TAPE #7

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"Você é incapaz de ver o que está bem na frente do seu nariz", dissera Barbara na noite anterior, porém às vezes Harrison via. Imaginava que não fosse totalmente desmerecedor do sarcasmo dela, mas também não era totalmente cego. E, à medida que os resquícios do pôr do sol esmaeciam até um laranja-escuro sobre Idaho, seus dedos tamborilavam em seu escritório revendo novamente a fita gravada por sua irmã na noite passada em um velho notebook já quase sem memória disponível. Ele disse a si mesmo que podia ter certeza que havia algo de sobrenatural nelas, mas isso era apenas sua cabeça falando, sua intuição estava bastante convencida de que não.

Seus olhos vagueavam além da janela do primeiro andar e pousavam em um casal de idosos na casa ao lado cuidando do jardim. A senhora Ladymoor parecia tão feliz e despreocupada. Por um rápido momento, Harry os invejou.

O barulho de carga completa da filmadora e da porta se abrindo no hall de entrada que o trouxe de volta para o presente. O homem estalou os dedos, em seguida, o pescoço, e se pôs a levantar, segurando a câmera e saindo do cômodo; caminhando até a geladeira.

A câmera fora posicionada no mesmo lugar de sempre, em cima da mesa de jantar.

Barbara entrou pensativa na cozinha.

— Bem, o que foi? — Inquiriu o marido. Ele demonstrava ansiedade no tom de voz.

Quando depararam com Vivian na porta da frente da casa na noite passada, ouviram a conversa bem por cima, já que a garota estava em estado de choque. Barbara estava filmando com o celular no momento, mas resolveu deixar as imagens guardadas em sua memória interna.

Vivian parecia estar precisando de um abraço, não de uma entrevista.

Naquele momento, Harrison dissera suspeitar de que o ataque da irmã tivesse sido por um acesso de contrações tônico-clônica generalizada, também chamada de convulsão, que era um distúrbio no funcionamento dos dois lados do cérebro.

— Bem, o exame deu negativo — Barbara contrapôs, por fim, trazendo-o de seus devaneios, e descreveu o procedimento, explicando que, esses sinais podiam fazer a pessoa perder a consciência e sofrer contrações musculares fortes. Todavia, quando ela se sentou à mesa, ainda parecia preocupada.

— Que alívio — disse Harry. — Por um segundo, pensei que você fosse me dizer que a casa é assombrada!

Barbs deu de ombros.

— Olha, escute. Foi horrível o que vimos ontem, além do que ela nos contou, mas, fora isso, não tem notado algum outro evento bizarro em nossa casa?

— O amigo imaginário — disse Harry, condescendendo, por mais que não levasse aquilo muito a sério. Crianças falavam sozinhas, certo? Era algo comum. Ele mesmo teve um na infância. Devido ao fato de estar sempre sozinho, acabou idealizando um amigo com sua mesma idade. Os dois brincavam e se divertiam além da própria imaginação; mas era isso que aquilo era, apenas imaginação.

— Exatamente — Barbara começou a sussurrar, como se mais uma pessoa fosse capaz de ouvir. — Hoje de manhã, escutei o Billie conversando com alguém no quarto. Digo, ele falava, e parecia esperar, como se estivesse brincando com alguém, mas, quando espiei dentro do cômodo, não havia ninguém ali. Ele balançava a cabeça, Harrison, como se estivesse concordando com o que ele dizia.

Pensativo, com os braços cruzados diante do peito, Harry sentou-se no canto da mesa.

— Não existe essa coisa de espíritos, se quer saber de novo.

Barbara franziu o cenho.

— Aceito o que está dizendo — disse a mulher, suspirando desanimada. — Porque respeito suas crenças. Mas direi a verdade, não compreendo como uma doença pode fazer o que fez com Vivian e ainda assim ter afetado Billie. Você viu na filmagem, Jeff estava brincando com um graveto de madeira idêntico ao que queimei há algumas manhãs.

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