Capítulo 51

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   Milhões de pensamentos tomam conta de mim, me sinto indecisa e insegura. Sinto o momento de decidir o que me fará feliz, sei que posso errar na escolha mas sinto que devo tentar. Parte de mim tem medo de onde isso pode parar, mas sei também que a outra parte quer que eu me jogue de cabeça. Sei exatamente quem eu quero.

   Cheguei em casa e fui para o meu quarto, meus olhos um pouco inchados e a garganta ainda doendo por conta dos soluços.
    Me deitei na cama, fechei os olhos e respirei fundo, a imagem de Harry sorrindo se refletiu na minha cabeça e eu sorri. Assim como sorri quando me lembrei de Piectro, Katherine e todos os outros que me fizeram sorrir ao longo desses anos.
    Foram muitas lágrimas durante esse tempo, mas vieram muitos sorrisos também. Tive paixões de verão e amores de toda uma vida. E apesar de muitos terem partido, eu ainda assim agradeço a presença de cada um deles.
    É difícil passar por cima de toda uma vida e resolver seguir mais sei que não posso me sentar e assistir a vida passar, isso não torna as coisas mais fáceis. A dor ainda continua aqui a diferença é que eu não quero mais me deitar e chorar, fiz isso durante quase 4 anos e tudo que consegui foi esconder de mim mesma o quanto na merda eu estava.
    Agora aqui nesse quarto percebo como fui ingênua deixando as pessoas irem embora. Eu disse a mim mesma que era uma forma de se proteger só não percebi que se machucar é inevitavel.
     Eu deixei a dor me afundar mais do que o luto. No fundo, eu nem sabia mais por que chorava. Quanto mais os dias passavam mais eu percebia que eles não iriam voltar. Estando aqui ou não, chegaria um momento em que eu precisaria crescer e voar sozinha.
    Me senti aliviada de ter se despedido não só de mim, mas deles também. Estava precisando enaltecer minha capacidade de superação.

  
    Um pouco mais das 14:00 horas meu pai me levou pra casa após eu lhe dizer que queria passar a virada do ano lá.
    O caminho todo fomos calados eu não sabia ao certo o que dizer, nem como explicar a ele o quanto esses dias foram importantes pra mim. As palavras se misturavam em meu pensamento e então o olhei por alguns segundos e sorri. Sorri porque cada traço dele me mostrava que eu não estava sozinha. Suas mãos com marcas da idade me lembravam ao seu pai, os traços da sua face, os pequenos cachos do seu cabelo balançavam com o pouco de lento que entrava pela janela.
    Direcionei meu olhar em direção a paisagem que passava lá fora, e por um segundo foi como se a dor tivesse ido embora, foi como se nada tivesse acontecido. Por um segundo eu me senti uma adolescente de 16 anos vivendo uma vida normal.
   

    - Desculpa - disse ainda olhando pela janela. - sei que não facilitei com vocês.
    - Foram tempos difíceis - ele solta um suspiro profundo e me encara. - achamos que tivéssemos perdido você.
    - É normal eu ficar de luto.
    - Não quatro anos Angel.
    - Eles eram meus pais - desviei meus olhos para o colo - por um momento achei que não fosse conseguir.
    - O que te fez se levantar?
    - Meus amigos - sorrio sem graça - eu fui uma pessoa horrível com eles, mas eles não desistiram de mim.
  
     Ficamos calados o resto do caminho, eu olhava atentamente cada parte da paisagem lá fora, o vento balançava os galhos e fazia com que as folhas caíssem pela estrada. No fundo eu não sabia o que iria acontecer com essa minha volta, o fato é que não adianta mais eu fugir para onde eu for a dor vai me acompanha. Respirei fundo sem saber por onde começar, a tanta coisa lá fora e olhando através da janela tenho a sensação de que sou ainda menor, isso me apavora um pouco mais não ao ponto de fugir novamente. Daqui a poucas horas se inicia um novo ano e eu prometi pra mim mesma que seria diferente mas tenho medo de me acomodar e não deixar a mudança me atingir.
     Acordei dos meus pensamentos quando vi o carro desacelerando e olhei para meu pai que desligava o carro e se virava em minha direção.
    
     - Então, obrigada por me trazer. - falei rapidamente.
     - Quando quiser voltar é só ligar.
     - Tchau. - peguei em sua mão lentamente e suspirei abrindo a porta do carro lentamente.

     Já fora do carro, dei um passo em direção a porta de trás do veículo, antes de abri-la e alcançar minha mala. Com um pouco de esforço lá estava eu a alguns passos do carro carregando minha mala, dando um último aceno já no quintal da minha casa.
    Peguei minha mala e entrei pelo portão, cumprimentei todos e fui guardar minha mala no quarto. Desbloqueei o celular e vi algumas mensagens, até que uma me chamou atenção.
 
    Harry

   Que tal nos encontrarmos mais tarde na praça da cidade?

    Eu havia avisada Harry de que iria voltar a cidade hoje, pensei um pouco antes de responder.

    Para Harry:

    Adoraria. Te vejo às 20:00.

    Harry

     Vou estar lá.

     Bloqueei o aparelho e um pequeno pânico tomou conta de mim. Respirei profundamente e me sentei na cama tentando controlar meus pulmões.
     Minha mente gritava dentro de mim.

    Você consegue. Você consegue.

    Eu só iria encontrar um cara, o mesmo que me arrancou suspiros nos corredores da escola.

     O que estou fazendo???

    Minha cabeça estava girando, fechei os olhos e me permiti se acalmar. Eu só tinha que não estragar tudo.
    Após alguns minutos sentada, me levantei e peguei uma toalha logo após fui para o banheiro tomar um banho quente e aconchegante. Limpando minha mente fiquei um tempo deixando a água escorrer pela minha pele, estática só sentindo cada gota em contato com meu corpo, livremente.
     Sai do banheiro, chegando no quarto peguei meu celular que marcava 19:00, joguei o aparelho na cama e abri meu guarda roupas frustrada por não saber o que usar, optei por um pequeno vestido preto de renda e um salto não tão alto preto.
    Sequei meus cabelos e os deixei pendendo em meus ombros cobrindo partes do meu pequeno colar. Passei perfume e uma maquiagem básica. Há tempos eu não me arrumava assim, me senti estranha no começo e até mesmo feia mais então o orgulho tomou conta de mim.
    Quando deixei minha casa faltavam poucos minutos para a hora marcada e eu estava tranquila.
     Desci a rua da praça lentamente e senti um arrepio tomar conta de mim, por um segundo esqueci de como se respira e parei bruscamente, meu corpo começou a suar e meu estômago a se contrair querendo colocar tudo pra fora. Fechei meus olhos e os abri com a mesma sensação me dominando, voltei a andar sem saber ao certo o que estava sentindo até que ouvi uma voz.
     - Angel?

  

  
    

Anjo CaidoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora