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O Grande Feitiço

  Ninguém imaginara que isso tudo podia acontecer, não havia sentido, ou melhor, parecia não haver sentido. Já estava há três dias em Ogash, ou há cinco anos, mas em fim, estava ótimo de mais pra ser verdade. Tinham tudo na cabeça: caminhariam até o Pico dos Lobos, apanhariam o livro de Sophia, transpassariam o Monte de Ágzul e chegariam a Éron sem delongas, mas sempre algo acontece. Cona invocou um dos feitiços de incitação, com a intenção de instigar a chegada da Dama de Ogash, preparando todo o reino para a mesma.

  Afonso e Elizabeth nunca ficaram tão assustados, primeiro ao ver a neve cair como chuva lá fora, segundo ao arqueiro olhar a nova aparência da Elementure.

  – Não é possível... – Afonso retorquiu. Estava deitado de barriga para baixo, levantou a cabeça lentamente e quando viu o corpo branco de Liz quase gritou.

  – O que aconteceu? – A menina indagou confusa. Não se vira ainda.

  – Você... – Afonso engatinhou para perto da mesma. – Você está... – Deu uma das mãos para Elizabeth. – Está branca! – Quase sussurrou.

  A Elementure não entendeu, sua expressão ficou confusa. Tentou levantar, mas seu corpo doía.

  – Fomos pegos de surpresa... O que vamos fazer? – Liz ignorou o que Afonso dissera, pensou que ele referia-se a neve.

  – Temos que sair daqui... Rápido... – Afonso sibilou arqueando o pescoço na direção de Cona, que tentava levantar-se a todo o custo.

  Todos estavam atordoados, a luz do feitiço fora tão grande que lhes percorreu todo o corpo. A feiticeira levantou-se e logo estava erguida, firme como um dragoeiro. Sua expressão alegre exalava ódio por todo o Chalé.

  – O que acham crianças? Não sou ótima com feitiços? – Ela gargalhava enquanto ajeitava seu vestido em seu largo quadril.

  Afonso levantou-se em seguida, dando a mão a Liz. Ergueram-se cambaleando e sentiram os primeiros sinais do frio percorrer-lhes a nuca.

  – Desgraçada! – Afonso gemeu.

  Liz, ainda sem forças, pendurou-se nos ombros do arqueiro e só aí pode ver o que acontecera com ela.

  – Estou branca? – Com dificuldades, olhou seus pelos dos braços e os cabelos, tão brancos quanto à neve que caíra. – O que você fez comigo? – Gritou para Cona.

  – Isso eu já esperava – disse nem um pouco surpresa. – Esses feitiços sempre têm efeitos colaterais – sorriu sarcástica. – Eu sempre achei pessoas albinas muito bonitas!

  Se fosse da vontade de Elizabeth, já tampara uma rajada de fogo na cara de Cona, mas os poderes nem se quer manifestavam-se.

  O que acontecera ali nada mais era do que um feitiço, O Grande Feitiço das Sombras de Inverno, capaz de congelar um mundo inteiro. Elizabeth nem se quer sabera o que tudo isso significava, mas quando encontrasse o livro de Sophia tudo seria explicado, mas antes, tinham de vestir alguns casacos e fugir do Chalé o quanto antes e só depois ir atrás do calhamaço, que agora já duvidavam se realmente estaria no Pico dos Lobos, já que Cona sabera muito bem sobre a Elementure.

  – O que quer de nós? – Afonso quebrou um silêncio odioso.

  – A pergunta é: O que não quero de vocês... Bem... Já sabem que minha rainha chegará mais rápido com o grande inverno, pois então, não quero muito, a única coisa que peço é que não selem o portal... – A feiticeira proferiu com sua voz gritante, como se tudo fosse simplesmente fácil.

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