Adeus

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"Eu sinto que todos os dias são iguais. Me desanima, mas eu sou o culpado. Eu tentei de tudo para fugir, então aqui vou eu de novo perseguindo você novamente. Porque eu faço isso?"

O ano de certa forma havia começado muito bem. A convivência com meus familiares e amigos estava se mostrando ótima e minha vida profissional estava indo de vento em popa. Algumas coisas me aborreciam, mas nada que valesse brigas. Me limitava a falar e desabafar com minha mãe que se mostrava ainda mais presente e amiga com o passar dos dias. Ela e Brian haviam dividido tarefas entre quem me acompanharia e quem trataria dos assuntos formais. Eles achavam a ideia boa, já eu maravilhosa.

Priscila e Brandon sempre arrumavam um jeitinho de ir até Los Angeles quando não estavam compromissados; Taylor a cada dia que passava se comportava como uma verdadeira irmã mais velha; e óbvio, o centro dos problemas que me cercavam, Justin. Apesar de todas as investidas falhas do garoto e do meu imensurável "Não", as notícias que circulavam me traziam dor de cabeça.

Brian se divertia as custas do suposto romance que a mídia divulgava, já minha mãe preferia a conversa silenciosa, que por muitas vezes executávamos ao cruzar nosso olhar.

Lembro de ter acordado mais leve naquele dia, diferente dos outros em que já acordava desanimada achando tudo igual. Deixei meu quarto percorrendo o caminho do corredor até ao escritório afim de chamar minha mãe para irmos ao estúdio. Entrei pela porta aberta desejando bom dia, peguei o cubo mágico sobre a mesa em um ato automático ignorando o fato da mulher sentada na cadeira giratória ter se sobressaltado e fechado rapidamente o notebook ao ouvir minha voz.

– Bom dia. - Me respondeu forçando um sorriso amarelado. - Como se sente hoje?

– Bem. - Dei de ombro mudando as posições das poucas cores fora de ordem. - E a senhora? - Coloquei o objeto montado sobre o tampo da mesa me sentando no colo de minha mãe. - O que está me escondendo? - Sorri fraco com a timidez da mulher.

– Tenho uma coisa que você precisa assistir. - Torceu a boca meio hesitante. - Vai ser chato e desagradável.

Aprumei o corpo franzindo as sobrancelhas.

– Está me deixando preocupada. - Meu coração deu dois pulos mais rápidos. - Aconteceu alguma coisa com a vovó?

– Não, não. - Negou rapidamente. - Não tem nada haver com isso. - Se moveu abrindo o notebook. - Só dê o play.

Pisquei algumas vezes ainda encarando minha mãe antes de dar atenção ao vídeo que me aguardava. O enunciado prontamente me avisou de quem se tratava e isso fez um arrepio descer pela espinha junto ao revirar estranhamente gostoso em minha barriga. Dei o play sentindo todos os pelos de meu corpo se arrepiarem com o alvoroço de vozes que saia da caixinha de som. Engoli em seco quando a figura pálida entrou em foco, a cabeleira negra, os óculos escondendo os olhos castanhos. Entre o empurra-empurra, aglomeração de pessoas, flashes e pedidos para autógrafos, uma voz se fez ouvir fazendo uma pergunta sobre mim. A resposta súbita e inesperada da garota que parecia indiferente me deixou momentaneamente sem reação.

"Pergunte para Taylor."

Podia sentir o afago de conforto que minha mãe fazia em minhas costas, mas meus olhos ainda estavam vidrados na tela que exibia o vídeo já terminado. Nada além do fato de Demi ter respondido aquilo me passava pela cabeça, não conseguia raciocinar. E como em um estalar de dedos todos os sentimentos que me esforçava para esquecer e controlar apareceram provocando sutis tremeliques e falta de ar.

– Selena? - Resfoleguei ao ouvir a voz preocupada da mulher que me guardava em seu colo. - Filha, como você está?

Engoli mais uma vez em seco olhando para baixo, cerrei os dentes tentando parar de tremer, mas parecia inútil. Senti a saudade e o carinho sendo substituídos pela raiva tensionando minhas juntas. Limpei sutilmente a garganta me colocando de pé.

Everything (fanfic semi)Onde histórias criam vida. Descubra agora