Capítulo 3 - Entrelaçar

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Somos conectados por laços de amor, destino ou maldições.

Passaram-se uma semana desde o primeiro dia de aula. Dalila e Saori se reencontraram no dia seguinte, ela se desculpou pelas palavras ditas e prometeu não tocar mais no assunto, então continuaram a andar juntas e a amizade delas começara a se fortalecer.

Apesar da estranheza de Dalila, era uma menina inteligente e com vocação para o cuidado, ela se importava com Saori do seu jeito, sem demonstrar muitas emoções, respondendo com atitudes e não com palavras.

A menina de fogo convidou Saori para dormir em sua casa no final de semana, mas ela preferiu ficar em casa desta vez, estava ainda se adaptando a nova cidade e a nova rotina.

Após a atividade mental intensa do primeiro dia de aula, Lúcifer havia parado de se comunicar com Saori, um silêncio um tanto estranho e perturbador.

De qualquer forma, PEH-PEH-PEH!

Mais um dia, o maldito despertador que Saori tanto odiava tocava novamente. Sentou-se na cama e esfregou os olhos. Abriu a janela e o dia era de céu claro, poucas nuvens. Tomou banho com o sabonete de baunilha que estava quase no fim, escovou os dentes, comeu uma torrada com manteiga e caminhou até o ponto de ônibus.

Um dia comum, para uma pessoa comum, num mundo comum, com outras pessoas comuns esperando pelo transporte para irem aos seus trabalhos comuns, escolas comuns e universidades quase comuns.

Chegando ao seu destino, Saori notou que estava vinte minutos adiantada. Pensou em mandar uma mensagem para Dalila a encontrar, porém acho que ela poderia demorar e decidiu ir sozinha explorar o prédio do lado oposto do seu.

Caminhou até a Pedra com Rosto e pegou o caminho da direita. Notou que este lado tinha um clima menos formal, pelas vestimentas dos universitários e pelo modo que se cumprimentavam uns com os outros, em sua maioria homens, bonitos, feios, lindos, loiros, morenos, asiáticos, negros, brancos, altos, baixos, fortes, gordos, magros, tinha para todos os gostos.

Olhou para cima, em direção ao prédio, e lá estava o símbolo do curso de Engenharia, uma estátua de um homem apoiando uma chave inglesa enorme no chão com a mão direita e, na mão esquerda, uma engrenagem apontando para cima. Ele usava óculos circulares, estilo cyberpunk, como uma máscara de couro, e trajava roupas pesadas de tecido. Embaixo da estátua estava escrito: "Apparatus est homo."

"Por que vivem escrevendo em latim sendo que ninguém entende essa língua morta? Acham que isso é chique, eu imagino." - disse ela para o vento.

E logo que proferiu essas palavras sentiu a temperatura do seu corpo cair bruscamente.

"Eu acho uma bela língua, Saori." - respondeu uma voz que ecoou pela sua mente.

"Você? Então você está aí, Lúcifer. Achei que tivesse ido embora."

"Não, minha querida, estou sempre aqui."

"Uma coisa que eu queria lhe perguntar, as outras pessoas podem nos ouvir?"

"Não me ouvem, porém se você ficar falando em voz alta, eles te ouvirão."

"Eu sei disso, anjo. Minha dúvida era sobre se eles podem te ouvir, mas então tudo bem."

"Sim, afinal estou dentro de você. Aliás, quer saber o que significa aquele dizer em latim?"

"Não sabia que você falava latim."

"Você não sabe muitas coisas e eu sei muitas coisas que você nem imagina."

"E você vai me dizer ou vai ficar se gabando do que sabe e não sabe?"

SaoriOnde as histórias ganham vida. Descobre agora