Capítulo 15

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A vida é mesmo feita de altos e baixos, pensou Margarida, ao receber uma mensagem da irmã, através do e-mail da empresa, informando que, talvez, não pudesse vir a São Paulo.

Desde o falecimento da mãe, há mais de três anos, Margarida não tivera tempo de ir a Gramado, algo que quase não conseguia se perdoar. Mas o pior de tudo era a falta de comunicação com Suze, pois sem um telefone fixo em casa, a garota muito raramente entrava em contato. E mesmo depois de Suze ter ganho um aparelho celular do pai, em seu último aniversário, elas quase não se falavam, tendo em vista sua correria no escritório e as frequentes mudanças do número do telefone da irmã caçula.

Porém, agora que entraria de férias, ela desejava compensar todo aquele tempo ausente, e planejara um monte de coisas para fazerem juntas, durante o período que a garota ficasse em São Paulo. Combinara de ir buscá-la em meados de dezembro, quando Suze ligara, poucos meses atrás. A menina passaria, ao menos, dois meses em sua casa.

O que será que está acontecendo?, perguntou-se, antes de enviar uma mensagem em resposta, apelando que Suze viesse pelo menos para as festas de Natal e fim de ano. Depois, tentara mais uma vez falar com a irmã através do número do celular que ela havia lhe passado em seu último contato, mas, como sempre, o aparelho só dava sinal de ocupado ou fora da área. Por fim, deixou um recado no inbox do perfil que a garota havia criado recentemente numa rede social, embora o mesmo parecesse em desuso, já que a última atualização fora feita, justamente, apenas alguns dias depois de sua criação.

E quase duas se passaram sem nenhuma resposta da garota, o que estava deixando Margarida completamente angustiada. O que será que está acontecendo?, tornou a se perguntar.

— Humm... Que carinha é essa? — perguntou William, ao entrar em sua sala e vê-la abatida. — Algum problema?

— Não, não. Está tudo bem — respondeu de forma automática, quase robotizada.

— Não é o que parece — disse ele. — Por que não me conta o que está lhe preocupando?

Ela esboçou um sorriso e procurou parecer o mais convincente possível.

— Está tudo bem. Sério.

Calmamente, William sentou-se na poltrona à frente da escrivaninha dela e alertou, com um olhar sério:

— Ei, não tente me enganar com esse sorriso falso. Eu a conheço bem demais para isso.

Ela aceitou aquilo. Estava, de fato, muito angustiada para conseguir disfarçar.

— É a minha irmã... Eu acho que... Eu sinto que ela não está bem.

As sobrancelhas dele se convergiram suavemente para o centro da testa.

— E por que você acha isso?

— Eu não sei. — As lágrimas afloraram rapidamente, mas ela conseguiu controlá-las. — Apenas sinto que há algo de errado. Temo que... — Parou de falar e baixou a cabeça.

— O quê...? O que você teme?

Ela apertou os olhos com força, para evitar que as lágrimas derramassem.

— Por que não me conta o que está acontecendo? — sugeriu ele mais uma vez, após levantar-se e conduzi-la até um pequeno sofá de dois lugares que havia num canto da sala.

Margarida tornou a baixar a cabeça e manteve-se em silêncio.

— Você não confia em mim?

Após um instante de hesitação, ela apenas respondeu:

Impossível esquecerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora