Os amigos de Sempre

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Do svidaniya, Carol. – ele falou e entrou na casa.

— É Coral. – resmunguei pra ele, mas já não estava lá.

Antes de descer dei uma espiada por minha janela, Toby ainda dormia e tudo parecia tranquilo, então desci e bati na porta das Amanda's e cachorros começaram a latir me fazendo se afastar da porta. A Amanda mais magra abriu a porta e vi cinco terrier francês balançando as caldas alegremente ao me ver.

— Coral, esperava você só mais tarde.

— Tenho planos pra mais tarde, desculpa. – falei e continuei parada na porta enquanto os cachorrinhos pulavam e me lambiam.

— Entre. – ela falou e tirou os cachorros de cima de mim que correram pros outros cômodos da casa. A outra Amanda estava sentada no sofá lendo uma revista e parou ao me ver ali.

— Você está adiantada. – ela deu um sorriso.

Comecei a ficar constrangida por estar ali e queria sair logo, lá fora o sol começava a baixar, o tempo começava a passar rápido e logo seria noite.

— Não posso vir mais tarde. Tenho compromisso. – quando falei isso as duas se olharam desconfiadas e depois voltaram seus olhares para mim. Eram tão lindas que quase fiquei hipnotizada.

— Qual seria esse compromisso? – A Amanda magra perguntou.

— Não estaria relacionado com a Floresta, está? – A outra Amanda perguntou e aquilo me fez ficar surpresa. Como elas poderiam saber? Tentei parecer o mais normal possível, não podia confiar nas pessoas, mesmo tendo a sensação de que elas eram minhas melhores amigas.

— Não, não, na realidade tenho um encontro. – foi a única coisa que me veio à cabeça.

— Nossa!! E quem seria o sortudo? – A Amanda baixinha perguntou.

— O nome dele é Jack. – falei e me arrependi no mesmo momento.

As duas se olharam novamente, dessa vez parecia segurar a respiração como se fosse o fim do mundo.

— Onde você conheceu ele? – as duas perguntaram ao mesmo tempo.

Lembrei de onde havia conhecido ele e não queria que elas soubessem, então resolvi mentir e tentar descobrir o que elas sabiam sobre ele.

— Aqui mesmo na frente da casa, e como não conhecia mais ninguém resolvi dar uma chance.

— Mas você conhece outras pessoas. – A Amanda alta falou.

— Nós, Balt... – A Amanda baixa completou.

— Tudo está confuso em minha cabeça. – parei por um segundo. – Espera um pouco. Encontrei um garoto que se chama Balt hoje, mas ele tratou como se não me conhecesse e vocês...

— Talvez todos nós nos conhecemos de uma outra vida. – as duas falaram ao mesmo tempo e começaram a sorrir, aquilo estava começando a me irritar.

— Mas vocês conhecem o Jack?

— Sim, sim. Ele já foi nosso amigo muito tempo atrás.

— Mas ele escolher seguir por um outro caminho e hoje ele não é bem vindo aqui na vizinhança.

A forma que elas falavam era como se quisesse quem eu desistisse agora mesmo de ver o Jack, apesar de ser uma mentira, nunca quis tanto encontrar com ele. Sentia que todos ali estavam zombando ou rindo da minha cara, mesmo que não fosse isso, mas Jack era o único que não parecia esconder tanto algo, sabia que ele também escondia, mas ele deixava isso claro.

— Então, preciso ir. – falei e andei em direção a porta.

— Não confie nele. – apenas uma delas falou isso, mas não pude ver qual, já havia virado as costas e não olhei para trás.

As luzes da casa estavam acesas e o céu já estava bastante escuro, mas um triste pôr-do-sol ainda era visível no horizonte, se tinha um momento para entrar na floresta esse momento era agora.

Passei pela casa da Dra. Elza e novamente tudo escuro e silencioso, era como se ninguém morasse ali, quando voltei pra casa imaginei que teria que lidar com os olhos perseguidores dela, mas era como se ela não desse importância, ou poderia estar bastante ocupada. Eu era uma das pacientes mais perigosas do hospital e agora estava ali, livre e sem ninguém para me observar. Talvez não fosse mais uma ameaça, não estava mais louca e fantasiosa, tudo estava normal.

Entrei na floresta e tudo estava tranquilo, a nevoa estava por toda parte e estava mais frio do que lá fora, peguei umas luvas que estavam dentro do bolso do casaco e coloquei para não ter os dedos congelados. Comecei a caminhar em frente, estava bastante escuro e nem mesmo a luz da lua estava forte o suficiente para entrar por entre as arvores. Liguei a lanterna do meu celular e continuei a caminhada.

Estava próximo do poço e comecei a olhar com bastante cuidado para não cair e algo então me chamou a atenção, logo lá na frente uma luz brilhava, laranja e flamejante. Era uma fogueira no meio de uma pequena clareira, desliguei a luz do celular e me aproximei devagar, o que quer que estivesse acontecendo ali não parecia ser coisa boa. O ar parecia mais denso e sufocante, era uma energia bastante negativa que emanava daquela região. Se Jack estivesse ali, as Amanda's estariam certas sobre ele. A medida que me aproximava podia ver tudo com mais clareza e um barulho peculiar me chamou a atenção. Era o choro de um bebê. Então fui mais rápido ainda e me deparei com a pior cena que poderia imaginar.

Era a Dra. Elza, estava pelada, os cabelos brancos arrastando no chão e ela parecia tão velha e debilitada que era de se assustar, no seu olho havia uma flor e o outro era normal. Ela não havia me notado e então pegou um bebê que estava em uma cesta no chão e o levantou, como se estivesse o apresentando para a Lua, depois o colocou novamente na cesta. O cheiro que vinha daquele local era de coisa antiga, podre, me fez querer vomitar. Dra. Elza caminhou em volta do bebê e pegou uma vara que estava no chão e começou a passar entre suas pernas, em suas partes intimas, naquele momento pensei que aquilo seria a pior coisa que veria, mas então, ela pegou a vara e tacou na criança e rapidamente avançou para cima dele e começou a comer suas carnes. Eu não sei se gritei, ou se fiz barulho, mas algo aconteceu que a fez me olhar nos olhos com fúria. Senti minhas pernas se moverem, estava correndo, não conseguia ver a direção, não lembrava se o poço estava ali, lágrimas saiam dos meus olhos.

"Não é um sonho"

Queria que aquilo fosse um sonho.

"Não é um sonho"

Porque não acordava daquele pesadelo horrível? Não era um sonho não era um sonho não era um sonho. E então me bati em algo.

Olhos verdes me encaravam, a pele era tão branca que parecia um fantasma, os cabelos negros pareciam pelugem de corvo flutuando suavemente em sua cabeça. Seu olhar era de alivio, mas ao mesmo tempo preocupação, parecia feliz por um lado e por outro, parecia que iria me matar. Aquele garoto era meu melhor amigo, e se tem uma coisa que não havia esquecido, era como o meu coração batia quando estava perto dele. Tive forças para pronunciar seu nome.

— Rudy.

E então, tudo ficou escuro. 

Coral RosesWhere stories live. Discover now