Capítulo 4

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O corpo deslizava pela pista de dança, nadava entre as músicas e quando cansada jogava a cabeça pra trás. Não queria sair dali, daquela fumaça industrializada, daquelas luzes psicodélicas, daquele momento em que o futuro não existia. As ondas do cabelo pareciam flutuar. Era linda.

Abriu os olhos e em meio ao ar denso viu alguém próximo. Pandora forçou um pouco a visão e reconheceu o rosto, sorriu instintivamente. A garota que tinha visto mais cedo estava ali, quase do lado dela, foi se aproximando até estarem de frente uma para a outra. E como o destino as vezes ajuda "Talking Body" começou a tocar. Começaram a dançar em um ritmo único, próprio.

Os olhos brilhavam, reluziam o brilho roxo das luzes. Estavam perto, quase grudadas, eram íntimas ali naquele profundo conhecimento de silêncio absoluto. Tão íntimas que não sabiam o nome uma da outra. Não fazia diferença. Era questão de estado de espírito e nenhuma outra coisa. E quando um santo bate com o outro não tem como "desbater".

Pandora atreveu-se a tocar no rosto da parceira de dança que retribuiu com um sorriso. Com a ponta dos dedos percorreu a boca da outra, era grossa e bem delineada, escorregou a palma da mão para a nuca e penetrou dentro das madeixas coloridas, ali perto teve certeza, eram azuis. Sentiu o quadril sendo puxado e os lábios serem pressionados. Não havia calma, por nenhuma das partes, Pandora sentia o gosto do álcool na língua, não sabia se era da outra ou se era de si. Deixou que o corpo fosse levado até uma parede. A coxa esquerda era apertada com uma força tremenda, talvez até deixasse uma marca, mas ali não era prioridade. Os lábios se separam, Pandora sentiu o contato da pele do pescoço sendo umedecida pela língua de sua futura perdição. Arrepiou quando os beijos chegaram na clavícula. Levou a mão na boca para poder mordê-la em um ato desesperado em busca por controle. Sentiu a boca inchada da forte pressão com a qual tinha beijado.

Empurrou a outra, pegou sua mão e a puxou dali, não era o lugar. Pandora percebeu que havia um tipo de renúncia nos olhos da companheira.

- Não aqui. - A menina assentiu.

Puxou-a pelo pulso até que encontrassem o banheiro.

- E aqui sim? - Pela primeira vez Pandora ouvia a voz que se tornaria uma tortura, não passou despercebido o sarcasmo.

Pandora estava pensando em algo para responder quando sentiu o corpo sendo empurrado para dentro do boxe. Viu o sorriso malicioso no rosto da outra.

- A propósito, Diana, prazer. - Estendeu a mão enquanto tirava a própria camiseta.

Pandora riu satisfeita. Trancou a porta, e puxou Diana para si, segurou firme em sua cintura.

- Pandora, prazer. - Falou firme subindo sua mão até encontrar o fecho do sutiã de Diana. Um brilho selvagem contemplou seu áurea.




Calma, detalhamento e pausas são necessárias para você conseguir contemplar o fim de tudo, olhe a imagem por inteiro. Momentos seguido de momentos que causam momentos. Não fique bravo comigo por estar te negando a história de mão beijada, se vai acompanhar, acompanhe direito. E com isso dito é que descrevo outro momento.

Mais um fim de noite de chuva, era comum nessa época do ano. A noite rugia como um intocável leão clamando por seu território, não havia um que ousasse desafiá-lo, nem mesmo a própria natureza. A noite é um daqueles filhos que cresceu e não temos mais controle. É forte, astuto, imprevisível. Exatamente como o caos deve ser.

Com um belo de um sorriso sacana de quem sabe o que fez, e sabe que não fez coisa boa, aos poucos desaparecia dando lugar aos primeiros raios de luz. Quem poderia ser um melhor amigo para Noite, note o maiúsculo, do que um Destino um tanto quanto maldoso?

Despertar - Batalhas InvisíveisWhere stories live. Discover now