— Como é bom te ver assim, filha! Como você está? - indagou desviando o assunto.

— Estou bem, pai. E você? O que aconteceu? Não te vi nos últimos dias? - Heitor a fitou por um momento e suspirou. Precisava contar sobre o que havia acontecido.

— Não tem ideia de como agradeci a Deus por ter lembrado da nossa senha secreta. Os celulares estavam grampeados pelo sujeito que te sequestrou e eles não entenderam nada do que foi falado. E você ligou na hora certa, pois já estava saindo para ir até a casa onde estava o sequestrador. Se você não tivesse se comunicado naquele instante eu provavelmente não estaria aqui hoje – os olhos do pai se encheram de lágrimas, mas ele continuou — Apesar de tudo o que aquele bandido te fez passar e da raiva que tive por tê-la aprisionado... Eu não queria que acontecesse isso.

— O que aconteceu?

Heitor a olhou apreensivo antes de prosseguir.

— Invadimos o lugar onde eles estavam, mas foram muito mais rápidos, já tinham planejado a fuga caso a polícia aparecesse. Continuamos a perseguição, sem parar... Estava com tanta raiva que queria pegá-lo de qualquer maneira e ficamos nisso durante algumas horas, até eles perderam a direção... o carro caiu num penhasco e explodiu – as lágrimas agora desciam mais rápido e Sara não conseguiu evitar as suas — Eles morreram!

Ela arregalou os olhos com a verdade. Era estranho, mas não sentia raiva daquele homem, pelo contrário ficara triste pela notícia. Não sabia de onde vinha esse sentimento de compaixão pela vida deles. Ela voltou a se concentrar em seu pai que compartilhava do mesmo sentimento.

— Está tudo bem, querido! Deus entende perfeitamente o que aconteceu. Não se culpe, foi um acidente - sua mãe chegou de mansinho consolando o marido.

Sara os observou abraçados e abriu um sorriso emocionada por fazer parte daquela família. Talvez o sequestrador não tivesse esse tipo de sentimento em sua casa. Será que já havia se sentido amado? Ficou refletindo sobre o assunto até escutar a voz da sua irmã sussurrando que alguém estava a esperando na varanda.

Percebendo a situação dentro de casa, limpou as lágrimas com as costas das mãos e sem fazer barulhou foi ver que estava lhe esperando. Será que seria Bruno? Seu coração bateu de um ritmo diferente só por essa possibilidade.

O sorriso foi involuntário ao ver o semblante tão querido do novo amigo. Fazia dias que não o via. Havia um sentimento que não conseguiu identificar, mas ficara imensamente feliz em vê-lo ali.

— Como você está? - Bruno perguntou carinhosamente após beijar uma de suas faces o que a deixou com as bochechas coradas.

— Melhor, e você? – perguntou com a voz tímida.

— Estou sentindo falta da minha assistente. O trabalho não é mais o mesmo sem a presença dela.

— Não se preocupe. Já conversei com ela e segunda-feira sua assistente estará lá – sorriu fazendo graça.

— Você tem certeza que já pode voltar ao trabalho? – indagou preocupado, embora os olhos brilhassem com a resposta inesperada da jovem.

— Estou ótima, já descansei o bastante. E preciso ocupar um pouco a cabeça. Com tudo o que aconteceu, preciso olhar novos horizontes, entende?

— Compreendo... E você não quer aproveitar e dar uma volta comigo para se distrair um pouco?

Sara ficou animada com o convite. Seria muito bom sair um pouco, ainda mais tendo Bruno como companhia. No entanto, antes que pudesse dar a sua resposta escutou outra voz masculina vindo em sua direção.

— Sara! – seu vizinho veio direto ao seu encontro e a abraçou. Ela ficou sem jeito com toda a atenção recebida.

— Estou bem! - respondeu se recuperando do abraço inesperado.

Carlos sorriu em resposta afastando-se um pouco e só então cumprimentou o amigo. Os dois trocaram rápidos comentários enquanto Sara os fitava sentindo que estava em uma situação muito complicada. Como sairia dela? Respirou fundo e contrariada, dispensou o passeio com seu chefe. Inventou uma dor de cabeça e entrou dentro de casa, deixando os dois intrigados.

Sara encontrou seu pai muito mais calmo. Ela o abraçou e disse o quanto o amava. Sua mãe vendo todo o clima de paz na sala decidiu fazer um jantar especial com toda a família reunida. Isso foi o suficiente para deixar todos animados. As irmãs juntaram-se na cozinha para ajudar no jantar. Heitor e André começaram a cortar várias frutas para fazerem uma deliciosa salada de frutas.

Todos se divertiram preparando o jantar. Fizeram tudo com muita dedicação e antes de começarem a comer, Heitor fez algo que deixou todos surpresos. Orou antes da refeição agradecendo a Deus por ter guardado cada um da sua família, especialmente sua filha mais velha.

Apesar de toda a confusão dos últimos dias ela sentia uma paz muito grande naquela noite. Deitou-se e sua mente ficou passeando pelos últimos acontecimentos. Lembrou-se de uma história bíblica que aprendera quando criança. Paulo e Silas estavam na prisão e começaram a orar e cantar. Cantaram sem parar até que houve um grande terremoto que abalou o alicerce dos cárceres, e assim saíram da prisão. Era impressionante saber que ela havia passado por algo parecido. Não houve terremotos, mas um milagre havia acontecido e ela saiu de lá viva.

Levantou-se e agradeceu a Deus de uma forma que nunca fizera antes. Ligou o som, e começou a cantar para Ele, de todo o seu coração. Os outros poderiam não entender a sua atitude, mas sabia que Alguém compreendia tudo o que havia dentro do seu coração!



O começo de um Legado - Degustação ♥Where stories live. Discover now