Capítulo XIV

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Antes que realmente chegasse o amago do enegrecer da madrugada, Alice sentira-se aliviada ao avistar uma espécie de chalé, com uma cerca branca, velha e baixa, formando uma região quadrangular envolta da construção de cimento e madeira. A porta estava aberta, quase como convidando a garota a entrar.

Com passos hesitantes, ela entrara na casa, os pés tentando não causar barulho. Alistair ficou tomando conta das costas dela, esperando que ela entrasse totalmente antes de fechar a porta. Eles decidiram não acenderem as luzes, já que poderia chamar atenção indesejada.

A casa era de um único piso, o que facilitou o trabalho de Alice, que caminhou agilmente pela casa. Havia dois quartos, o que era um alívio. Ela não conseguiria dormir ao lado de Alistair. Na verdade, ela não conseguia dormir.

- Posso aquecer a água e cozinhar alguma coisa. – Ele propôs ao ver uma mesa de madeira ao lado de uma estante vazia.

- Acho melhor fazermos isso pela manhã.

- Alice, você precisa comer.

- Só preciso de um banho. – Ela finalizou a conversa. Veja se consegue achar algo pela casa.

Ela se virou, andando na direção do único banheiro da casa, que ficava ao lado de um dos quartos de camas enferrujadas.

Alice despiu-se, não parando para analisar sua aparência num espelho velho e sujo. Ela torceu para que a água da torneira estivesse quente. Estava fria. Ela bufou ao sentir seus pés entrando em contato com a água, mas logo ela mergulhara todo o corpo, acostumando seu corpo com a nova temperatura.

Ela sentiu suas costas escorregando pelo fundo da banheira, apoiando sua cabeça na borda, sentindo o peso de seu corpo sendo suprido pela leveza da água. Alice começou a traçar um pequeno caminho por sua coxa direita até alcançar sua panturrilha. Ela gemeu. Estava dolorida.

Quem será que morara ali? No meio da floresta? Seria um ladrão que vivia de pequenos furtos e criara uma casinha humilde para poder cuidar de sua esposa e filha? Ou então talvez aquela fosse uma casa onde crimes tão hediondos aconteceram que decidiram plantar árvores ao redor dela, para que fosse engolida pela floresta que surgiria dali alguns anos.

Alice fechou os olhos, mergulhando a cabeça na água fria enquanto pensava em que tipo de crime poderia ter acontecido ali.

Depois de sair da banheira, sua perna parecia latejar. Ela apanhou uma toalha velha debaixo da pia que ficava na parte inferior do espelho. Seu corpo parecia ter sido renovável, embora ainda sentisse dor. Ela se vestiu com as mesmas roupas que estava durante a fuga. Ainda era possível sentir o cheiro de terra e suor impregnados nas vestes.

- Encontrei estas roupas, veja se serve. - Alistair arremessou um punhado de tecido para ela.

Alice o analisou. Era uma regata rosada e um par de calças jeans. O tecido sempre lhe fora convidativo às pernas torneadas. Ela lhe agradeceu e, em poucos segundos, estava de volta. A calça lhe ficara um tanto justa.

- Achei alguns feijões adocicados no armário da pia da cozinha – anunciou ele enquanto esquentava uma lata num fogão velho – espero que ainda seja comestível.

Alice riu, jogando seu corpo sob a mesa banhada de sombras. Talvez acender alguma luz não fosse um problema.

- Temos velas por aqui? – Ela sugeriu. Não precisava transformar a casa num alvo, apenas deixá-la sutilmente iluminada.

Ele disse que não sabia, que em sua revista pela casa nenhuma vela fora encontrada. No final, havia um baú com uma única vela, escondido num canto do quarto que Alice escolhera para si.

Voodoo Doll - O DespertarWhere stories live. Discover now