A vida

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No final do capítulo anterior, eu fiz uma pergunta bastante complicada. Eu pedi para que você, uma pessoa que nasceu por volta do século XXI, imaginar o que uma mulher poderia fazer com elementos encontrados na natureza, só que numa era tão remota quanto os primórdios da humanidade (se é que era "humanidade"). A natureza contém muitos elementos, e aqueles que citei, "terra, água, plantas, pequenos animais, ..." possuem, cada um, um infinito de possibilidades. Existem terras duras e moles e vermelhas, amarelas, etc. A água possui diversos usos até os dias de hoje: todos temos necessidade de beber água constantemente, além de usar para lavar e limpar, além de usos recreativos como se refrescar, etc. Existem também muitos tipos diferentes de plantas e de animais. A diferença é que plantas e animais, como sabemos, são seres vivos.

Certo, qual a consequência de ser um ser vivo? Bem, ao contrário da água e da terra, que fica lá onde você poderá sempre voltar quando precisar, as plantas e animais não ficam paradas lá te esperando. Bem, as plantas ficam paradinhas, mas elas não dão frutos o tempo todo. Se você destruir todas as plantas de um certo tipo elas poderão não voltar a nascer ali quando você voltar. E se você gosta da fruta vai ter que encontrar em outro sítio. Os animais, pequenos e grandes, costumam se mover, e fugir quando caçados. Animais também representam perigo, pois podem eles estarem caçando você. Mas as plantas também podem representar perigo, pois se você experimentar a parte errada, pode ser fatal. Assim, a parte "viva" da natureza representava um parcela tão importante para a primeira mulher quanto a natureza "fixa", imóvel.

Certo. O que é a vida e o que ela tem a ver com química?

A definição precisa do que é vida se discute até hoje em dia. De forma bem simplificada, se define vida como um processo que envolve nascer, crescer e se desenvolver, se mover, se reproduzir e morrer. Vale lembrar que os seres vivos fazem parte da natureza e por isto fazem certas trocas com ela. Por exemplo, os seres vivos se alimentam, retirando "algo" da natureza, e após algum tempo eles expelem, devolvendo "outra coisa" para a natureza.  Aqui reside uma noção de química: os seres vivos transformam "algo" em "outra coisa". A química é a ciência que questiona como transformar "uma coisa" em "uma coisa diferente".

Aqui cabe até usar um pouco a imaginação. Se os seres vivos tiram "algo" da natureza e devolvem transformado em "outra coisa", isto para nós, nossos pais, nossos avós, nossos bisavós e por aí vai até milhares e milhares de ano atrás; por que o planeta não está lotado de "outra coisa" e não está faltando "algo" para se alimentar?

Segundo a definição que discutimos de vida, este processo acaba com a morte. Este ponto é muito importante e é um pouco assustador refletir sobre o quanto ele é pouco discutido na educação em geral. Nenhuma matéria da escola se reserva a discutir a morte, mesmo tendo inúmeros filmes de ação ou desenhos animados com um grande número de mortes de indivíduos. Você já se perguntou quantas mortes você ouviu falar hoje nos jornais ou quantos personagens morreram durante o último filme que você assistiu? A verdade é que a morte é um evento muito importante na vida das pessoas. Não só da vida do indivíduo que morre, por se tratar do evento final de sua vida, mas também é muito importante para aqueles que convivem com esta pessoa.

Trata-se de um vivência muito profunda ter alguém que você considera e ama morrendo. A morte de uma pessoa tem impactos em toda a sua família e muitas vezes até em uma comunidade. De forma geral, não é apenas um vazio existencial que se impõe, como também um espaço nas distribuições de trabalho e renda, com impacto na economia daquele grupo. Toda uma família de filhotes pode morrer se sua mãe morrer logo após seu nascimento, por exemplo.

Para eu e você, vale refletir sobre a própria morte de vez em quando, talvez para valorizar mais nossa vida, assim como a vida das pessoas mais próximas a nós. Você consegue imaginar sua vida sem certas pessoas com você? Depois, pense em você como uma peça na química da vida: "o que" você consumiu na sua vida (tirou da natureza)? Você transformou em "algo bom"? Em certo sentido, não somos nós parte de uma química na sociedade? É claro que não dá pra responder esta pergunta sem entender muito bem o que é química, e estamos apenas no início de nosso passeio nesta matéria.

A reprodução sexual, assim como a morte, é um dos grandes pilares da motivação da humanidade sobre as transformações químicas. Retornando ao exercício inicial de listar todos os produtos químicos que temos em casa, quantos deles ajudam a encontrar um namorado? Quantos deles servem para deixar a morte o mais distante possível?

A morte, no entanto, tem um impacto forte na consciência de cada pessoa. Refletir sobre a morte passa por perguntas como "o que é a vida?", "como viver melhor?", "com quem passar o resto de minha vida?", "Quando irei morrer?", "Para que serve a vida?", "Por que morremos?". Suponho que estas perguntas só podem ser completamente respondidas por alguém que veja a vida "por fora", alguma entidade que não viva, e portanto não morra. Por isto, estas perguntas são fundamentais para o surgimento de religiões. Em um número grande de casos(...), a religião serve para consolar e estabilizar as mentes inquietas quanto à morte.

No entanto, a humanidade se beneficia muito da morte. O consumo de carnes só é possível com a morte de algum animal. Os vegetarianos matam plantas, sob o pretexto de plantar para recuperar, enquanto grandes indústrias primeiro criam seus animais para o abatedouro. Nos primórdios da humanidade, a morte de uma presa devia ser sempre muito festejada: era alimento para o grupo.

Em algum ponto de sua (pré-)história, a mulher passou a usar pedras para auxiliar na caça. Trata-se de um momento muito importante para sua evolução: o uso de ferramentas para melhorar seu desempenho em suas atividades. Supõe-se que no início a pedra era usada por percussão perpendicular, isto é, bater a pedra de frente com o alvo. Depois aparece a percussão tangencial, isto é, esfregando uma superfície contra outra. Percussão tangencial permite gerar pontas em pedras e ferramentas cada mais afiadas. Estas técnicas permitiram à mulher melhorar sua coordenação motora e o uso das mãos foi ficando cada vez mais elaborado com o passar do tempo.

Após comer a carne, sobram os restos dos animais, como peles e ossos. As peles podiam ser aproveitadas para se cobrir enquanto os ossos seriam explorados para outras ferramentas e instrumentos musicais (como uma flauta). O uso de ferramentas implica numa nova preocupação social, onde alguns indivíduos devem procurar um melhor material para melhorar suas ferramentas, ou que as faça durar mais. Neste período o principal processo de escolha de material era dado por catação.

Catar é o ato de pegar um objeto escolhido no meio de diversos outros objetos, em geral usando as mãos

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Catar é o ato de pegar um objeto escolhido no meio de diversos outros objetos, em geral usando as mãos. É uma forma de separar diferentes objetos ou materiais um dos outros. Na verdade, a catação também é efetuada por outros mamíferos, muitas vezes para retirar pequenos parasitas entre os pelos ou sobre a pele. Serve, além de higiene, para manter afetividade entre alguns grupos de primatas.  Em química, a catação consta como um processo de separação manual de componentes sólidos quando eles estão misturados entre si.

Eu quero aprender QuímicaWhere stories live. Discover now