Capítulo 44

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   Se passaram duas semanas que evito ver Harry e estou sobrevivendo com isso muito bem.
 
   Ele até tentou conversar depois de assumir seu relacionamento, mas fui fria e tenho certeza que ele entendeu porque não me procurou mais.
    Esta tudo na rota novamente, eu infeliz e sem graça, e o mundo girando.
   Me sinto fora do eixo, assistindo a vida acontecer como se fosse uma novela a minha volta.
   

   Quando cheguei da escola escutei os gritos da minha mãe, coloquei meus fones de ouvido, soltei a música e passei pela sala.
    Assim que entrei no meu quarto deixei minha bolsa em um canto do quarto e me sentei na cama, os pensamentos começaram e me perdi em perguntas sem respostas.
 

  Sempre imaginei como seria morar com a minha mãe biológica, eu a conheci quando morava com meus pais adotivos, vivíamos brigando mesmo assim questiono minha vida em relação a ela.
    Eu tive 13 anos maravilhosos ao lado dos meus pais adotivos e nunca me faltou nada pois eles sempre me deram muito amor. O problema sempre foi a presença dela ali.
    No começo vivia me questionando se o problema do abandono era comigo, mais quando adquiri uma certa idade percebi que o problema era com ela, simplesmente o fato de que eu sempre esperei pelo dia em que ela chegaria e me colocaria sentada em um sofá, e então iria se abaixar a minha frente e pousar sua cabeça em meu colo, e em meio a lágrimas me diria o quanto foi difícil me deixar, o quanto doeu se desfazer de mim, me contaria de suas crises de choro pela madrugada, da culpa que sentia cada vez que me ouvia chamar outra de mãe e então me pediria perdão olhando em meus olhos.
   Sabe o que é ruim em tudo isso?
   É que isso nunca aconteceu, nesses anos em que convivo ao seu lado, em nenhum momento ela demonstrou arrependimento, culpa ou até mesmo tristeza.
    A cada palavra ruim que ouço de seus lábios tenho a certeza de que ela nunca se importou com a dor que senti por todo esse tempo.
    Ela nunca se questionou em como eu me senti no começo, em como foi quando ganhei maturidade o suficiente para saber que meus pais não me quiseram, que uma mulher me carregou 9 meses em seu ventre e então me tirou da sua vida de uma forma tão cruel como fez.
   O pior em tudo isso é que ela não tem nem como me explicar, não a justificativa suficiente para apagar o trauma que existe. Ela nunca será capaz de me convencer de que aconteceu algo tão ruim a ponto de acabar com a minha vida nesse ponto.
   Não me machuca as coisas que ela me diz friamente, não mais!
   Eu percebi que não vale a pena, perdi muito tempo pensando em como seria se ela estivesse ao meu lado, e agora percebo que eu sempre tive uma pessoa que preenchia esse papel.
    Leonina fez tudo que podia por mim, cada noite acordada ao meu lado quando eu estava com dor ou então com medo, todas as vezes em que me mostrou qual era o caminho certo, toda educação.
    Foi um incrível prazer conhece-la e melhor poder dizer que uma MULHER BATALHADORA como ela é minha mãe.
    Cada momento com ela está marcado, todas as vez em que ela me disse que se sentia orgulhosa, os sorrisos e o modo em como seus olhos brilhavam ao pronunciar a palavra filha, será sempre lembrado.
   
   Odeio me sentir sozinha;
   Odeio todos cortes;
   Odeio todas as crises de choro;
   Odeio a ansiedade;
   Odeio as palavras soltas com brutalidade em minha direção;
   Odeio cada pessoa que me julga sem me conhecer;
   Odeio a dor que mora dentro de mim;
   Odeio o monstro que me tornei;

    Mais sabe de uma coisa?

   Eu viveria tudo isso novamente se isso significasse que as lembranças com eles se tornariam reais novamente, sem me importar com o final da história.
  

Anjo CaidoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora