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Fechei a minha noite com o restante dos clientes, fazer sexo com o restante dos clientes foi algo chato para mim pela primeira vez, não senti prazer, eu queria só ir para casa, escutar uma boa música e chorar até pegar no sono, minha sorte foi que nenhuma das meninas perceberam que eu não estava bem, deixei a Flávia fechar o bordel e fui pra uma pracinha não tão longe dali, eu não fumava, mas bebia, peguei uma Heineken num barzinho aberto e me sentei num banco em frente duma lagoa com patos, já passava das duas manhã, o movimento da cidade já era mais calmo, só se via alguns adolescentes sem rumo, outros sofrendo por amor e com a mente cheia perambulando pela cidade, e tinha eu, ali, sentada pensando numa pessoa que neste momento com certeza não estaria pensando em mim, talvez eu até estivesse me perguntando o porquê daquela nostalgia que por ora era boa e por ora era ruim, era algo constrangedor para mim, alguém que nunca experimentou "amar de verdade", eu tinha sonhos e planos e principalmente coragem para realizá-los só que nada me dava uma ponta de atitude pra realizar. Não dá pra construir um lar em alguém que só quer ser o teto, isso é fataticamente a lei da vida. Eu não podia erguer meus braços por uma pessoa que nem movia um músculo por mim, era totalmente, honestamente, literalmente, inútil.

Enquanto eu estava sentada com meus pensamentos vagos nem vi um rapaz loiro, de barba rala, olhos claros, com sua camisa despojada e cabelos bagunçados e claro, que não pude deixar de notar nos seus olhos que além de claros estavam intensamente vermelhos.

—Hm, aceita?–Ofereci um pouco da minha Heineken pro mesmo.
—Confesso que é uma boa pedida.–Ele pegou a bebida e sorrio de canto aceitando.
—Você parece está precisando mais do que eu.–Digo. Ele suspira mas não dá detalhes da sua vida. Ele me entrega a bebida e eu pego dando um gole pesado.
—Vida difícil, mas graças a Deus não é uma bosta. –Digo e jogo a garrafa de vidro da Heineken já vazia na terra, e a mesma se impacta no chão mas não quebra.
—Pelo menos você não acabou de ver sua namorada num ménage com seu melhor amigo e uma puta de um bordel qualquer, e tem sua mãe internada num hospital em estado crítico porque ela está de câncer.–Ele suspira e me olha.
—Me diz que você fez esse roteiro nessa mente agora?–Eu pergunto surpresa.
—Adoraria.
—Cacete.
—Acho que isso pede mais que uma Heineken né verdade?–Ele se levanta e me dá a mão pra que eu possa me levantar.
—Adoraria.–Uso suas palavras e pego em sua mão pra me levantar.

Caminhamos até o bar mais próximo e compramos várias bebidas pois os bares dali já estavam fechando, e estamos muito enfáticos das nossas vidinhas patéticas.

—E você? Só perdida na madrugada?–Ele me pergunta e eu penso em contar a verdade, de que eu sou uma cafetina e que estou apaixonada por um cliente que saí uma única vez.
—Tô apaixonada por uma pessoa que saí uma única vez.–Dou um gole na minha bebida.
—Qual mal? –Ele dá de ombros.
—Ele não liga pra mim.–Suspiro.—Só pra negócios e negócios.
—Falando assim até parece que estamos falando do meu irmão.–Ele ri e bebe um pouco.—Meu irmão é deste jeito, mas ele só saí com cadela de bordel de luxo, e só se preocupa com trabalhos, além do mais ele é casado.–Penso até que estamos falando da mesma pessoa, até meu sexto sentido desperta, mas o ignoro, o Alex não é casado, não vi sua aliança.
—Nossa e a mulher dele? –Pergunto curiosa.
—Contando que ela tenha os luxos supridos, que se dane o resto.–Ele revira os olhos e abre mais uma garrafa de bebida.
—Mais vadia que as cadelas de luxo.-Digo em seco, mas sermos chamadas de cadela era um mínimo que éramos chamadas quando descobriam da nossa vida.
—Nem fala.–Ele bebe mais e seca mais uma garrafa e eu já me sinto tonta.
—Acho que já vou.–Digo assim que percebo que já estou chegando ao ápice.
—Não vai poxa..–Ele me puxa pros seus braços e me abraça.
—Nestante estou falando cagueira.–Digo e dou risada do jeito meigo dele.
—Eu não ligo, minha vida já tá uma cagueira, acho que mais um pouco não iria estragar, né verdade? –Ele comenta e eu dou risada.
—Quero sair daqui.–Penso em algum lugar.–Vamos do outro lado da cidade?
—Onde? No morro?–Ele sugere e eu dou de ombros, apesar de saber que os meus pais moram lá.—Ta tendo baile lá por acaso, vamos colar, tenho moral com algumas pessoas.
—Você todo pam, frequenta o outro lado da cidade? –Pergunto e dou risada.
—Haha, muito engraçadinha você.–Ele levanta e me dá a mão pra que eu levante, logo me levanto e vou atrás dele.

Ele para na frente de uma moto bastante turbinada, não sabia direito que moto era, mas era uma das bem caras que nem em dez vidas de cafetina daria pra comprar uma moto daquelas.

—Uau, que máquina.–Digo apreciando o brilho daquela máquina vermelha e branca.
—Vai subir ou babar minha tintura?–Ele ri e me entrega o capacete.
—Só andei em carros.–Mal me lembro como coloca um capacete, pois a última vez que andei de moto eu ainda morava na comunidade, desde então só andava no carro dos clientes.
—Nossa, cê acredita!–Ele me puxa pela cintura e me faz colar o corpo meio próximo ao dele, é possível sentir sua respiração perto de mim, fico nervosa mas não recuo, ele me encara, e suas pupilas dilatam, e ao percebe que estou nervosa, ele pega o capacete e sem dizer uma palavra o coloca em mim em questão de segundos.
—O-brigado..–Digo gaguejando e nervosa.

Subo na moto e ele manda eu apertar sua cintura, grudo nele e fecho os olhos logo quando ele dá partida, ele corta os carros sem medo, ele tira riscos dos retrovisores e nem respeita os semáforos. O caminho até o outro da cidade não é tão logo assim, demoramos uns trinta minutos pra chegar e quando chegamos já pude sentir um frio na barriga tomar conta de mim, e meu corpo automaticamente gelar, e só em saber que eu era herdeira daquilo tudo meus olhos encheram de lágrimas, e por um segundo me arrependi de ter fugido, mas logo voltei a realidade quando eu ouvi o garoto me chamar, e por sinal eu nem sabia seu nome.

—Eu tô com um estranho do outro lado da cidade, correndo um perigo danado, acho que tenho o direito de pelo menos saber teu nome.
—Tava até demorando.–Ele sorri assim que coloca o seu capacete em cima da moto.—Me chamo Enzo.
—Sou a Gabriela.–Sorrio e ele pega em minha mão e as entrelaça.
—Vamos subir pra não perguntarem se a gente tá admirando ou querendo invadir.–Ele diz enquanto subimos e eu fico meio nervosa, mas encaro a situação, mesmo sabendo que posso encontrar meus pais.


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⏰ Última atualização: Oct 16, 2017 ⏰

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