He Found Me | André Silva

Abre Olhos

Acordei sozinha na cama gigante do André e com a casa num silêncio absoluto. Levantei-me lentamente e desci até à cozinha para preparar qualquer coisa para comer. Encontrei um bilhete do André a dizer que tinha ido para o treino e que nessa noite iríamos jantar a casa dos seus pais. Sorri com a ideia de passar mais tempo com a sua família. Depois de comer umas torradas enquanto olhava desatentamente para o que se passava na televisão, arrumei a louça e subi até ao seu quarto. Entrei na casa de banho e fiz um rabo de cavalo desajeitado só para conseguir lavar os dentes. Enquanto me vestia peguei no meu telemóvel, verificando que se encontrava sem bateria.

"Eu não acredito que logo agora que preciso disso, o André decide levar o carregador com ele..."- reclamo, já calçando as sapatilhas para sair de casa e ir ao meu apartamento buscar o meu carregador e outras coisas que necessitava. Levei também a minha roupa que andava espalhada pelo seu quarto para pôr a lavar.

Ao chegar, coloco o telemóvel à carga e começo a preparar uma mala com roupa para levar para casa do André, já que ia dormir lá hoje novamente. Estava a pôr uma quantidade parva de calças e tops na mala, porque não fazia a mínima ideia do que vestir para o jantar, quando oiço o meu telemóvel a tocar com o que me parecia serem muitas mensagens a chegar.

Dirijo-me à sala e o meu coração cai quando vejo no ecrã as chamadas não atendidas dos meus pais e, pior, a mensagem da minha mãe.

Mensagens com Mummy

Mummy: O teu irmão está no hospital, tentamos ligar-te mas estás com o telemóvel desligado. Quando puderes fala connosco.

O meu olhar fica turvado com as lágrimas que ameaçam cair. O meu irmão está no hospital e eu nem sabia. A minha família precisava de mim e eu não estava lá para eles. Agarrei na mala que ainda estava aberta em cima da minha cama e saí a correr em direção ao meu carro.

Liguei à minha mãe assim que entrei na autoestrada. Estava no hospital com o meu pai. O Miguel tinha tido um acidente de carro quando vinha para casa de madrugada. Aparentemente, o amigo tinha adormecido ao volante. Apesar de tudo, os ferimentos não tinham sido graves: um pulso aberto e 5 pontos na cabeça. O amigo estava em pior estado com um braço partido.

Só consegui respirar normalmente quando cheguei ao hospital e me deixaram entrar para ver o meu irmão. A minha mãe estava sentada ao lado da cama onde o Miguel se encontrava a descansar.

"Olha quem é ela!"- disse ele, ao ver-me entrar.

"Então maninho, como é que estás?"- perguntei, abraçando-o com cuidado.

"Já tive melhores dias..."- fala, com o seu sorriso maroto.

"Desculpa mãe, eu estava sem bateria e só vi hoje de manhã..."- tento explicar.

"Não precisas de te justificar. Importaste de ficar com o teu irmão enquanto vou ao bar ter com o teu pai para tomar um café?"- interrompe-me.

Notei um tom acusador na sua voz e reparei nas suas olheiras. Não devia ter dormido nada a noite toda.

"Claro que não! Vai lá."- respondi e ela sai do quarto sem mais uma palavra.

"Então? Quando é que tens alta?"- questiono o Miguel, que prestava atenção ao seu telemóvel.

"Estou sou à espera do exame que fiz à cabeça. É só para ver se está tudo bem por causa do embate. Ainda hoje vou para casa."

"Pior do que esse cérebro já era não pode ficar."- tento fazer uma piada, o que o faz sorrir levemente.

"Ouve lá, o que é que se passa com a mãe? Foi bué seca comigo ao telemóvel."- pergunto.

Finalmente, os seus olhos passam do telemóvel para mim e vejo-o respirar fundo.