Capítulo 21 - O verdadeiro eu de Alina

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    Os olhos de Alina se dilataram completamente, ficando avermelhados. Veias roxas e grossas surgiram em sua face. Toda a ansiedade e adrenalina que estava sentindo minutos atrás foram como uma pequena fagulha para a verdadeira chama contida por muitos anos.

O garoto não teve sequer uma chance de escapar do que inevitavelmente lhe esperava. As presas afiadas da nova vampira cravaram a pele dele rapidamente e a garota finalmente se deixou levar por aquilo, era mais forte do que ela. Tudo que agora conseguia ouvir era o barulho do sangue dele como um ruflar de asas, circulando com rapidez ao encontro de sua boca enquanto o sugava. O coração dele pouco a pouco desacelerava. Todo o barulho externo pareceu ficar nulo naquele instante.

Aquele gosto doce que experimentava agora parecia como uma droga injetada direto na veia. A garota poderia jurar que enquanto o sangue jorrava em sua boca sentia uma leveza, como se flutuasse sentindo a brisa refrescante do vento em um dia de verão extremamente quente.

Alina percebeu ali finalmente quem era de verdade, quando ouviu seu subconsciente sussurrando-lhe pedindo mais sangue.

— Alina? — Derek chamou, mas ela não lhe deu ouvidos. — Agora já chega — ele disse sério, parando ao seu lado.

A garota só conseguiu sair daquele transe quando sentiu o vampiro tocar em seu ombro, chamando sua atenção. Ela o fitou com olhar perdido. O jovem ferido, debruçou-se em lágrimas a poucos centímetros deles. Apavorado e com medo demais para levantar e sair correndo.

— Não foi tão profundo como pensei que seria — Derek falou analisando os furos que os dentes dela fizeram. — Vai parar de sangrar logo. Cubra isso e vá embora para casa, não pare até chegar lá. Isso foi só um arranhão. É isso que você dirá se alguém perguntar — ele disse para o garoto, fitando-o profundamente em seus olhos.

O jovem rapidamente se levantou um pouco tonto, mas conseguiu ficar de pé e sair correndo. Antes ele fechou o zíper da blusa de frio preta, a gola alta tampou o pescoço e então só depois ele foi embora.

— Um cara com tendência psicopata não choraria assim — ela sussurrou.

— Pois é, foi vergonhoso para ele.

— Você mentiu pra mim sobre ele — Alina falou com os olhos marejados.

Logo as lágrimas desceram rapidamente pela face dela, agora totalmente humanizada, mas não por muito tempo. Com os joelhos no chão ela fitou Derek com raiva, mas o verdadeiro motivo daquilo não era a mentira que ele lhe contou e sim o fato dela ser um monstro.

— Porque você é assim? — ela perguntou. — Tão vazio que não se importa com a dor e os sentimentos alheios?

— Não me importo? — ele franziu a testa. — Eu impedi que você matasse ele — respondeu sério. — Mas isso nos leva direto a lição de número dois; Siga seus instintos.

Alina levantou, aproximando-se raivosa.

— E qual é a lição número um? — questionou.

— Saber quando parar; você domina a sede por sangue, a sede não domina você.

Ela balançou a cabeça para os lados, desgostosa.

— Quando você se transformou, quem te ajudou com isso?

— Eu aprendi sozinho, Alina, caindo no fundo do poço — ele falou seriamente, encostando ela contra a parede. — Então acredite em mim; você não pode fingir que isso não é nada, você não pode se trancar em um porão sujo e esperar a morte só para não machucar alguém, a vida é isso. A gente machuca as pessoas o tempo todo, com nossas palavras e atitudes. Você não quer ir tão longe e matar alguém? Ótimo! Mas precisa aprender a passar por isso. A linha entre pegar um pouco e pegar tudo é tênue. É uma longa e frágil ponte que você precisa se arriscar e atravessar para chegar ao outro lado, para saber se controlar.

