Capítulo 53 - 11 de agosto

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11 de agosto de 2016

A minha cabeça doía de tanto pensar. Não conseguia, sequer, formular um pensamento concreto. Escapavam-me por completo, como se grãos de areia se tratassem. Contudo, havia uma coisa que não me escapava, o amor. O amor que sentia por ela.

As palavras que ela tinha escrito naquele diário tinham-me abalado de uma maneira que não esperava. Não esperava que ler o que alguém escrevesse num diário pudesse ter um efeito tão devastador como teve em mim. Era como sentir um tsunami de emoções sem fim.

Mas não podia ficar aqui no quarto. Não depois de ler tudo de uma só vez. Não depois de ter folheado a sua vida.

Pegando nas chaves do carro e na carteira, apressei-me a sair de casa, ignorando por completo a cara de espanto do meu irmão. Coitado, ele não compreendia o que estava a acontecer.

Que giro. Há uns dias teria dito exatamente o mesmo. Mas agora percebo-o. Sempre pensei que poderia viver sozinho. Sozinho nesta minha vida de aventuras sem fim. Sem compromissos para me amarrar. Agora... agora isso fora deixado para trás. Quis armar-me em duro. Armar-me em super-homem, quando, na verdade, tudo o que precisava era de uma supermulher! Precisava da Sofia. Já não eram estas "aventuras" que me faziam voar. Era ela. Era o seu sorriso. Os seus cabelos caídos ao longo dos seus ombros. A doçura do seu perfume. A leveza dos seus passos e, até, a maneira como fazia isto tudo ao correr. Era isto tudo que eu amava. Tudo isto e o que passara a conhecer ao "ler" a sua vida.

Afastando os pensamentos, travei o carro, apressei-me a sair e tocar à campainha da sua porta.

- Já leste? – perguntou-me mal me viu.

Sentia-me sem fôlego. Como se não me lembrasse de respirar.

- O que se passa? – perguntou-me, vendo-me sem reação.

E a verdade era essa. Ao olhar para ela, era como se todo o discurso que preparara mentalmente, depois de ler o diário, se evaporasse. Como se não fizesse sentido...

Mas, porra, o que eu sentia fazia sentido. E era a isso que tinha de me agarrar!

- Estás a assustar-me Pe...

- Eu pedi chocolate quente naquela noite porque gostava.

- O quê?

Ela parecia em choque, mas um ligeiro rubor subia-lhe agora às faces. Ela percebia agora que eu tinha lido o seu diário.

- Pedi porque gostava e quando soube que tu gostavas, foi como se ainda ficasse mais doce! E, depois, foi uma maneira de tirar os olhos daquele empregado dos teus. Tu não merecias ser olhada daquela maneira. Mereces ser olhada com respeito, com valor! Porque é isso que tu és para mim. Uma pessoa com valor. E eu quero beber mais chocolate quente contigo. Quero beijar-te e sentir o sabor do chocolate nos teus lábios, porque, meu Deus, os teus lábios são mais doces do que qualquer coisa que por aí há!

- Pedro...

- Eu não quero ver só o "próximo filme do Harry Potter" contigo! Eu quero ver a porra da coleção toda. E os extras. E os discos de bónus. Quero que deixes de usar o cobertor para te sentires quente. Sentir protegida... abraçada. Quero que uses o meu corpo para isso. Quero que me deixes proteger-te. Abraçar-te. Aquecer-te nas noites de inverno e fazer-te suar nas de verão... - proclamei, aproximando-me dela, encostando a sua testa à minha.

- Já acabaste? – perguntou, sorrindo, encostando o seu nariz ao meu.

- Não... - respondi, beijando-lhe a cana do nariz. – Quero deixar de ser um mero "parceiro de corrida". Quero ser o teu parceiro de vida. Quero fazer parte da tua vida! Quero seguir-te sempre! Não importa por onde me leves. Serei teu! Nem que por vezes tenha de passar por um caminho mais tumultuoso! Não desistirei. Sei que o farei por ti! Por isso, por favor.... Ficas comigo?

Estava sem fôlego. Ela parecia ter-se esquecido de respirar.

Afastei-me, gentilmente, dela e contemplei-a, procurando respostas. Procurando um qualquer sinal de que, o que eu dissera, não fora um completo disparate.

Mas tudo o que ela fizera fora levar os dedos aos olhos. Estava a afastar a lágrima que lhe começara a rolar pelo rosto.

- Prometes que vamos mesmo ver todos os filmes e extras? Prometes que vamos caminhar sempre lado a lado, por mais que consigas correr mais que eu? Prometes que eu serei sempre mais do que alguém de passagem? Prometes cuidar de mim como te prometeste a ti mesmo?

- Prometo... prometo... - retorqui-lhe, envolvendo a sua cintura com os meus braços, beijando-lhe ao de leve o pescoço, voltando à cana do nariz.

- Queres mesmo seguir-me sempre? Mesmo que isso nos leve a novos caminhos? Caminhos desconhecidos?

- Sempre... - disse, dando-lhe mais um beijo.

- Queres mesmo ficar comigo?

- Quero!!!

E foi a vez dela me beijar. De me puxar para dentro de casa e fechar a porta atrás de nós. Encostei-a à porta e beijámo-nos fogosamente, como se a nossa vida dependesse disso. Não conseguia largá-la. Não conseguia deixar de ter os seus lábios presos aos meus. Lábios que, apesar de latejarem, não me impediam de continuar a dançar com a sua língua. Mas não dizem que o que "arde" cura? E os seus beijos, esses..., esses curavam-me a alma.

Agora estou aqui, a escrever-te depois desta ausência. Uma boa ausência! Foste-me importante e nunca, mas nunca poderei agradecer aquilo que fizeste por mim. Não te irei contar o que aconteceu a seguir... possivelmente, a minha amada irá fazê-lo no seu diário, mas é mesmo assim, sabes? Um cavalheiro é cavalheiro até ao fim.

Eu e ela... como estamos? O que somos? Bem, se fiquei radiante em dizer em voz alta, acredita que estou ainda mais em o escrever. Ela é a minha namorada. A minha amada. Aquela que me dá energias para sair da cama. Para querer viver!

Não penses que, com este romance, te esqueço. Será impossível! Mas também sei que estarás sempre aqui para mim. Comigo!

Abraço,

Pedro


P.S.: Ficas Comigo? (Nova Edição)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora