O tarado do cinema

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Capítulo 3 - O tarado do cinema

Durante séculos desde que o cinema foi inventado, ele foi palco de muitos momentos românticos e inesquecíveis, repletos de carícias, sussurros ao pé do ouvido e declarações sigilosas.

A famosa sala escura transcendia a imaginação e atiçava curiosidades e desejos. E muitas vezes o único desafio era conter as "mãos bobas" que insistiam em mapear o proibido, descobrindo contornos antes pouco acessíveis. Podemos afirmar que em algum momento da vida, alguém teve ou terá alguma história ou momento marcante nesse espaço cativante para contar.

Muitas histórias de amor foram iniciadas ali, no apaixonante momento em que as luzes se apagam e a vida acontece através da telona. Esse encantamento seduz os seres enamorados e os fazem sentir toda a emoção transmitida em roteiro, trilha sonora e imagens em movimento, avivando a imaginação de quem ali está.

Em nosso caso específico não há nada de romantismo, pois o "tarado do cinema" se utilizou desse ambiente amorosamente poético, onde poderia envolver a amada em seus braços ao som da trilha que soava sugestiva e lírica, pano de fundo para o beijo entre mocinha e o galã, ampliado na tela a frente deles, para atacar, e nada mais. O intuito ali, era de engolí-la literalmente, como se ela fosse a última chance de vida dele de consumir, digo, de possuir alguém, iniciando aqui a nossa próxima comédia.

Ele era uma figura um tanto quanto exótica, já que essa palavra é sempre utilizada para pessoas desprovidas de beleza, digo diferentes, ou aquelas verdadeiramente estranhas.

Para todos os efeitos uma pessoa comum, dessas que vemos diariamente, de inteligência mediana e sanidade até então nunca questionada. Uma pessoa acima de qualquer suspeita. Era um homem bom, profissional regular, inexpressivo e de poucas ambições, mas dedicado. Era um bom amigo, boa pessoa, sempre gentil, educado e querido por muitos. Um homem trabalhador como a maioria da população, admirado por alguns, ignorados por outros, que paga todas as contas, não tinha nome em SPC ou SERASA, muito menos ficha criminal, nunca fez mal a nenhuma barata, pelo menos que tivessem conhecimento, sempre limpinho e perfumado, unhas impecavelmente cortadas, roupas bem passadas e dentes escovados, com escovinha interdental, fio dental e limpador de língua, tudo politicamente correto. Tinha pouco cabelo diga-se de passagem, mas um corpo esguio, e segundo as mais assanhadas um bumbum até apresentável, redondinho e durinho, para as que admiram essa parte masculina.

Num belo dia, sem demonstrar previamente, surge o interesse pela nossa mocinha, vamos chamá-la de Lívia.

Já eram amigos de trabalho e o convite veio sem susto, simples e sem intenções terceiras, para irem ao cinema, assim Lívia pensava.

Considerando que se tratava de um homem aparentemente sério, que mal teria nisso, já que se conheciam a tanto tempo. Dois amigos indo ao cinema para um bater papo alegre e descontraído, ela estava mesmo muito cansada do trabalho estressante, precisava sair um pouco, tirar o foco do trabalho.

Lívia nem cogitou algo mais, apesar da amiga que tinham em comum tê-la avisado que havia percebido olhares nos corredores, e que se caso algo mais acontecesse, que ela curtisse cada momento. Mas Lívia não quis cogitar a possibilidade, já que o bom rapaz não lhe causava nenhum sentimento além da amizade.

O mais interessante, é que como ele era comedido e acanhado, Lívia nunca lhe perguntou nada da vida pessoal, vida amorosa ou intimidade, só falavam de atualidades, filmes, música e trabalho.

Então ela seguia com assuntos superficiais sem invadir a privacidade do amigo.

Lívia estava tranquila e certa de que ele iria soltar a língua, não sexualmente falando, mas no sentido de se fazer conhecer um pouco mais espontaneamente. Essa era a ideia, pensava a pobre inocente Lívia.

Lista dos Falecidos - As tragicomédias de uma vida amorosaWhere stories live. Discover now