Capítulo 7

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Dezembro...


Devido ao acidente ocorrido com o filho, o fim de ano anterior tinha sido um terrível pesadelo. Mas aquele seria diferente, prometeu Eloísa a si mesma. Muito diferente.

Ela e Otávio queriam apagar aquelas lembranças ruins do acidente de suas mentes, preparando uma grande festa para o Natal e para o Réveillon, embora, por exigência de William, apenas os familiares e mais um seleto grupo de amigos foram convidados.

Margarida também fora convidada e estava muito ansiosa e feliz. Afinal, apesar de tudo o que vinha enfrentando, muita coisa havia mudado em sua vida naquele ano. Além disso, ela não iria passar o Natal e a véspera de Ano Novo sozinha, como havia imaginado. Também conseguira economizar bastante nos últimos meses para comprar o enxoval do bebê e alguns presentes.

Na antevéspera do Natal, pediu permissão à família Fraga para sair mais cedo e foi fazer suas tão sonhadas compras num shopping, onde adquiriu um belo vestido para Suzane e também um jarro colorido para a mãe e outro para Eloísa.

A seguir, rodou durante horas pelo shopping até encontrar uma gravata de seda para Otávio. Comprou ainda um presente especial para William: uma medalha de prata que tinha esculpido o rosto de Jesus Cristo, e ela mandou gravar, no verso, uma mensagem de fé: "Jamais desista de seus sonhos, William!".

Depois, finalmente, comprou as roupinhas para o neném: macacõezinhos, sapatinhos, meinhas e vários conjuntinhos nas cores verde, branca e amarela.

Se ele for parecido com o Marcos, pensava, será um lindo menino.

Ela tinha quase certeza de que seria um menino, muito embora o último ultrassom não tivesse revelado o sexo do bebê. Estava com quase oito meses de gestação agora, e, desde que contara sobre a gravidez a William, a barriga havia crescido muito. Era como se o bebê estivesse apenas aguardando que ela falasse a verdade para começar a crescer.

Véspera de Natal...

Aos poucos, os convidados foram chegando e logo já se podia ouvir vozes e risos abafados por todos os cantos da casa. Porém, Marcelo, o irmão mais velho de Otávio, ficou encostado num canto isolado da sala, enquanto tragava seu cigarro e, de vez em quando, bebericava o uísque em seu copo.

Margarida e William encostaram ao seu lado.

— Como vai, doutor Marcelo? — perguntou ela.

— Estou bem, obrigado. E vocês?

— Nós estamos bem — respondeu com um sorriso, ao perceber que ele estava se referindo também ao bebê.

William cumprimentou o tio com um sorriso descontraído e um demorado aperto de mão.

— E aí, tio, como tem passado?

— Eu é que deveria fazer essa pergunta — tornou Marcelo —. Mas acho que já tenho a resposta.

Ainda sorrindo, William acenou com a cabeça para um jovem de vinte e dois anos que conhecera recentemente na clínica de reabilitação e acabara de chegar. Em seguida, moveu sua cadeira de rodas para ir ao encontro do rapaz que, apesar de também ter ficado paraplégico, após sofrer um acidente de carro em que morrera três amigos, parecia nunca se abalar pela tristeza e ainda era o capitão do time de basquetebol da clínica.

— Com licença.

O velho advogado acompanhou o sobrinho com os olhos por alguns instantes, antes de desviar sua atenção para Margarida e comentar:

Impossível esquecerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora