Suspirei e Itachi me deixou sozinho. Almoçar com Naruto no dia seguinte, é? Aquilo podia dar problemas. Precisava falar com ele antes, e teria que ser em particular.

Peguei meu celular e mandei uma mensagem à Neji, avisando que havia chegado. Perguntei de Naruto e ele não soube me responder, mas avisou que ele e a galera estavam almoçando na casa de Lee, exceto o Uzumaki, que não havia dado sinal de vida.

– A Sakura me disse que ele ficou sabendo que você voltava. – foi o que digitou. – Ela disse que ele parecia chateado.

Se ele está chateado, pensei, só pode estar em um lugar: no balanço da frente da escola. Bem, na época em que o loiro não tinha nenhum amigo, ou seja, antes de me conhecer, o mesmo passava todo o recreio sentado no balanço.

Terminei de arrumar a minha parte do armário e desci para almoçar. Meu tio já havia voltado, o cumprimentei e ele disse que iria fazer um macarrão. Meu irmão fez um ovo frito e nós nos sentamos junto de Obito e Shisui. Obito fazia muitas perguntas sobre a antiga cidade, nós respondíamos do jeito mais monossilábico possível. E assim que é um almoço normal entre os Uchihas.

Passei no banheiro e escovei os dentes. Peguei um moletom qualquer, as chaves e o celular e parti. A escola ficava razoavelmente perto da casa de Madara, então dava para ir a pé. O tempo estava um pouco nublado, cara de chuva, mas eu prefiro assim.

Decidi que ouviria música, mas então lembrei que não tinha pegado meu fone antes de sair. Merda. E lá se foram uns quinze minutos de caminhada silenciosa, na qual eu pensava no que falar para meu amigo que eu não via há anos.

Seria uma conversa estranha, no mínimo. Pelo que soube de Neji e Itachi, Naruto sabia que eu voltaria para Konoha. Mas ele provavelmente estava bravo porque 1) eu fui embora sem avisar, 2) eu evitei todo o tipo de contato possível e 3) eu estava voltando sem avisá-lo. Sim, eu sou um estúpido infantil, mas pelo menos admito.

Poderia facilmente dizer que é porque Naruto não significa nada na minha vida, mas isso é mentira. Nos momentos mais difíceis ele me acolheu. Mesmo não tendo ninguém ao seu lado (tirando Jiraya, que é um velho viciado em pornô) ele fazia de tudo para ajudar os outros e deixá-los felizes. Naruto Uzumaki era uma pessoa especial, uma luz em meio à escuridão. Por muito tempo essa luz me guiou, porém acabei por ceder a escuridão.

Eu realmente não sei dizer o que aconteceu. Ainda é extremamente confuso na minha mente. Eu tinha doze anos, era o meu aniversário. Havia alguns amigos do colégio, família e tudo mais. A festa era num salão alugado, e meus pais haviam esquecido de trazer um presente. Meu pai então pegou o carro e saiu para buscar meu presente.

Fugaku Uchiha não era o ser humano mais gentil, compreensivo e paciente do mundo, mas era um excelente pai. Mas ele tinha um sério problema cardíaco. E então, quando estava sozinho no meio do trânsito, teve uma parada cardíaca fatal. Não havia ninguém junto a ele, ninguém para chamar ajuda.

Algumas horas depois recebemos a notícia. Ele havia chegado no hospital, mas estava morto. E então toda aquela estabilidade Uchiha foi abalada. Minha mãe, que já tinha um histórico depressivo, entrou num depressão profunda. Meu irmão ficou terrivelmente triste e passava boa parte do tempo fora. Madara se afastou mais ainda, levando Obito junto. E eu simplesmente não conseguia lidar com tudo aquilo acontecendo.

Minha mãe era uma mulher forte. Por tudo que havia passado na vida, suas incontáveis fases depressivas e problemas familiares, ela tinha se tornado quase inabalável. Isso era o que eu achava. A verdade é que ela nunca se livrou de verdade dos problemas, e com a morte do meu pai uma avalanche deles vieram para cima dela. Dívidas que não sabia que existiam, caras perigosos tentando se envolver e muito mais. Ela tirou a própria vida. Eu realmente a amava muito, mas ela simplesmente me abandonou.

Nenhum dos meus amigos soube disso. O que lhes contaram foi que Mikoto Uchiha sofreu um acidente de carro, só isso. Nem mesmo Naruto conseguia me animar naqueles dias. Não importava para onde eu olhava, meus pais estavam lá. No meio da aula eu tinha crises de choro. No meio do almoço eu tinha crises de choro. Onde quer que eu fosse tinha crises de choro.

Itachi me perguntou o que eu queria, afinal ele sempre foi muito preocupado comigo e, principalmente, com minha saúde mental. Segundo o que ele me contou mais tarde, durante minha infância mamãe tinha alguns surtos, mas esse não é o assunto. Pedi, ou melhor, lhe implorei para que nos mudássemos. Eu não aguentava mais.

Meu irmão disse que concordava, que com a herança que tinha dava para irmos para outra cidade. Shisui veio conosco, afinal meu primo morava na nossa casa desde sempre. E assim nós três abandonamos Konoha, e ninguém nunca soube o porquê.

Relembrar isso dói muito. Meu coração queima de dor, se é que isso é possível. Mas já estou com dezesseis anos nas costas, não posso ficar chorando por qualquer motivo.

Cheguei no pequeno bosque que ficava na frente da escola. E sim, sentado no velho balanço de madeira estava Naruto Uzumaki. Prendi a respiração e andei até ele. Toquei de leve seu ombro e ele se virou.

– Oi, Naruto. – falei com um sorriso de canto. – Senti sua falta.

– Olá, Sasuke.

Um lance não verbalizadoWhere stories live. Discover now