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A Urucumbo

  Estavam diante do ser mais temido de Ogash, uma nojenta, facínora, uma assassina a sangue frio. Capaz de mutilar bebês por diversão. Tinha como hobby arrancar os olhos de animais vivos, animais capazes de falar. Comia carne humana, bebia pus de seus próprios machucados e lambia sua parte íntima só pelo prazer de sentir o gosto podre expelido em tons brancos e esverdeados.    

  Então, a mulher virou-se lentamente, fixando o olhar em cada um deles. Elizabeth olhou rapidamente para Ara, os olhos da fada escorriam lágrimas de ódio, sua pele branca estava vermelha, os punhos apertados e o punhal em mãos, pronta para qualquer ataque.

  – Pensei que seu povo tinha se dissipado querida... – A Urucumbo esboçou um sorriso largo de dentes podres e quebrados.

  Os olhos de Liz e Afonso doeram ao colidir com a mulher horrenda, ereta a menos de cinco metros de distancia dos mesmos. Parecia realmente um demônio, mas esse até pior. Seu rosto era da cor de carne podre, os olhos não possuíam pupilas nem íris, era tudo branco, trajava um vestido preto como a capa, porém rasgado, deixando a mostra grande parte das coxas e um dos seios derriços. O queixo era largo, quase não tinha cabelos, o nariz parecia estar decepado e as orelhas desfiadas. Os pés estavam tortos, quebrados e rasgados, suas unhas eram enormes e as mãos ossudas e enrugadas. Sem dúvidas, a Urucumbo era a coisa mais repulsiva e horrenda que os três já tinham visto na vida.

 –Acerte ela com a flecha Afonso! – Liz gritou.

  – A Elementure está com medo? Medo de mim? Ora essa, acho que essa profecia foi muito mal feita... – A voz rouca da velha estrugia na sala pouco iluminada.

  – Cale a boca demônio! – Ara berrou numa transpiração inacabável, suas gotas de suor já pingavam no chão.

  Elizabeth assustou-se com o grito, levantou a lança na direção da Urucumbo e repetiu:

  – Atire Afonso!

Ao fitar o rosto pálido do arqueiro, a menina viu que o mesmo estava imóvel, assustado, em um transe temível. Só então Liz soube o porquê dela ser a garota da profecia. Era enérgica, ousada e valente. Ainda mal se conhecia, não chegava a ter uma personalidade própria, porém não sabia que se descobriria nas piores situações.

  – Seus amigos estão com medo... – Sua voz soou como uma cobra. – Te deixaram indefesa...

  – Cale a boca encardida, não se aproxime de mim!

  – Nossa – a velha deu dois passos lentos para frente –, está ficando bem corajosa... Pena que isso não serve de nada!

  – Não chegue perto de mim!

  O demônio sorria feito uma louca. Não deu ouvidos a Liz e andou na direção da mesma, num mancar de pernas repugnante. Chegou ainda mais perto e quando se deu por convencida tornou a falar enquanto rondava a menina:

  – Como você está branca – gargalhou –, precisa tomar um sol... Ah, esqueci-me que agora o céu é só nuvens cinzas e negras... Sabe, bem da cor de minha parte íntima...

  – Eca – Liz quase vomitou em pensar. – Sai de perto de mim... – Esquecera de que segurava a lança, agora a arma já estava reclinada no assoalho e não seria fácil cravá-la na Urucumbo.

  – Aposto que não tem coragem de me matar... – Abusou parando em frente à Liz.

  – Não tenha tanta certeza! – De súbito, a menina levantou a lança e aponto para o coração da velha, isso se a mesma possuía coração.

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