Capítulo 4

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Era sábado e estranhamente o seu primeiro dia de trabalho. Poderia ter começado na segunda-feira, mas de acordo com seu chefe aquele dia seria tranquilo, apenas para ver de perto como tudo funciona. Ela acordou mais cedo do que precisava e ficou refletindo sobre as últimas notícias. Uma boa e outra ruim. Como dizem, não se pode ter tudo ao mesmo tempo. No entanto, estava um pouco mais tranquila em relação ao homem que poderia estar atrás da sua família. A polícia secreta já havia mandado um agente especial para cuidar do caso e dois vigias para ficar aos redores da casa e da escola.

— Sara! Seja bem vinda! - Seu Fabrício a recebeu com o sorriso já contagiante a levando até uma sala grande onde havia duas mesas de escritório devidamente arrumadas e um sofá de canto.

— O Bruno já está chegando... Aqui será o seu lugar de trabalho. A mesa do canto é a sua, a outra, como deve imaginar, do seu chefe - explicou dando uma piscada — Pode sentar e abrir a gaveta. Tudo que está dentro é seu e de sua responsabilidade.

Ela sorriu ao sentar-se e observou atentamente sua mesa. Apesar da pouca idade já havia trabalhado em outros lugares, mas nunca em um escritório. Abriu a primeira gaveta encontrando uma agenda nova e uma caixinha branca muito bonita, dentro havia canetas, lápis, borracha e outros objetos que poderia precisar para o seu trabalho.

— Abra agora a segunda gaveta e retire o que estiver dentro que irei mostrar o que fazer com cada um deles – ela obedeceu — Esse livro grande é para você estudar quando puder e sempre ter por perto. Nele consta todos os livros que temos aqui, com informações básicas sobre eles. Tem também o número telefônico de todas as editoras com quem trabalhamos.

Ela assentiu e continuou a observar os demais objetos até sentir a porta se abrir. O perfume já conhecido se apoderou de suas emoções no mesmo instante. Havia apenas uma pessoa em todo o mundo que causava todas aquelas sensações inquietante dentro dela.

Bruno!

Como se tivessem combinado ele trocou um rápido sorriso e seu Fabrício saiu deixando que o filho tomasse o seu lugar. Ela estancou ao perceber ele se aproximar com um sorriso estonteante e os olhos que a cumprimentavam intensamente. Deixou uma pequena caixa florida em cima da mesa da nova funcionária fazendo-a despertar para a realidade.

— O que é isso? - sua voz soou mais baixa do que imaginava.

— É para você!

— Para mim? - ela abriu a caixa com carinho e um sorriso radiante iluminou seu rosto. Era o livro que tanto queria, "Apaixone-se por Deus"! Num impulso se jogou em seus braços o abraçando fortemente.

Quando percebeu a sua atitude descabida soltou-se rapidamente completamente envergonhada. Sussurrou um desculpa e agradeceu pelo presente. Ele deu um meio sorriso e ficaram sem graça.

Houve alguns minutos de silêncio entre eles, mas logo foi substituído pelas tarefas urgentes do dia. No entanto, os olhares eram inevitáveis. Quando Sara estava prestes a pegar sua bolsa para ir embora, ele gentilmente se ofereceu para levá-la em casa. Estava receosa em aceitar, afinal, era o seu chefe, mas só de olhar aquele sorriso, os olhos tão profundos, se ouviu concordando com o convite.

— Não precisava se incomodar em me levar - Sara o fitou dentro do carro, mesmo admitindo apenas para si mesma que seria muito bom se pudesse levá-la todos os dias, para sua segurança.

Não houve tempo para outro comentário, ela saiu do carro ao reconhecer o agente especial da polícia em frente a sua casa. Os semblantes eram tão apreensivos que temia que alguma coisa já houvesse acontecido.

Bruno a seguiu percebendo que algo estava errado. Mil coisas passavam pela cabeça de Sara. Será que seus irmãos estavam bem? Os adultos perceberam a presença dos dois jovens e os fitaram seriamente.

— O que aconteceu?

— Está tudo bem, Sara. Só estávamos preocupados com você - seu pai a tranquilizou.

— Desculpe, me atrasei um pouco por isso ele acabou me trazendo para casa - explicou sem graça e fitou o amigo— Esse é o Bruno, o meu chefe.

— Obrigado por trazer a minha filha para casa - agradeceu Heitor estendendo-lhe a mão com um sorriso sincero.
Percebendo que aquele não era o momento apropriado para as explicações, ela o levou de volta ao carro agradecendo mais uma vez pela carona. Ele arqueou as sobrancelhas preocupado, mas o tranquilizou, em outro momento conversaria melhor.
— Qualquer coisa me liga, está bem?
Concordou com a cabeça e Bruno entrou no carro, mas antes de ligá-lo voltou a encarar.
— Você tem celular?
— Não - respondeu dando de ombros.
Ele pegou o seu celular e entregou em suas mãos
— Agora você tem.
— Não posso aceitar – tentou devolver o objeto.
Bruno olhou-a firmemente.
— É seu. Você vai precisar - E sem falar mais nada saiu com o carro, deixando-a com o celular e sem entender o motivo de agir assim.

Após o dia intenso que teve se jogou em sua cama macia e sorriu ao relembrar dos sorrisos e olhares que trocara com Bruno. Era gostosa aquela sensação, embora ainda estivesse tentando compreender o que se passava entre eles.

O celular apitou tirando-a de seus devaneios. Era uma mensagem.

Sara, esse é o meu novo número, marque na agenda. A hora que você precisar ligar, fique à vontade. Tenha uma boa noite de sono e durma com Deus, princesa!

Ela abriu um sorriso involuntário ao final da mensagem. Ele parecia gostar de surpreendê-la. Mas os pensamentos dela ficaram focados em apenas uma palavra, novamente ele a tinha a chamado de princesa, como na primeira vez quando se conheceram, não era um "princesa" normal, sentia que havia um significado mais profundo, só não sabia qual seria. Suspirou fundo e pegou o livro que Bruno lhe dera e começou a ler até o sono chegar.

Sara acordou assustada, olhou o despertador indignada. Iria se atrasar para a escola. Bufou e constatou que de nada adiantaria sair correndo, o jeito era entrar na segunda aula. Tomou um banho, arrumou-se e foi tomar café rapidamente. Pegou sua mochila e caminhou pela calçada relembrando do dia anterior quando abraçou inesperadamente Bruno. Ainda podia sentir o frescor do seu perfume e por mais breve que fosse o momento em que estiveram abraçados, percebeu como se sentia segura e em paz em sua presença. De repente, ela sentiu uma mão sobre a sua boca a pressionando fortemente. Ficou desesperada, esperneou, tentou gritar, mas nada parecia ter efeito; continuou se debatendo até que sua visão começou a escurecer e desmaiou.

O começo de um Legado - Degustação ♥Onde as histórias ganham vida. Descobre agora