Equilíbrio

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"Então, você acha que consegue distinguir o Paraíso do Inferno? Céus azuis da dor? Você consegue distinguir um campo verde de um frio trilho de aço? Um sorriso de um véu? Você acha que consegue distinguir?"

Meus olhos se fixavam na cidade que corria através da janela. O ar condicionado deixava o automóvel com o clima ideal e a música baixa era uma mistura de voz e piano gostosa. Pisquei me voltando para mulher ao volante e sorri sem perceber. Demi havia crescido tanto que quase não parecia real. Os cabelos em um tom de loiro eram presos em um coque mal feito que deixava fios e mais fios lhe tocarem o pescoço dourado enfeitado por um colar que chegava aos seios. A jaqueta preta abraçava seu tronco perfeitamente em contraste com a blusa cinza e a calça escura que vestia mal me permitia diferenciar onde o pano terminava e o couro da bota começava. Parecia que havíamos voltado três anos atrás e isso era um sentimento nostalgicamente delicioso.

Eu poderia comparar nossas vidas como uma série de imagens corridas assim como a cidade que passava em velocidade pela janela, onde em algum momento a imagem congela e temos um acontecimento importante. Demi era o meu acontecimento importante. Se eu pudesse escolher qualquer momento congelado da minha estrada, com toda certeza escolheria um no qual Demi estaria à espreita.

- Tudo bem?

A mão da Devonne deixou o câmbio automático para encostar na minha com leveza. O contato quente e macio era familiar, percorri os dedos nas costas da mão pálida em um carinho singelo.

- Tudo. - Suspirei vendo um sorriso astuto nos lábios pintados de vermelho da Lovato. - Estamos indo à algum restaurante?

Demi riu fraco.

- Não seja curiosa, mocinha. - A mão se afastou da minha e percebi o carro desacelerar ao fazer uma curva. - Já estamos chegando.

O suposto fato de aparecermos juntas em público me causava certo receio. Já podia sentir o desconforto no estômago e o suor frio brotar de minha pele. Talvez minha mãe estivesse certa ao dizer para que eu não me preocupasse tanto, que um jantar entre amigas não seria escândalo algum. Porém, minha consciência culpada não me permitia relaxar.

O nervosismo passou para confusão no instante em que Demi conduziu o carro para um estacionamento subterrâneo de um prédio de classe média. Podia notar a luminosidade baixa e os poucos carros distribuídos pelo local.

- Onde estamos?

Minha pergunta não teve resposta. Demi saiu do carro e deu a volta para segurar a porta do carona e me estender uma mão como apoio para eu poder sair. Ao julgar o sorriso escondido pelo batom vermelho e os olhos castanhos que brilhavam em minha direção, a mulher estava aprontando alguma coisa.

- Demi, é sério. - Bufei acompanhando os passos dela. - Onde estamos?

A garota apertou o botão do levador até o térreo e eu já estava convencida de que não haveria resposta outra vez, mas me enganei.

- Dallas me comprou um apartamento, te falei? - A voz rouca me fez olhá-la. - Na verdade comprou mais imóveis como investimento, mas esse prédio aqui é simplesmente meu favorito.

O sino do elevador tocou antes da porta se abrir. Entramos na caixa vazia e vi o polegar da garota loira apertar o botão do último andar.

- Então, estamos em uma de suas casas?

- A mais aconchegante. - Demi respondeu acenando a cabeça e a sineta voltou a tocar. - Chegamos.

A porta do elevador se abriu outra vez e entramos em um corredor pequeno onde só havia uma escada de emergência, uma vidraça para a rua e uma porta grande de madeira. Demi abriu a bolsa e pude ouvir o tintilar das chaves antes dela conseguir abrir a porta.

Everything (fanfic semi)Where stories live. Discover now