Capítulo 1.1 - Despertar

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"O sobrenatural só existe dentro da mente."

PEH-PEH-PEH!

Saori olhou para o celular e quis despedaçá-lo em milhares de átomos. Perguntava-se se a vida inteira estava condenada a acordar com o som dele, e o porquê de ter nascido nesta classe média baixa.

Média, nem muito nem pouco, meio termo, morno. E baixa, baixa tipo média para baixo, terrível.

Que fosse pobre de uma vez sem um tostão no bolso, ou rica e fina, com empregados, amigos de fachada, não importa. Mas, não, classe média! Não havia quem culpar, afinal a loteria é isso que chamamos de vida.

"Maldito seja quem inventou o despertador no celular, assim não posso socá-lo até a morte." - Pensou Saori.

Desligou o despertador com um deslizar de dedos e demorou para abrir os olhos, custavam para se desgrudarem depois de uma noite de ansiedade mal dormida.

Não lembrava do sonho da noite, aliás fazia tempo que não lembrava de sonho algum, talvez nem sonhasse mais, apesar de que tinha a sensação de ter sonhado.

"Vamos lá, você consegue, garota!" - Disse para si mesma.

Uma parte dela implorava por mais 5 minutinhos, a outra já a puxava pela orelha com toda a razão do mundo.

Hoje é o primeiro dia de aula, mas Saori não estava tão animada, talvez por ser algo novo e desconhecido, uma universidade, um lugar apaixonante, porém temeroso, quer porque era nova na cidade e não tinha amigos, ou por causa da insegurança do primeiro dia.

Se levantou de corpo - a alma ainda estava deitada - foi até o banheiro e tomou um susto ao se olhar no espelho, os longos cabelos negros armados como uma cabana de acampamento.

"Nossa, realmente estou linda!", ironicamente falando. Ela era irônica, até consigo mesmo, algo que pegou da convivência com a mãe.

Cambaleou até o chuveiro e passou o sabonete sabor baunilha no corpo.

"Sério, quem coloca isso nos sabonetes? Baunilha..." - Pensou ela.

O sabonete escorregou por entre os seios jovens e caiu entre o ralo e seus lindos pés. Apesar de ter uma péssima visão sobre o próprio corpo, ela tinha ombros bem delineados, coxas grossas, o rosto incisivo e chamava a atenção de homens e mulheres. Ela se abaixou timidamente, sentiu uma leve dor de cabeça, uma pressão na parte frontal do crânio, e sentiu como se estivesse sendo observada, desde que chegou na cidade de Tártara, havia esse sentimento de observação. Não havia nada além dela e o sabonete, mas um calafrio percorreu a sua espinha e tratou de logo sair do seu banho.

Olhou para os dois lados do corredor antes de sair do banheiro, ainda se sentindo meio esquisita. Atravessou a passos curtos o corredor até seu quarto, ou você achou que o quarto dela era uma suíte? Já no quarto, olhou-se no espelho ao lado da cama box no centro do pequeno quarto.

No abraço macio da toalha, observou cada curva do seu proibido corpo de 18 anos, ainda intocado e livre de pecados. Corpo natural de duas orelhas, dois olhos e uma boca que tinha sede de um beijo apaixonado, mas que nunca veio. Saori foi tirando devagar o tecido branco que a envolvia:

"Será que engordei?" - Pensou ela.

Voltando do seu transe espelhado, pegou rapidamente a toalha caída e escondeu seus seios, corou e teve a sensação de estar sendo observada novamente.

"Saori, não vá se atrasar hoje!" - gritou a mãe do quarto ao lado.

Ela ignorou porque sabia que não iria se atrasar, nunca se atrasa. Tirou do guarda-roupa ao lado do espelho a roupa que tinha escolhido já na noite passada, ajeitou o cabelo negro e partiu para o primeiro dia, o primeiro ano, o primeiro encontro, onde o seu destino seria selado.

SaoriWhere stories live. Discover now