Aqui se conta a saga de nossa sociedade enquanto investiga como mexer com a natureza. Desde uma sociedade nômade até a complexa estrutura atual: como pudemos construir o mundo em que vivemos?
Enquanto procurava referências para escrever o capítulo "A vida", fui surpreendido quando o texto da Wikipedia sugere que o fogo tenha vida. Segundo a concepção de vida como um processo que envolve nascer, crescer, reproduzir e morrer, podemos sim dizer que o fogo tem um início, se desenvolve e se multiplica enquanto se expande e por fim acaba. Seria um absurdo imaginar que o fogo tem vida? Podemos observar que o fogo se alimenta de "algo" e devolve para a natureza "outra coisa", como se imitasse os seres vivos. Ou seriam os seres vivos que imitam o fogo? De maneira ampla, este paralelo do fogo com a vida já foi muito explorado nas mitologias e poesias por todo o planeta. Se pensar bem, você verá que sua religião (se tiver uma) tem bastante espaço para o fogo.
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Assim que as mulheres começaram a dominar o uso do fogo, provavelmente testaram de tudo. Colocar terra, colocar água, colocar animais e plantas, etc., e ver no que dá. Talvez você não se tenha dado conta de como isto é normal. Você aprende algo novo, ou possui uma ferramenta nova, e fica testando ela nas coisas. Esta é uma forma primitiva do "método da tentativa e erro" conhecido em ciência. É uma forma primitiva porque nem mesmo se sabe o que se quer. Porém, como discutimos, o fogo é revolucionário. Muitas coisas novas foram "descobertas acidentais" depois de se poder usar o fogo livremente.
O fogo permite, por exemplo, amolecer sólidos. Com isso seria possível consertar ferramentas de madeira ou osso. Manusear o fogo pode requerer o uso de cabos para se manter à distância. Isto pode depois ter motivado a construção de ferramentas com cabos, mais elaboradas, como um martelo. O uso de fogo como arma também apareceu em algum momento, para encurralar animais durante a caça ou mesmo em ataques a outras tribos. Para melhorar o desempenho do fogo, a mulher inventou o forno, a fim de manter o calor e atingir ainda maiores temperaturas.
Um importante processo químico surgiu após o domínio do fogo: a calcinação. Este processo nada mais é do que submeter substâncias sólidas à altas temperaturas. O que se obtém depois da calcinação é uma mudança na matéria, obtendo em geral uma substância diferente da pedra original, mais "pura". Os primeiros materiais de pintura surgiram da calcinação.
O carvão e o lápis de ocre são exemplos de coisas que podem riscar paredes e deixar rastros permanentes. O "ocre" é uma argila avermelhada que é encontrada na natureza. Foi provavelmente uma das primeiras substâncias a serem usadas para desenhos em paredes (pintura rupestre) e mesmo em pinturas corporais. Quando o ocre é calcinado, a quantidade de cores que se obtém aumenta, com tons entre amarelo, vermelho e marrom. Assim, o ocre é calcinado e depois diluído podendo ser aplicado para fazer pinturas usando qualquer coisa que sirva de pincel.
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Segundo o livro "as grandes invenções da humanidade", que venho consultando bastante enquanto escrevo esta obra, é possível que o ocre, muito aplicado nas pinturas e em cerimônias funerárias, tenha estimulado as primeiras minerações. Você já percebeu como as pinturas rupestres em geral possuem coloração "ocre"? Só algum tempo depois a inclusão de minérios de cobre trouxeram tonalidades azul e verde às pinturas. Para encerrar, eu sugiro a leitura do artigo "Qual a história dos pigmentos azuis e sua trajetória na arte" do Nexo Jornal (16 Fev 2017). Quando você o ler, tente observar um pouco a importância econômica por trás dos avanços da química.
