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Alguns Dias em Novo Ogash

   – Vocês parecem famintos e cansados – o guepardo falou. – Não acha melhor conversarmos mais tarde? Não é só a Senhorita que quer uma explicação!

  – Ah, claro – Liz exprimiu desanimada, mesmo estando com sono e com um apetite enorme, ainda queria saber o que estava acontecendo.

  – Sigam-me! – Moglim os chamou enquanto andava na direção da boca da floresta.

  Os dois acompanharam o animal sem dizer uma só palavra, talvez por não terem assuntos adequados ou até mesmo por falta de vontade, estavam tão entretidos com a beleza da câmara que pouco se preocupavam com o que estava acontecendo. Liz fitou o corpo magro do guepardo, sem dúvidas, ela pensou, não comia carne há tempos, pois se ele falava sua presa também poderia falar. Contemplou as pintinhas estonteantes de preto e cinza espalhadas pela pelagem amarela de Moglim, uma cor tão viva que chegava a refletir nos olhos. Elizabeth nunca vira um daqueles animais, apenas ouvira falar que eram parecidos com onças e leopardos, e também que era o animal mais veloz do mundo. Após andarem numa trilha já iluminada pela magia e verem muitíssimos animais falantes, que os cumprimentavam com "bom dia!" ou "olá!", chegaram os três em uma gruta de pedra, constituídas por duas chapas, na qual formavam um triângulo reclinado na parede do amplo salão. Abaixaram o pescoço para passar sob a entrada e chegaram em uma caverna muito bem iluminada e aconchegante.

  – Então é aqui que o Senhor mora? – Afonso perguntou enquanto tirava a aljava das costas e o arco do tronco.

  – Aqui mesmo! – A voz do guepardo saiu educada e calma.

  Liz nada disse até então, apenas fitou a os pequenos móveis espalhados no quartinho de pedra. Sua mãe ensinara que era má educação ficar olhando do chão ao teto na casa dos outros, mas nunca evitava, aonde chegava observava tudo, e foi aí que a menina familiarizou-se com a caverna, avistou um tapete indiano forrado na terra escura e solada (onde ele arrumara o tapete ninguém sabia), contemplou no canto esquerdo do quartinho um monte de panos, que concluiu ser a cama do guepardo, mirou uma mesa de madeira cheia de coisas, um armário com duas portas e vários entulhos espalhados no assoalho.

  – Sua casa é muito confortável – Liz, enfim, manifestou-se, quebrando um silêncio profundo enquanto o animal caminhava na sala em busca de comida.

  – Muito obrigado Senhorita! – Agradeceu ao abrir com a boca as portinholas do escaparate.

  Elizabeth respondeu sorrindo. Olhou o rosto preocupado de Afonso, contemplou-o  por longos segundos, mas a dispersão foi encerrada quando o arqueiro pareceu mexer a cabeça, o que a fez subitamente arquear os olhos para que ele não percebesse que ela o fitava.

  – Bom, não tenho muita coisa para oferecer vocês, mas acho que não vão se importar em comer arroz e repolho, não é? – Moglim tentou ser simpático, porém já sabia que os humanos comiam diversas coisas.

  – Para ser sincera, adoro repolho e arroz! – Liz sorriu tentando desfazer o clima desagradável que rondava o animal.

  – Que ótimo – ele animou-se. – Sirvam-se a vontade! – Ao dizer tais palavras, empurrou com uma das patas dianteiras um saco de arroz de dentro do armário. Afonso apressou-se e pegou-o, antes que a extremidade virasse e entornasse tudo no chão. Novamente, o guepardo deu outra patada dentro do armário e uma cabeça de repolho rolou sob o tapete. Liz agachou e o pegou.

  – Não parece ser ruim! – Afonso elogiou enquanto jogava dois punhados de arroz em um prato de barro. – Pelo contrário, é bem gostoso! – Mastigou os grãos de arroz.

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