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Visão turva. Sono profundo.

Após algumas horas, finalmente consigo ter força para abrir minhas pálpebras e perceber que já não estava mais naquela salinha onde me puseram anteriormente.

Olho ao redor em busca do óbvio, mas não encontrei. O quarto era um quarto comum, nada relacionava a bebê ou algo do mundo da maternidade. Tudo era simples e clín.

Ao lado da cama tinha uma poltrona que confortava horrivelmente Pedro.

Observo por alguns estantes aquela cena, até ser surpreendida com a porta se abrindo e entrando uma enfermeira

-bom dia, mamãe. Como passou a noite?- ela pergunta, chegando meu soro e escrevendo na prancheta os números que o pequeno televisor mostrava

-bem, eu acho. Não me lembro de muito.- digo, meio rouca e se arrumando no colchão.

-eu imagino. Foram longas horas de cirurgia.- ela diz, ainda escrevendo.

Nesse momento Pedro acorda, e logo se levanta ao perceber a presença da senhora de roupa rosa bebê

-onde ele está? -digo, ainda tentando assimilar e lembrar de algo do dia anterior

-logo o doutor virá conversar com vocês. Você passou por momentos delicados, e aconselho que descanse. Ele está bem e seguro, ok? - ela diz, e se vira, saindo da sala.

-você está bem?- Pedro diz, se aproximando e pegando minha mão, delicadamente.

-quero vê-lo.- digo, com lágrimas nos olhos

-amor, você ficou horas naquela sala. Tiveram complicações em relação ao pós cirúrgico. Eles já haviam encerrado, quando você teve uma piora. Tiveram que retornar para tentar solucionar o problema. Sei que quer vê-lo, mas agora, precisa se cuidar.- ele dizia, acariciando meu rosto e com uma voz doce e mansa.

-mas...- digo e sou interrompida

-por favor, descansa. Vou procurar alguém para me informar sobre ele, e trago notícias, ok? Agora descanse.- ele diz, beijando minha testa e saindo da sala

-Pedro! -digo, fazendo o mesmo voltar seus olhos em direção a mim, novamente -obrigada.- respondo, com lágrimas nos olhos. Ele sorri e sai do quarto.

Fico alguns minutos fitando cada canto daquele quarto, enquanto imagino os detalhes do rosto do meu bebê. Caio no sono sem nem perceber.

Acordo, e parece que não dormir nem 5 minutos. Só percebo que dormi, pois acordo assustada com a porta se abrindo.

O médico entra, calmamente, e se senta próximo ao televisor de sinais vitais.

-ah, sinto muito. Não queria acorda-lá. Como se sente?- ele diz, se levantando e se aproximando

-bem. Me sinto bem.- digo, rápida, pois a última coisa que eu queria saber era de mim mesma

-que bom! Sua cirurgia nos deu um pouco de trabalho, mas no fim conseguimos reverter a situação. Vou te explicar.- ele se aproxima ainda mais, e começa a desenhar em sua prancheta oque havia ocorrido na complicação do parto.

Basicamente, ocorreu um descolamento da placenta, fazendo o bebê nascer antes do tempo e de quebra, uma baita de uma hemorragia interna.

-conseguimos resolver tudo. Nossa maior preocupação era salvar seus órgãos reprodutores. Não queríamos afetar sua chance de ser mãe novamente no futuro. - ele diz, me olhando nos olhos e explicando cautelosamente.

-e ele, doutor? Ele está bem?- digo, já com lágrimas nos olhos

-você quer vê-lo?- ele diz, e eu respondo automaticamente que sim.

Ele sai da sala sem me dizer mais nada, e eu fico lá, sem entender oque fazer.

Não se passa muito tempo, ele retorna, empurrando uma incubadora, com uma coisinha minúscula enroladinho ali.

Me sento, meio apavorada e eufórica

-calma! Você ainda está se recuperando. Nós não costumamos fazer isso, e nem podemos. Mas, tendo em vista a situação, e todo o histórico dos pacientes, nós quisemos ajudá-los. Mas, precisa por isso- o médico, que era um senhor de meia idade grisalho e moreno, se aproximou de mim e pois sobre mis braços o capote.

Pedro entra pela porta, mas sua expressão era diferente da anterior. Ele estava triste. Seus olhos estavam vermelhos e levemente inchados, mas sua tentativa tola de esconder isso era visivelmente falha.

Retorno a atenção ao médico, ainda meio sem entender, e ele aproxima a pequena caixa a mim, e nossa... perfeição.

Eu nunca na minha pequena e fútil vida havia se quer imaginado um sentimento tão puro e avassalador, e em como esse sentimento poderia ser acionado pelo simples fato de olhar para algo.

Ele era perfeito. Seu narizinho. Suas mãos minúsculas. Seu rostinho desenhado. Ele era perfeito.

Não me nego a emoção e choro não vê-lo ali, mesmo após todo caos.

-posso pega-lo?- digo, em meio a lágrimas e soluços

Ele para, me olha com carinho, e cede.

-infelizmente, não podemos retirar esses tubinhos, pois são vitais para ele agora.- o médico diz, o pegando com cuidado, e o pondo em meus braços.

Ele estava muito pequeno. Tão pequeno que cabia na palma de uma das mãos do médico, passando apenas um pouco.

Mesmo o enrolando na mata, ainda era minúsculo. Não tinha um jeito de pega-lo. Quando finalmente consegui, só conseguia apreciar cada detalhe.

-é passageiro, meu amor. Será breve.- digo, acariciando levemente seus pequeno rosto.

Pedro se vira e sai da sala, aos prantos. Me assusto, e o médico baixa a cabeça.

-doutor? Oque há de errado?- digo, já esperando o pior.

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grávida aos 14 anos(EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora