Lista dos Falecidos - As tragicomédias de uma vida amorosa

O pegador

Capítulo 5 - O pegador

A "pegada" neste caso não se trata daquela que os animais deixam na floresta ou aquela lindinha que o coelhinho da páscoa deixa em sua casa para esconder o chocolate da criançada.

Neste capitulo vamos falar de uma pegada que é sinônimo de atitude, aquele ser observador e eficiente que articula bem te envolve e te seduz estrategicamente. Sabe dizer o que você quer ouvir ao pé do ouvido e quando consegue a presa, digo o objeto de paixão, desenvolve bem todo o processo de "apaixonamento" se é que essa palavra existe.

Esses geralmente tem muita fama, fama essa que vai crescendo e se tornando a lenda do pegador a medida que a lista de vítimas, digo, de fãs vai crescendo. Dessa forma a notícia vai se espalhando rapidamente.

E num tempo que não havia whatsapp a notícia seguia como um grande telefone sem fio ou mesmo aquelas fofocas de interior onde uma amiga passa pra outra que conta pra outra e cada uma aumenta um pouquinho, até que o indivíduo vira um mito, com direito a estátua na entrada da cidade, ou tatuagem com as iniciais dos amantes pra marcar a pele.

O nosso personagem da vez, o pegador, não fala muito, é discreto e atento, e a fama o traz as mulheres de forma orgânica, muitas delas pela curiosidade das histórias, ou como desafio pessoal, achando que vão prender e consertar o mulherengo nato. E nessa corrente de curiosidade declarada, elas vão chegando devagar uma a uma, e não necessariamente uma de cada vez, já que ele é pegador experiente e nunca diz um não para uma boca quente e carente, então podem vir com exclusividade, em dupla, trio, pois o que vier ele pega também.

Esse não teve frases clássicas, pois toda sua historia é feita de ações e atitudes deliciosamente marcantes. Falava pouco e beijava muito. Daqueles que enquanto você fala os olhos dele percorrem seu corpo como se estivesse numa máquina de RX ou Ressonância, onde fixado e focado parecia poder ver cada ossinho, artéria ou molécula do seu corpo.

Ele demorou um pouco para se aproximar dela, porque ela sempre com ar muito séria e madura tornava a caça ainda mais interessante e cuidadosa. Ela ela não demonstrou interesse nele a princípio. Então para se aproximar ele mentiu, descaradamente.

A observou com cuidado e inteligentemente se fez observar por ela e a envolveu com o que ela gostava até que algo bom fosse surgindo.

Quando a paixão surgiu inevitavelmente ele se aproximou e mentiu ainda mais, com muito perícia e habilidade.

Mentiu a idade, sobre a legião de fãs, da sua vida antes dela, os gostos estranhos e sua rotina boêmia, entre alguns outros pequenos detalhes importantes e decisivos que colocariam a prova posteriormente a relação dos dois.

Alegou posteriormente que se esses pequenos detalhes não fossem sabiamente omitidos eles não teriam se apaixonado e ela teria recuado para aceitar o beijo, o pedido de namoro e tudo mais que viveriam. Uma grande verdade, já que era bem mais novo que ela, e os hábitos noturnos e gandaieiros eram totalmente opostos da realidade da nossa linda e tranquila mocinha da vez.

Certa vez, num dos momentos que estavam voltando para a casa a noite, ele parou em uma esquina escura, a olhou nos olhos e muito serio disparou:

-Queria te contar uma coisa muito séria. Nem sei como vai recebeir isso... Mas não aguento mais, tenho que te dizer. Você está preparada? Não sei se devo falar, mas vamos lá, me desculpe desde já... Eu já cheirei coca!!!

Assustada e calada diante da situação e já esperando o restante da historia, ela engole seco como quem espera o pior e dá sinal com o olhar para que ele prossiga. Então na mesma seriedade ele dá uma pausa, segura-lhe as mãos com carinho, olha nos olhos dela e continua.