Naquele momento o olhar de raiva vindo dela se desfez, ela abaixou a cabeça pensativa.

— Não leva a mal o que vou falar agora — Alina disse em voz baixa —, mas parece que desde do dia em que te conheci, eu tenho andado em uma névoa sem fim. Tudo que vejo está camuflado por infinitas camadas de perguntas e dor.

Derek a fitou sério.

— Eu vou ajudar você com isso — disse colocando alguns fios do cabelo de Alina para trás, deixando o rosto pálido dela completamente à mostra.

Ela fitou a boca dele por um instante, existia algo dentro dela que fervilhava em suas veias, uma inquietude deixando seu corpo quente como em uma febre alta e movida por essa sensação dominante, ela se aproximou encostando seus lábios aos dele. Tão rápido quanto um piscar de olhos.

— O que foi isso? — Derek perguntou com um sorriso torto, franzindo a testa.

— Eu sinceramente não sei — Alina desviou o olhar, sentindo suas bochechas arderem. — Desculpe.

O vampiro riu e se apressou em dizer:

— Mais um desse e quem sabe terá uma boa resposta — ele falou, agarrando-lhe a nuca e beijando-a.

Desta vez, sem pressa e pela primeira vez saboreando o gosto dos lábios dela, sentindo também o doce gosto do sangue que ainda estava presente na boca de Alina. Os dedos da mão direita dele, estavam entre os fios de cabelo dela e a outra mão apertava sua cintura, deixando o corpo dos dois colados um ao outro.

Os braços dela rapidamente contornaram o corpo dele, entregando-se a aquela atração que à muito ela estava reprimindo, foi como se o corpo deles não obedecessem mais a razão. O céu parecia ter descido sobre eles e de longe qualquer um poderia sentir a intensidade e o desejo que fluía de seus poros.

Poucos minutos depois o celular de Derek começou a tocar.

— Atende — Alina falou, depois do sexto toque.

O vampiro tirou o aparelho do bolso esquerdo da calça jeans escura. Irritado, fitou a tela que anunciava o nome do infeliz que lhe atrapalhava naquele momento.

— Espero que seja importante, Lissa — ele disse.

Ela demorou alguns segundos, mas falou com tom sério:

— Derek, o Miguel está aqui acompanhado de uma bruxa e ela tá procurando a Alina.

Ele fitou a garota a sua frente, que lhe encarava curiosa.

— O que ela quer? Ela disse? — questionou.

— Só falou que precisa falar com a garota.

— Ela deu um nome? — inquiriu cauteloso.

— Flora...

— Conhece ela? — Derek perguntou para Alina, colocando a mão sobre o celular.

Ela balançou a cabeça para os lados, negando.

— Acha que ela é confiável, Lissa?

— Não acho nenhuma feiticeira confiável, você sabe — a loira respondeu rapidamente.

— Vamos embora — Alina sussurrou para ele.

O vampiro assentiu.

— Lissa, eu chego em dez minutos, tome cuidado — concluiu desligando. — Você não precisa ir. — Disse para Alina.

— Preciso sim — sorriu.

— É sério — Derek logo respondeu firme. — Pode ser perigoso, ela é uma bruxa, tem poderes e você ainda está fraca.

— Se você vai, eu também vou — falou séria. — Ela esta lá por mim.

Ele balançou a cabeça, gesticulando em seguida para que fossem embora.

Passando-se exatos dez minutos, Derek estacionou a moto na frente de sua casa. Com a mão fez sinal para Alina vir atrás dele e então cruzou a porta de entrada. Na sala, Lissa, Miguel e a bruxa Flora esperavam em um silêncio constrangedor e agoniante.

Ao notar a presença de Derek a desconhecida se levantou procurando por Alina, que entrou um pouco depois. Vendo a garota parada a poucos centímetros de distância, Flora sorriu animada. A viagem havia sido longa para ela, mas ia valer a pena.

DarkBlood - Herdeira Sanguínea | Livro IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora