Capítulo 09

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Bom dia! Estão preparados? Os capítulos de hoje estão muito emocionantes! Aproveitem!

CAPÍTULO 09

Estavam no carro dos pais de Lívia, a caminho do apartamento que ela morou até os vinte anos de idade. Imersa em seus pensamentos, a filha de Antônio observava a cidade. Giulia não parava de falar um segundo sequer, mas a mãe não a escutava. Lívia olhava o "tapete" de flores amarelas formado embaixo das árvores de Cambuí. Analisava cada local minuciosamente. Rememorando a infância.

Ela, Thiago e Bia viviam grudados. Moravam na Asa Sul e andavam pela região a pé. Iam à casa uns dos outros, à escola, à Igreja, à carrocinha de cachorro quente favorita... Era incrível viver ali! Empurravam a cadeira de rodas de Bia para todos os lugares. Se não dava para passar por causa de degraus ou calçadas quebradas, Thiago pegava a amiga no colo e Lívia levava a cadeira.

Eles se conheceram na escola. Lívia e Bia aos oito anos de idade. Thiago entrou no ano seguinte. No início, ele era idiota como os outros meninos. Depois de quase arrancar todo o cabelo de Lívia, tornaram-se amigos. As professoras ficaram espantadas. As meninas eram tão unidas que mentiram para o garoto serem amigas desde quando nasceram. Disseram que se conheceram no berçário. Thiago descobriu a mentira na adolescência, quando soube que Bia era de Belo Horizonte, e ficou com raiva, o que serviu para elas rirem bastante de sua cara.

- Pai, vai pelo Eixo W, por favor – Lívia pediu a Antônio.

Ela queria passar pela Quadra 114 Sul, onde havia uma "floresta". Na realidade, eram árvores imensas e bem próximas umas das outras. Quando crianças, eles brincavam ali com fadas, duendes, bruxas e bichos de espécies jamais encontradas nos zoológicos. Certa vez, apareceu um Unicórnio negro com asas enormes. Os três subiram nele e sobrevoaram Brasília. Lívia sentia que ninguém poderia enxergá-los. Abriu os braços a fim de viver aquela liberdade plena. Thiago segurou com firmeza na cintura da amiga para que não caísse. Sobrevoaram entre as torres do Congresso Nacional, que estavam cobertas por um arco-íris de cores vibrantes. Bia sorria, levantou os braços, queria tocá-lo. Quebrando para a esquerda de uma vez, "tiraram um fino" no Supremo Tribunal Federal, chegando ao Palácio do Itamaraty. Lívia jamais imaginaria o quanto a cidade vista de cima era bela. E não se lembrava de haver tantos girassóis na Praça dos Três Poderes. Mal dormira à noite. Tamanha a excitação que palpitava em seu coração.

Por causa das recordações, ria com uma leveza rara. Abaixou os olhos e fechou-os.

- Por que está chorando, mamãe? – Giulia passou a mão no rosto de Lívia.

- Está tudo bem – Lívia mentiu ao enxugar a face. Nem percebeu que chorava.

Através do retrovisor, Antônio lançou um olhar cúmplice à filha.

- Eu não choro quando estou bem. – Com as sobrancelhas juntas, Giulia fitava Lívia.

- Sua mãe está emocionada, querida. – Letícia tentou tranquilizar a neta. Logo após, olhou para a filha. – Nunca entendi não vir a Brasília. Somente nós visitávamos vocês.

Lívia não respondeu e voltou a olhar pela janela.

- Minha mãe está com medo de morar aqui – Giulia disse à avó. Lívia espantou-se. Não havia falado nada a ela. De onde tirava essas ideias?

- Não estou com medo. – Lívia tentava disfarçar a angústia num sorriso forçado.

- Vocês não me enganam – a filha afirmava furiosa.

A mãe fechou os olhos com força como se rezasse para espantar a irritação e não brigar com a garota. Passou o braço pelos ombros de Giulia e a aproximou de si. Ao tornar a observar a cidade, pediu:

- Não pense nisso. – A mãe beijou o topo da cabeça da menina. Ela é uma criança. Lívia não a quer envolvida em suas neuras. – Olhe as árvores. Veja como são lindas as flores – sugeriu, pois não havia nada que encantasse mais a filha que árvores! E quanto maior, mais ela se deslumbrava. Giulia adorava conhecer pés de fruta, plantas do cerrado... Analisava minuciosamente seus galhos e não sossegava enquanto não chegava ao topo, deixando a mãe apreensiva. Matteo, no entanto, a incentivava, garantindo-lhe que conseguiria. Nas viagens da família, a visita ao Jardim Botânico da cidade é obrigatoriamente acrescentado ao roteiro. Talvez, somente as luvas estivessem no páreo da predileção da garota.

- São mesmo... – Apesar de apreciar a vista, Giulia suspirou pesado ao concordar. Sabia que a mãe não estava feliz e isso a incomodava.

- Eu que trouxe as sementes de Cambuí na mala quando vim de Minas Gerais. – O avô modificou o clima do carro com a brincadeira. O pai de Lívia tem o dom da alegria.

- Sério?! – a neta perguntou desconfiada. Não poderia ser?

- Sim! Eu plantei todas essas árvores. – Antônio afirmava com um sorriso.

- Que legal! – a menina gritou eufórica. – Aqui tem Jardim Botânico?

- Tem sim! E é enorme. Você vai adorar! Eu a levarei lá amanhã – o avô prometeu.

- Oba!!!! – Giulia comemorava olhando para a mãe, na esperança de que se alegrasse. Lívia abriu um sorriso sincero ao ver a filha feliz e olhou com gratidão para o retrovisor. O pai piscou para ela.

Ao chegarem em casa, encontraram Betânia. Ela trabalhava para a família desde a infância de Lívia. Era ela quem a levava aos lugares, a arrumava para as apresentações de dança... Betânia tinha um carinho enorme pela filha dos patrões, mesmo já tendo passado vários apuros com os sumiços repentinos da garota.

Lívia se assustou ao ver o quanto envelhecera. Também! Passaram-se dez anos... E vários daqueles cabelos brancos foram causados por ela, tinha consciência disso.

- Minha Lívia, como vai? – Betânia a abraçava forte. Depois a soltou. Queria analisar a filha dos patrões. – Está mais linda ainda.

- Obrigada. – Lívia voltou a abraçá-la. – Que saudade! – disse com a voz embargada.

– Senti sua falta. – Betânia falou entre as lágrimas. – Quanto tempo?

- Uma década! – Lívia afastou-se e enxugou o rosto enrugado de Betânia, segurava sua mão e a observava com carinho.

Ela não teve filhos e dedicou sua vida ao trabalho. Tornara-se da família. Lívia sempre insistiu para que os pais a levassem para encontrá-la. Todavia, os ciúmes de Letícia impediram que o desejo da filha fosse satisfeito. Antônio tentou diversas vezes. Em outras, Lívia falou diretamente com Betânia. Dizia que mandaria a passagem. Mas ela respeitava muito a patroa para desafiá-la assim. Não por medo, por compaixão mesmo. Imaginava o sofrimento que deveria palpitar no peito de Letícia, que dedicou a maior parte de sua vida ao trabalho. Abdicou dos melhores momentos com Lívia. Não foi às apresentações de balé, que a menina dançava lindamente, e raramente Betânia não se emocionava. Quando via, já estava com lágrimas e um sorriso de admiração no rosto. Letícia também não pôde comparecer às competições de natação para vibrar pela garota. Perdera tanto... Trabalhara tanto. Não participou da melhor parte da infância de Lívia e... quando se aposentou, a filha mudou-se do Brasil.

- Esses são meus filhos – Lívia apresentou as crianças para ela. – Giulia e Matheus.

- Você que é a vovó três? – Matheus perguntou. Lívia deu uma piscadela para Betânia, que sorriu orgulhosa.


Ah é muito amor numa estória só!!! Rsrs Mas ainda não acabou! Vamos para o próximo capítulo?

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