Naquele dia de agosto, entretanto, os planos da garota haviam saído dos trilhos. O motivo tinha nome e sobrenome.

Ela mordeu o lábio e cruzou as pernas em cima da espreguiçadeira, sentindo-se a protagonista de um filme antigo em preto e branco. Ela era o tipo de garota que se empolgava com as fantasias do seu cérebro astuto, que pareciam tornar sua confiança ainda mais inabalável.

Se Lea achava que eles estavam em um filme antigo, quem é que diria que não?

De repente a garota sentiu uma imensa vontade de acender um cigarro e fazer uma pinta falsa acima dos seus lábios como a de Marilyn Monroe.

Ela inflou os pulmões, um sorrisinho querendo sair.

― Você vai ficar aí o dia inteiro? – perguntou.

O rapaz demorou para virar a cabeça na direção dela, mas, quando o fez, a corrente sanguínea da menina acelerou. Ele tirou os óculos dos olhos e encarou a garota daquele jeito meio enigmático, que não revelava em nada seus pensamentos.

Matheus Pimenta era o gajo mais gato que já havia pisado naquela cidade – e olha que muita gente costumava pisar em Coralina. Mesmo Lea, que já estava acostumada a ter a língua dele enfiada na sua garganta, não estava imune à força daquela beleza arrasadora. Ela sempre soube que, se fosse ter um namorado, seria alguém como Matheus, com quem ela poderia viver o seu intenso e delicioso conto de fadas.

E ali estava ela, no seu caríssimo e moderno quintal onde o cara dos seus sonhos procurava por apoio. Pelo apoio dela.

― Eu posso ficar aqui o dia inteiro? – perguntou Matheus.

Lea expirou o ar, como se aquela fosse uma pergunta boba. Tirou o chapéu da cabeça, de modo que seus olhos verdes e as sardas do rosto brilharam em contato com a luz do sol. Ela teve problemas com as sardas quando era pequena até perceber que, por causa delas, se tornava única. O pai uma vez disse que apenas as verdadeiras princesas tinham sardas, que isso valia mais até do que os títulos de nobreza. Matheus também sempre dizia que as manchinhas só a faziam ficar mais bonita e não havia nada mais eficaz do que amaciar o ego daquela garota.

― É claro que você pode ficar o tempo que quiser, mas seria bom se ficasse perto de mim – ela fez beicinho, de brincadeira.

Matheus até teria rido disso, mas não estava no clima. Ele sempre foi um cara reservado, não era o tipo que externalizava seus sentimentos com facilidade. Mas no momento algo parecia pesado dentro dele e o fazia se fechar ainda mais, mesmo sem perceber. Lea sabia que tudo o que ele precisava era de apoio e nada mais, mas a garota não era do tipo que conseguia ficar calada por muito tempo.

O rapaz se jogou na piscina e se ergueu logo em seguida na borda, indo na direção da namorada. Ela até teria pedido para ele não se aproximar, molhado daquele jeito, mas a quem queria enganar? Era óbvio que estava sedenta para beijar aqueles lábios. Eles haviam dormido juntos na noite passada, mas, para descontentamento de Lea, dormir foi a única coisa que fizeram mesmo.

O garoto beijou a namorada como sempre fazia, mas se sentia dormente, era como se não sentisse nada. Tudo o que eu preciso é ir espairecer com um pouco de rúgbi, pensou. As aulas ainda não haviam começado, mas nunca era cedo demais para começar a treinar se ele quisesse continuar a ser o capitão o time no seu último ano da escola. Além do mais, quando ele estava com a mente no jogo, se desligava completamente de todas as outras coisas.

E pessoas.

Matheus estremeceu, sentindo um calafrio subir pela sua espinha. Ele largou Lea e se sentou na ponta da espreguiçadeira dela com os músculos tensos e o sangue quente viajando rápido. A mandíbula estava saltava e ele logo se levantou, inquieto demais. O rapaz odiava tudo o que andava acontecendo na sua vida, odiava cada uma das oito semanas que se seguiram desde que tudo mudou. E Matheus Pimenta, que nunca foi um cara de fortes emoções fora do campo de rúgbi, de repente se sentia com vontade de chutar todas as bolas do ginásio da escola com a maior força possível.

Terceiro TempoWhere stories live. Discover now