Ainda estava se vangloriando quando um rugido a fez se lembrar que o lobo ainda estava lá.
Com toda a força tentou pegar o machado, mas este estava cravado no crânio do morto.
Frustrada, decidiu correr e tentar sobreviver, mesmo sem uma defesa.
Mas não foi muito longe, pois tropeçou em uma raiz e caiu.
A cabeça, já machucada, latejou e pontos pretos se formaram na sua visão.
Ela pôde ouvir os passos do lobo amassando as folhas secas, e teve certeza que morreria.
Quanto mais ele se aproximava, mais ela aceitava seu trágico destino.
O primeiro raio solar do dia a cegou por um milésimo de segundo, e ao recuperar a visão, ele já estava à sua frente.
Mas de forma humana.
Ele tinha olhos negros, assim como o cabelo, e vestia pouca roupa.
E surpreendendo a si mesma, ela não sentiu medo.
O encarou de cima a baixo e perdeu o ar.
Era como se uma corrente elétrica de 1000 volts corresse seu corpo.
Ela estava prestes a se levantar quando algo prendeu sua atenção.
-Você está ferido- Murmurou, apontando para a fecha que atravessava seu ombro.
O outro apenas grunhiu.
-Por isso não nos atacou- Deduziu a morena -Só estava tentando nos afastar.
O rapaz concordou com a cabeça e gemeu de dor.
A ponta da flecha era especial e arrancara boa parte da carne do ombro.
Grace olhava enojada para a ferida e não notou que ele a observava.
-Essa não é a pior parte- Sussurrou, forçando um sorriso.
Ela soube na hora do que ele estava falando.
Além de sangue, um líquido verde e viscoso escorria da ponta da flecha.
Veneno.
-Ah, não- Ela levou a mão à boca, verdadeiramente sentida.
Como uma deixa, ele caiu no chão, bem ao lado do cadáver do Caçador.
Grace se levantou correndo e andou em círculos diversas vezes, apavorada.
Após se acalmar ela se ajoelhou ao lado do lobisomem e verificou que, embora fracamente, ele ainda respirava.
Ela, tecnicamente, devia sua vida à ele. Tinha que ajudar!
***
Quando ele abriu seus olhos negros, logo percebeu que estava vivo.
A primeira coisa que viu foi ela.
A linda garota do machado raivoso.
Seus cabelos negros caiam sobre os olhos e ela o encarava com atenção, a boca contraída de tensão.
-Você acordou- Disse, sorrindo -Que bom.
-Como estou vivo?- Perguntou.
-Lágrima de amor- Ela ergueu uma flor branca e azul, de sete pétalas e com um cheiro enjoativo -Minha vó costumava dizer que ela anula qualquer veneno.
-Diga obrigado à sua vó, então- Ele se sentou, sentindo o ombro latejar.
Com espanto ele notou que ela tinha tirado a fecha e limpado a ferida.
-Ela morreu- Respondeu -Devorada por um lobisomem.
Ele a encarou, abismado.
-Então porque me salvou?- Quis saber -Se eu fosse você teria vingado minha avó.
-Não foi você quem a matou- Respondeu -Sou Grace, aliás. Mais conhecida como Chapeuzinho Vermelho.
-Tyler- O ferido apontou para o corpo ao lado -Morto?
-Até que enfim!- Ela riu para disfarçar a maldade -Sete anos de casada.
Tyler passou a mão pelo corte no lábio dela.
-Dá pra imaginar o que ele deve ter feito para você chegar a esse ponto- Disse -Ouvi as loucuras que ele te disse.
Grace sentiu um calor percorrer seu corpo e sorriu.
-Já passou.
Ela analisou o sol se pondo ao horizonte e teve a sensação de liberdade.
-Tem sangue aqui!- Alguém gritou -Ele está aqui!
-Vamos pegá-lo!- Disse outra voz.
A vestida de vermelho olhou apavorada para aquele cuja lua chamava com sua maldição.
-Caçadores- Respondeu ele.
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Vermelho Sangue
Short StoryApós ser salva pelo caçador, Chapeuzinho se vê obrigada a casar com ele, como forma de agradecimento. Após anos de um relacionamento abusivo e violento, ela decide fugir. Mas será que é possível fugir de um caçador? E será que é possível estar em se...