Como eu poderia saber que estava certa o tempo todo?

Eu cheguei ao café pontualmente às seis, apesar de todos os contratempos do dia. Ele se atrasou. Me mandou uma mensagem dizendo que o trânsito estava ruim e eu quis tanto que ele cancelasse. Foi quando eu pensei em ir embora, mas por algum motivo eu fiquei.

Não quero fingir ou dizer que não aconteceu, mas no momento em Alexandre passou pela porta, meus olhos encheram de lágrimas. Minhas mãos começaram a tremer e eu achei, por instante, que pudesse sufocar. Minha noite não podia ficar pior. E ficou impossível.

O Xande das mensagens era, na verdade, meu ex. Eu me dei conta disso assim que ele me deu um beijo no rosto e puxou uma cadeira. Não era uma coincidência estarmos naquele mesmo local, eu tinha marcado um encontro com ele, Alex. A pessoa que eu queria distância, a mesma que eu pedi para que me esquecesse.

Demorei algum tempo para entender como ele conseguiu se passar por alguém que eu de fato conversei naquela noite no Iceland, mas ele explicou com um sorriso tão vitorioso que me fez querer vomitar de nervoso.

Ele me seguiu até lá, Alexandre já estava me acompanhando há algum tempo. E, seguindo ele, eu sou tão previsível que foi fácil adivinhar o que eu conversaria com alguém desconhecido em um bar. Cachorros e bicicletas. Foi o suficiente para que ele inventasse toda essa história.

Acredita que ele até conheceu o cara do bar para fazer a história parecer ainda mais real? Antigamente eu achava que a obstinação dele era inspiradora, mas agora eu entendo que isso é doentio. O cara do Iceland nem chama Alexandre, Xande é só um apelido estranho que alguém colocou nele quando ele adolescente. Ele sequer mora na cidade! Mas eu não soube disso naquela noite, já estava perturbada demais com o fato de Alexandre ter ressurgido daquele jeito.

Se o vilão você-sabe-quem dos livros de Harry Potter dividiu a alma em sete partes, não quero pensar em quantas Alexandre dividiu o que ele acha que é a sua alma e quantas eu precisarei enfrentar até ficar livre dele.

Existe algo que Alexandre consegue fazer para envolver as pessoas. Ele sabe ser alguém adorável na mesma intensidade com que consegue fazer alguém se sentir mal. Só que essa coisa de ser adorável é só um artifício que ele usa. Ele sabe ser cruel e também consegue escolher muito bem as palavras quando quer acabar com alguém.

Os anos em que estivemos juntos o ensinaram muito bem sobre o que fazer para acabar comigo.

Sempre achei que pudesse lidar com ele. Com esse jeito egocêntrico que exige tudo dos outros, com a sinceridade desconcertante e a persistência impetuosa. Acreditava que ele não só quisesse superar o nosso fim, mas, além disso, ele quer me ver sofrer.

Foi o que ele fez naquele café. Empurrou tudo para cima de mim: minhas frustrações, meus dilemas que confiei a ele; os meus problemas familiares; as minhas inseguranças. Tudo estava ali em cima da mesa, esfriando e amargando o café. Transformando a minha noite, que deveria estar apenas começando, em um pesadelo.

Ele me obrigou a ir ao banheiro, porque eu estava com o rosto molhado demais e isso estava atraindo a atenção das pessoas. Nesse momento eu aproveitei para mandar uma mensagem para Vic.

Você deve se perguntar o motivo de eu não ter saído e deixado ele. Parece óbvio, essa era a atitude mais sensata que eu deveria ter tomado, se não fosse tão difícil. Parte de mim achava que eu merecia ouvir aquilo, a outra continuava enganada e se achando no dever de permanecer ali em respeito aos momentos bons que tivemos juntos, porque eu deveria ter aprendido a lidar com ele. Mas havia uma parte bem pequena que queria gritar por socorro. Foi essa que enviou uma mensagem para Vic e um email para você.

Com Amor, Lena [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora