- Como ele fará isso? – O lado materno e protetor de Cíntia gritava dentro dela. Não queria que seu filho tivesse algo tão difícil para realizar. Otávio pegou no braço da esposa, como se concordasse com sua observação.

- Apenas sendo ele mesmo! – dizia com um sorriso e acrescentou para tranquilizar os pais. - Tanto vocês quanto ele terão o apoio necessário. Utilizem nossa estação para se equilibrarem e tudo vai acontecer naturalmente. É aconselhável que venham uma vez ao mês.

- Como faremos para chegar até aqui? Vai enviar um Unicórnio para nós? – questionava Otávio com certa ironia.

- Acho que a logística ficaria mais fácil se se olharem como hoje. – Argus coçava a barba displicente. O sarcasmo de Otávio passara despercebido...

- Não fizemos nada de diferente! – o marido de Cíntia falou acidamente.

- Ah! Fizeram sim. – Argus lançou-lhe um olhar divertido e prosseguiu: - Sempre que chegarem é bom passarem pela cachoeira e depois...

- Morreremos com a queda em nossas cabeças! Essa cachoeira tem a altura de um edifício de mais de cinco andares! – Indignado, Otávio brigava com os braços para cima. Todos estavam doidos e somente ele são? Seria pegadinha? Torcia para que alguém chegasse rindo e dizendo que era uma brincadeira, retirasse o papel de parede com os planetas, e eles se veriam num cenário!

- Nem se molharão! – Pela primeira vez, Argus demonstrava impaciência em sua voz. – Já disse para esquecer a razão! – Fitava Otávio aborrecido. O pai de Felipe encolheu os ombros e calou-se. - Muito bem. – O orientador limpou a garganta e voltou a explicar: - Depois de passarem pela cachoeira, irão àquela árvore. – Para o casal, antes de Argus referir-se ao arbusto, o lugar estava vazio. No entanto (do nada!), surgira uma árvore sete copas quatro ou cinco vezes maior que as da Terra. – Foi projetada para a equalização das emoções com o intuito de dar a vocês o controle da visão-transporte.

Otávio segurou-se para não dar risada do nome esquisito que o velho havia dado ao fenômeno. Cíntia o conhecia o bastante para fitá-lo com a cara fechada para que o marido contivesse sua vontade de criticar.

O casal e Argus chegaram à árvore, pareciam formigas perto dela. Havia várias pessoas em seus galhos. Suas vestes eram as mesmas do velho, mantinham as pernas cruzadas e a cabeça baixa e... levitavam. Não era possível distinguir homem de mulher.

Otávio engoliu saliva antes de perguntar:

- São anjos? – Acabou abandonando seu lado racional.

- São o que quiserem ser e o que vocês quiserem ver – Argus afirmou.

- Eles levitam! – exclamava Cíntia abismada.

- Isso é normal quando o amor transborda – concluía Argus dando de ombros. Como se fosse algo trivial.

- Entendo pouco as coisas daqui – Otávio disse para si. Não impedindo que o orientador o escutasse.

- É simples. Pense e verá! Imagine e existirá! – A certeza de Argus quanto àquelas coisas inusitadas os intrigava. – Olhe ali! O pássaro. – Indicava com o dedo na direção contrária à árvore. - Conseguem ver?

- Sim – o casal respondeu em coro.

- Quais cores possui? – Argus os interpelava sorridente.

- Possui a cabeça cor-de-rosa, o corpo laranja e as asas amarelas – a mãe de Felipe disse com convicção.

- Não! Ficou louca, Cíntia!? – Otávio estava cansado da brincadeira. Agora também não enxergava? – O pássaro é azul com o bico vermelho.

- Que pássaro é este? – A esposa não compreendia Otávio não ver como ela.

- O meu pássaro! – bradou aborrecido. Pelo menos nisso precisava ter razão.

- Ele está correto. É a imaginação dele. Vivemos conforme nossa percepção. Conseguimos ver nos outros somente o que há em nós. Este é o milagre da vida. E o seu equilíbrio também. Assim... Enquanto concentrarem-se em vocês, se olharão e não sairão do lugar. As moléculas não se moverão, pois estarão exercendo controle sobre elas. E... para escolher aonde gostariam de ir, basta imaginarem-se no lugar. – Ele fechou os olhos e encheu o peito de ar. – É preciso sentir a emoção e viver o local desejado para chegar até ele.

- E se cada um pensar num local diferente? – indagava Otávio com desconfiança.

- Isso nunca acontece – afirmava Argus com os olhos cerrados.

- Não. – Otávio se rendeu com uma careta.

- O controle está aqui. – O mentor colocou a mão no coração do marido de Cíntia. – A chave, aqui. – Agora, apontou o dedo indicador para a própria cabeça.

- Talvez, tenha começado a sentir um pouco deste lugar. – Otávio passava os olhos pela árvore. – Quem são? – Insistia em saber mais sobre os seres flutuantes.

- Bom... São seres de Mátre como nós, que adquiriram conhecimentos suficientes para transmitir paz. No entanto, para mim, quando estão ali são Lux! Luz em latim. Equilibram a galáxia com seus pensamentos. Mantendo-se iluminados o tempo todo. Durante a noite, vê-se vários pontos de luz.

- Sabia que pensamentos eram fortes, mas não tanto – Otávio observou.

- Nem imagina a dimensão de seus poderes. Os pensamentos deles já evitaram guerras, catástrofes, homicídios, suicídios...

- Ainda há isso tudo na Terra – interrompia Otávio com um tom de desdém.

- Seria pior sem eles! – Argus suspirava. – Muito pior. – O orientador desviou seu olhar para as árvores e acrescentou melancólico: - Mesmo com muito esforço, não conseguiram evitar a tristeza na Terra. Por isso, estamos aqui...

O casal olhava pesaroso para Argus, que continuou seu discurso:

- Podem ver os pássaros. – Fixou o olhar no casal. – Conseguem ouvi-los?

- Não – respondeu Cíntia surpresa. Não pensara nisso. Otávio balançou a cabeça para os lados.

- Porque não silenciam a mente. É isso que acontece quando se deixa invadir por pensamentos de aflição e ansiedade – Argus disse, demonstrando desaprovação.

O orientador pediu ao casal para se deitarem embaixo da árvore. Assim fizeram e puderam sentir a energia penetrar a pele. As apreensões sumiram juntamente com as emoções ruins. Ficando a tranquilidade e a leveza de concentrar-se no próprio ser. Conseguiram ouvir os pássaros e a vida vibrar em acordes harmoniosos.

Que lugar incrível, não? Agora voltaremos a procurar as crianças! No próximo capítulo, que já está disponível.

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Janelas da Alma - Segredos ReveladosWhere stories live. Discover now