O mão de vaca

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Capítulo 2 - O "mão de vaca"

Quando o assunto é dinheiro e o apego a ele, sempre temos em nossa memória nossos personagens clássicos, aqueles de novelas ou filmes, que sempre nos fazem rir da tragédia muitas vezes cômica que envolve a existência desse ser.

As imagens que vem em nossa mente são sempre de geladeiras com cadeados, carteiras presas com corrente, mãos fechadas ou piadas como aquela que o indivíduo atravessa o rio com o "Sonrisal" na mão fechada e não sai nenhuma bolinha do efervescente, ou mesmo o famoso "Tio Patinhas" que sempre simbolizou nosso avarento favorito, sempre acumulando e escondendo o dinheiro adquirido.

Na vida real não é tão mágico e engraçado como na ficção e provavelmente todos já conheceram um "muquirana, mão de vaca, pão duro, sovina" ou algo do gênero! E não falamos aqui de pessoas economicamente equilibradas ou seguras financeiramente, aquelas conscientes do valor do dinheiro! Não! Estamos falando aqui daquele indivíduo que todas as vezes que sai de casa, sempre tem uma desculpa de que esqueceu a carteira, que não sabe como o cartão estava na carteira a semana toda e exatamente naquele momento desapareceu misteriosamente, ou aquele que quando abre o menu ou cardápio já faz questão de gritar que está tudo caro. Ele geralmente nunca sai de casa para não gastar dinheiro! Em nosso caso específico esta figura aparece na vida de Vivi da melhor e mais segura forma, teoricamente falando, através do famoso "QI" (quem indica).

Ele chegou de mansinho, muito tímido, dócil, carinhoso, tinha medo até de olhar nos olhos ou falar mais alto, ou mesmo de expressar qualquer pensamento próprio, expor ideias ou algo que demonstrasse algum traço de sua personalidade. Ter uma atitude mais ousada ou mesmo falar sobre qualquer assunto mais íntimo ou polêmico jamais, principalmente na frente de Vivi que para ele, era uma amiga muito especial. Ele fazia questão de demonstrar sempre que ela possuía ali naquele homem puro, um amigo leal e respeitoso, de uma fidelidade e obediência quase canina. Um homem de família, simples modesto e muito reservado. Tudo é silêncio e tranquilidade para aquela criatura tão gentil. Praticamente o genro que mamãe sempre sonhou. E Vivi gostava dele assim, afinal ele não a causava grandes palpitações, mas era agradável, um amigo atencioso e nada mais.

Mas as mulheres tem sua vida emocional movida por ciclos, e num desses momentos quase labirínticos, depois que seus hormônios começam a gritar, e sua carência e fragilidade logo ficarem visíveis, a percepção de feio, bonito, simpático, amoroso, bom ou ruim se modifica, mensalmente, para o desespero geral. Tudo fica caótico para uma mulher que está ovulando, seja na doçura ou ódio que dura alguns segundos, seja nas decisões tomadas no calor do momento. Dessa forma, assim como nos filmes de humor, nunca aceite pedido de casamento ou namoro nesse período espere a taxa de hormônio voltar ao normal, melhor! A vulnerabilidade nesse período é inevitável. Algumas ficam nervosas e estressadas somente, mas o maior perigo são as que ficam carentes, esse é o grande desafio, superar o ciclo sem mandar whatsapp ou dizer SIM 100% consciente da decisão. Claro que para toda regra há exceções, mas não era o caso de Vivi.

Vivi então tomada dessa onda fértil começou a ver de outra forma a relação com o amigo que lhe foi tão bem indicado outrora. Antes ela ficava desconfiada e desconfortável com a insistência dos amigos, mas depois do seu vulcão hormonal começar o processo de erupção ela começou a sentir de outra forma e concluía que seus amigos queridos só queriam vê-la feliz e bem, não havia ali nenhum exagero como ela vira anteriormente. Ela logo começou a analisar o amigo mais minuciosamente.


Vivi então resolveu reparar cada movimento do amigo durante seus encontros com ele, e a aceitação para essa nova possibilidade a consumia em doses homeopáticas. Ela pensava: uma pessoa tão querida, boa ouvinte e discreta poderia ter sim seus encantos, porque não! O como se tratava de um rapaz quase inocente, a iniciativa, para uma possível aproximação, teria que ser dela, obviamente!

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