segurar o braço de Luena.

_Não conte isso para os outros. Ainda não. 

Sobrevivendo no fim do mundo - Livro 2Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt