CAPÍTULO XLVIII

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Um Primo de Virgília

— Sabe quem chegou ontem de São Paulo? perguntou-me uma noite o Luis Dutra.

O Luís Dutra era um primo de Virgília, que também privava com as musas. Os versos dele agradavam e valiam mais do que os meus; mas ele tinha necessidade da sanção de alguns, que lhe confirmasse o aplauso dos outros. Como fosse acanhado, não interrogava a ninguém; mas deleitava-se com ouvir alguma palavra de apreço; então criava novas forças e arremetia juvenilmente ao trabalho.

Pobre Luís Dutra! Apenas publicava alguma coisa, corria à minha casa, e entrava agirar em volta de mim, espreita de um juízo, de uma palavra, de um gesto, quelhe aprovasse a recente produção, e eu falava-lhe de mil coisas diferentes, — do último baile do Catete, da discussão das câmaras, de berlindas e cavalos, — de tudo, menos dos seus versos ou prosas. Ele respondia-me, a principio comanimação, depois mais frouxo, torcia a rédea da conversa para o assunto dele,abria um livro, perguntava-me se tinha algum trabalho novo, e eu dizia-lhe quesim ou que não, mas torcia a rédea para o outro lado, e lá ia ele atrás de mim,até que empacava de todo e sala triste. Minha intenção era fazê-lo duvidar desi mesmo, desanimá-lo, eliminá-lo. E tudo isto a olhar para a ponta do nariz...

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora