Connor #18

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Connor #18

É claro que eu não falaria sobre isso com eles depois do que ocorreu. Não era o momento adequado.

Mas agora que só estamos só eu e você aqui, precisamos falar das coisas que vi enquanto invadi a mente do terciário.

Enquanto eu estava no avião, tive alguns vislumbramentos. Também cheguei a conclusão que sou muito retardado para perceber certas coisas, mas conclusões tardias a parte, precisamos voltar para o dia em que chegamos em Terra Dois.

Logo quando os soldados de Raium se apresentaram, mostraram suas Energias e pediram para ver as nossas, ao menos dos que já sabiam usar... Naquela noite, eu usei a minha habilidade para invadir a mente de Lik-Zum. Mesmo agora sabendo que Lik-Zum é um secundário enérgico de nível capitão, naquele momento, ele estava com a guarda mental baixa, então, aproveitei# para me esbarrar em suas memórias mais profundas.

A memória de Lik-Zum mostrava uma criança correndo em lugar escuro, não era possível ver o rosto porque a criança corria de costas, em um caminho estreito e com brasas acesas no chão. Certo. É uma memória bem estranha. Já levantei suspeitas por coisas menos esquisitas. Mas na hora, não fazia sentido algum! Achei que fosse alguma memória ruim que ele fazia esforço para esquecer e eu, de metido, a visualizei.

A memória de Lik-Zum só fez sentido depois que eu combinei com a do terciário. Aquela criança correndo não era Lik-Zum ou algum outro secundário, e sim, a própria criatura. Antes de se tornar no monstro que tirou a vida da mãe do Abim.

Provavelmente, os antigos alunos de Alderian recebiam o treinamento de Raium em Terra Três, e foi lá onde Lik-Zum viu aquela criança correndo. Tudo isso ocorria em paralelo com as missões que faziam para Halcandor, enquanto fingiam ser bons pré-soldados.

Toda vez que eu lembro dos momentos que passamos juntos, sempre me dá um nó na garganta. Principalmente quando lembro daquela noite com Beiluce, independente do que tenha acontecido, me sinto enojado. Que desgraçados. Será que a notícia já chegou a Halcandor?

Usei o código promocional, já prestes a se vencer, e chamei uma corrida pelo meu aplicativo. Enquanto o motorista não chegava, aproveitei o sinal Wi-Fi aberto para acessar as minhas redes sociais. Fiz o login achando que encontraria mais de cem notificações acumuladas, mas quando entrei, tinha apenas dez, e seis eram solicitações de amigos para jogos. Ninguém merece. Pelo visto, continuo não popular aqui. Em Terra Dois, ao menos, eu era odiado.

Também aproveitei para ver as mudanças políticas no país e mundo. É...

Ao chegar em casa, vi que a luz do quarto da minha mãe estava apagada. O mal pressentimento começou daí.

Tomei coragem e bati na porta. Ninguém apareceu. Eu insisti, mas a minha mão passou direto, a porta abriu.

— Oi.

Era Brandon, com o cabelo recém-cortado, de pijama e sem esboçar qualquer pingo de ânimo ao me ver. Ele virou-se e voltou para o sofá.

— Oi... Há quanto tempo, não? Está tudo bem?

— Sim.

Não, não estava. A começar pela bagunça da casa. Quando sóbria, a minha mãe tinha mania de arrumação, e se ela visse o tanto de poeira sobre o móvel da televisão, limparia até com antebraço umedecido.

— Cadê a mamãe?

— Ela não está.

— E onde ela está, Brandon?

— O nosso pai a levou.

— Para onde?

— Ele deixou um cartão. Está aqui.

Brandon tirou um cartão da divisória entre o assento e o braço do sofá e me entregou.

Os dizeres "Centro de Reabilitação Tumeroy" em conjunto com um endereço de site e telefone estampavam o verso do cartão amarelado. Na frente havia uma fotografia de uma senhora de meia idade sorrindo.

— Mas que merda! Como você sabe que foi ele? Com que propriedade ele pode aparecer aqui e simplesmente sumir com a nossa mãe? — aquele escroto comeu fezes?

— E o que você podia fazer? Você nem estava aqui.

Senti um espasmo muscular na minha sobrancelha nesse instante. Eu não esperava que Brandon fosse ficar contra mim. O que houve por aqui?

— Por que está sozinho aqui?

— Eu já sei me virar sozinho.

— Brandon, esse cara não podia fazer isso. Eu disse o que você deveria fazer em situações desse tipo. Os números para você ligar estavam todos no perfil na nuvem que fiz para você.

— E eu fiz o que você pediu. Mas muita coisa aconteceu nesse ano. Desde que você foi embora...

Brandon zapeou entre os canais da TV aberta, como se nem estivesse conversando comigo. Isso me fez perceber que eu não seria capaz de desfazer o que houve por aqui em uma simples conversa, e de uma hora para outra. Pela indiferença no meu irmão, não deve ter restado mais tentativas para ele. Ciente disso, eu adiei essa conversa e fui para o quarto. Não, eu não vou entrar na mente do meu irmão, não enquanto houver outros métodos.

Eu preciso traçar as minhas prioridades agora. Primeiro tenho que procurar a minha mãe, depois, confrontar o otário do cara que as evidências dizem ser o meu pai... Quando tudo por aqui for resolvido, tenho que pensar em algum jeito de contatar a segunda Terra.

Ou eu deveria inverter a ordem e buscar Halcandor primeiro? Seria egoísta deixar o estado da minha família em segundo plano. Porém, se Raium e os seus soldados atravessam mais daquelas criaturas para esse lado, não haverá mais família para se preocupar.

Merda. Estou mais uma vez perdido. Como estão os outros do meu time.

Havia coisa demais para se pensar, e a minha cabeça estava explodindo. Então, optei por dormir, restaurar as energias e buscar por soluções só quando acordar. Não conseguiria pensar em nada útil agora de todo jeito.

Eu acordei com o toque de uma chamada.

***

O capítulo seguinte será o penúltimo, preciso da paciência de vocês pra conseguir fechar a história com chave de ouro. 

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