Capítulo 52 - 8 de agosto (Sofia)

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8 de agosto de 2016

Boa tarde diário...

Hoje terei de me despedir de ti. Não para sempre! Apenas por uns dias. E porquê? Porque... Porque algo completamente inesperado aconteceu:

Os meus pais há muito tinham saído para o trabalho, estando a casa entregue a mim e aos meus pensamentos. Pensamentos que até me punham a falar sozinha pela casa.

"Achas que estou a ser precipitada em tê-lo deixado beijar-me? Ou melhor, em nos termos beijado, quando ainda conhecemos tão pouco um do outro?"

Voltei a dar uma trinca no pedaço do gelado Magnum que faltava e limpei rapidamente as mãos. Tinha de ir arrumar o quarto e ver a mensagem que as gémeas me tinham deixado.

- Dizem que as paredes têm ouvidos, pelo que até que seria bom uma resposta da tua parte, casa... - atirei para o ar, endoidecida pelos pensamentos que me começavam a invadir já os sonhos. – Nem um sinal?

O meu coração saltou ao ouvir o toque da campainha.

- Ok... não esperava que "respondesses" mesmo... - comentei para o vazio, despachando-me para ir abrir a porta.

- Olá!

- Oh Deus! – respondi a Pedro, que me olhava curiosamente.

- Ahhhhh, não sou Deus... lamento. – respondeu envolto em gargalhadas.

- Não sejas parvo – respondi-lhe, embaraçada pela situação – Entra!

Ele entrou e, à medida que fechava a porta atrás de si, olhava-me. Tanto ele como eu não sabíamos como nos cumprimentar. Contudo, foi ele a dar o primeiro passo. Aproximou-se, lentamente, de mim, com um leve divertimento estampado no seu rosto, rodeou-me a cintura, levando-me até ele e prendendo-me num abraço ternurento.

- Tenho algo para ti...

- Para mim? Um presente?

Ele coçou a cabeça, como se estivesse arrependido do que dissera e voltou a falar, esta vez mais sério:

- É mais um empréstimo. Mas um empréstimo que, quem sabe, poderá resultar num presente..., quiçá, no futuro.

Uau! Ele falava tão, mas tão bem. Claramente que era tão habilidoso a falar como era a beijar. Sem dúvida um mestre com a língua.

"Sofia! QUE PENSAMENTO!" Ralhei mentalmente, não conseguindo evitar uma gargalhada mental.

- Mas o que é!? – quis saber, curiosa com as suas palavras.

Ele recuou uns passos e retirou algo do bolso traseiro das calças. Era um caderno preto, cuidadosamente tratado.

Estendeu-me o caderno e agarrei-o. Não sei explicar o porquê, mas, naquele momento, sem sequer o folhear, percebi o que era. Era o seu diário. O registo do que ele fazia. Do que ele sentia. E, acima de tudo, o seu coração.

- Eu... Não compreendo... - revelei, sentindo agora as minhas mãos tremer por saber aquilo que tinha nas mãos. – Não posso fi...

- Podes! E vais! E ainda mais!

- O quê? Há mais? – proclamei para mim, não conseguindo decifrar o seu gesto.

- Ouve-me! Eu gosto de ti. Adoro-te! Não consigo deixar de pensar em ti... Não aguento mais não estar junto a ti. Ainda agora... depois dos dias passados, nem sei como te cumprimentar! E, por isso, tomei esta decisão. A de leres o que tenho escrito. Desde sempre! Por favor! Lê. E não me julgues logo no início. Fá-lo apenas no fim..., quando souberes da história toda. É a única coisa que te peço. Não te vim aqui pedir um beijo. Uma relação. Um gelado ou até mais filmes. Não! Só quero isso. Quero que... - ele engoliu em seco, nervoso. – Só quero que me conheças. Que saibas o que sinto por ti.

Olhei para ele, observando a ansiedade estampada no seu rosto. Até eu estava assim. Mas as suas palavras sensibilizaram-me. E sabia que, pela maneira como o dizia, que as suas palavras eram verdadeiras. E, agora, sabendo que as férias estavam a acabar, queria aproveitar o máximo de tempo possível. Tempo esse que esperava ser passado com beijos roubados e, quem sabe, mais filmes do Harry Potter em que pudéssemos estar aninhados um no outro.

- Só fico com o teu, se levares o meu! – exclamei, segura da minha proposta!

Ele também tinha o direito de perceber o que eu sentia. E o que eu queria.

- Está bem... - respondeu, assentindo com a cabeça. – Aceito!

- Só te peço uma coisa.

- Tudo! – respondeu.

As minhas pernas quase que ficaram bambas pela firmeza com que o dissera.

- Que me deixes escrever uma última entrada!

E aqui estou. A fazer o que prometi.

Confesso-te que estou assutada. Não sei como estão as coisas escritas para trás. Se terei sido clara, ou se terei, simplesmente, usado as tuas páginas como "saco de boxe da vida". Mas espero que ele compreenda. Que compreenda que, apesar de tudo o que aconteceu, estar com ele faz-me feliz. E uma felicidade que teve o poder de se prolongar até agora.

Já folheei umas páginas, mas, como ele está à espera que acabe de escrever (deixei-o acompanhado com a televisão) só li a sua última linha. E aquela linha tinha bastado para derreter, por completo, o meu coração.

Espero que ele te trate bem, meu diário, e vais ver que nos veremos muito, mas muito em breve.

Beijinhos,

Porta-te bem!

Sofia

P.S.: Sim Pedro... Talvez o destino esteja mesmo a tentar dizer-nos algo, não achas?


P.S.: Ficas Comigo? (Nova Edição)Where stories live. Discover now