|Capítulo 2|

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Bella.

—Então eu respirei fundo e contei mentalmente até 10 como você aconselhou– Madame Sincler disse calmamente– mas quando cheguei no numero 10 eu ainda estava nervosa, eu ainda queria gritar e eu ainda queria puxar meus cabelos.

—E o que manteve toda essa raiva dentro de você?– questionei– foi o fato dele não te pedir desculpas? Ou foi por que você queria sentir toda essa dor?

—Em parte os dois– ela sorri tristemente– devo contar até 20?

—Não– neguei– você deve se olhar no espelho e tentar enxergar o quanto a senhora é bela– digo me reclinando na cadeira– e que nada poderá tirar essa beleza de você, por fora ou internamente.

—Meus cabelos– disse ela tristemente.

Observei rapidamente as falhas em sua cabeça, seu problema para controlar a própria raiva em sua idade é muito prejudicial. Arrancar os próprios cabelos foi a forma em que ela encontrou de se aliviar da dor, e seu tratamento dependia de um processo longo e puramente psicologico, sem envolvimento de remedios e substancias que enganam sua própria realidade.

Era triste.

Me levantei e caminhei até minha bolsa pegando de dentro dela um pequeno espelho que raramente usava para retocar minha maquiagem, voltei a me sentar a sua frente e entreguei o espelho a ela.

—Poderia me dizer o que você vê?– pergunto sorrindo.

Ela olha seu próprio reflexo com certo receio, percebo sua exitação em encarar os cabelos, mas tambem percebo o quanto ela demora observando os próprios olhos acinzentado.

—Eu vejo Sincler, não a madame, não a velha, mas a jovem Sincler– ela diz abrindo um leve sorriso– meus olhos ainda tem a mesma cor de quando eu nasci, meus labios ainda são os mesmos levemente inchados.

—E como você se sente?

—Me sinto bem, me sinto bonita– ela observa então ergue o espelho– mas estou ficando feia.

—Madame Sincler nunca ficará feia– digo esticando minha mão agarrando a mão macia dela– Madame Sincler ficará machucada, eu não quero que você se machuque, então esqueça a contagem até 10, olhe-se no espelho e veja o quanto é linda e perceba o quanto é forte e totalmente capaz de superar sua raiva.

—Ele só estava atrasado– ela pensa, me calo esperando que continue, ela então ergue o olhar para mim e sorri gentilmente– ele só estava atrasado querida, muito obrigada.

—Vejo a senhora na semana que vem?– pergunto me levantando.

—Estarei aqui– ela se levanta me entregando o espelho.

—É seu– o empurro de volta gentilmente– guarde na bolsa e leve com você para onde for.

—Você é um anjo querida– Sincler me abraçou fortemente– até semana que vem.

—Até– a acompanho até a porta fechando-a assim que ela sai.

E mesmo após ela sair continuo a sorrir incapaz de deixar de notar o quão boa ela é, não merecia sofrer assim, consigo mesma, e por causa disso jurei que a ajudaria até vê-la 100% bem. É o que farei.

Não demora muito até que minha secretária Sara bata em minha porta ao fim do expediente.

—Tudo certo?– pergunta ela– precisa de alguma coisa para amanhã?

—Sim, por favor – pego um arquivo na gaveta da minha mesa e entrego a ela– antecipe a consulta do Sr. Rider de sexta para amanhã, a esposa dele disse que eles vão viajar e Rider está com medo de pegar a estrada– reviro os olhos sorrindo– na sexta ele não vai poder vir.

—Vai ficar um pouco apertado– ela me alerta e eu apenas assinto ciente– mas veja pelo lado bom, apertado amanhã e um pouco livre na sexta.

—Não consigo ver lado bom– me forço a soltar uma pequena risadinha– odeios as sextas feiras, odeio ir para casa mais cedo.

—Eu com certeza adoro– ela gargalha feliz– ok, concidere Rider remarcado, até amanhã.

—Até– aceno a vendo sair pela porta.

Ainda precisava organizar alguns papeis de Sincler antes de ir embora.

(...)

Estaciono na garagem atrás do carro de Victor estranhando por ele ter chegado mais cedo que o de costume. Caminho pela entrada da casa pegando o jornal da manhã no caminho.

Entro em casa ouvindo o barulho alto da televisão, vou até a sala e o encontro assistindo ao jogo dos Yanks.

—Chegou cedo– indago pousando o jornal e a bolsa na mesinha de centro.

—Se eu ficasse mais tempo lá mataria alguém– diz ele secamente– estou com problemas com alguns detentos.

Victor, meu marido, foi promovido a diretor do presidio de Vancouver quando o antigo diretor se suicidou tomando vários remedios a cerca de dois anos.

Desde então Victor havia mudado, se estressava facilmente e muitas vezes acabava me agredindo para descontar toda sua raiva sem motivo, nosso casamento foi por água abaixo pouco a pouco.

Porem por mais que eu corresse nunca conseguia fugir desse pesadelo, não podia denuncia-lo, não podia sair de casa, todas as minhas tentativas causaram consequencias ainda piores, eu apenas tentava não irrita-lo.

—Que tipo de problemas?– pergunto sentando-me ao lado dele no enorme sofá.

—Rebeldia, raiva, brigas constantes– ele diz passando as mãos pelo rosto aparentemente cansado– não está adiantando castiga-los.

—As vezes o isolamento pode ser algo bom para eles– dou de ombros– ficar longe de qualquer confusão.

Victor me encara pensativo.

Nossa diferença de idade era concideravelmente grande, uma vez que tenho 25 e Victor já está beirando os 40.

Por que casar com alguem tão mais velho que eu? Lembro-me como se fosse ontem, as juras e declaraçoes de amor que Victor fez ao pé da minha janela como naqueles antigos filmes romanticos, eu só tinha 18 anos e me apaixonei pelo policial que deu a palestra em uma estupida excursão da faculdade até o departamento de policia.

O pedido de casamento veio rápido demais, eu nunca havia me envolvido com ninguem, nunca havia si quer namorado. E de repente lá estava eu, Bella Maloy assinando os papeis no cartório da cidade.

Sem cerimonia, sem festa, nada. E ainda sim eu era a noiva mais feliz do mundo.

Me perguntaria quando tudo começou a dar errado, mas eu sabia exatamente quando. Quando a ganancia e o poder falou mais alto na cabeça de Victor, o tornando um homem frio e cruel.

Mas sua calmaria me trazia paz e sossego, eu conseguia viver bem.

—A solitária não está resolvendo, está agradando eles– conclui ele.

—É provavel– concordo.

—Quem sabe uma punição carnal não abaixe as orelhas deles– seu sorriso maquiavélico se revelou me dando calafrios.

—Você não pode fazer isso, pode?– arqueio a sobrancelha.

—Eu sou o diretor, eu faço o que eu quiser– se gaba.

—Não acho que isso vá resolver, só vai irritalos mais ainda– me levanto necessitando de uma xicará de café.

—Você não tem que achar nada– diz com rispidez.

—Tudo bem– assinto saindo da sala e indo para a cozinha.

Não retrucaria, aprendi da pior forma que contraria-lo nunca é uma boa ideia.

Tomo meu café em silencio, lamentando mentalmente aos pobres detentos que irão sofrer nas mãos de Victor amanhã, sem dó nem piedade.

A punição carnal nunca deveria ser uma opção para os oprimidos que já pagam pelos seus erros drasticamente.

Talvez eu esteja errada, ou talvez seja apenas meu péssimo habito de ver coisas boas nas pessoas, mesmo naqueles que não tinham de fato um lado bom.

Condenados a Amar. (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora