Capítulo 19 - I won't give up

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— Então você vai para casa na passagem de ano. Faz bem, Katerina...— ela resmungou alguma coisa depois daquela afirmação, mas só conseguia escutar a mastigação daquele trecho de carne moída e tomates.

— Mesmo depois de tudo, você ainda vai ver essas pessoas, Kate? — Nichole estava na mesa e sua clara e comum aversão pelo meu passado era bem nítido naqueles olhos emoldurados por grossas camadas de rímel. Ela e Samantha bem poderiam ser gêmeas se não fosse pelo detalhe de alguns anos de diferença e os cabelos oxigenados que a mais velha gostava de usar.

— É a família dela, Nic. Tenha um pouco de respeito. — o Sr. Russell resmungou, educadamente cobrindo a boca com uma das mãos enquanto falava, já que ninguém tinha a obrigação de ver a comida mastigada entre seus dentes.

— Família? Isso mal pode ser considerado um parentesco. Parece que o passatempo dessas pessoas é causar mal para ela e vocês ainda insistem que viajar para lá é uma boa ideia? Vocês podem dizer o que bem quiserem, mas sabem que eu estou certa. Ninguém deveria ser exposto a esse tipo de maluquice.

Nichole apontou o indicador para cada membro da própria família que se apertava em torno da mesa quadrada de tampo azul, observando em silêncio a sinuosa curva das longas unhas postiças que ela estava usando naquela noite.

Os Russell ficaram em silêncio depois daquilo e eu interpretei como um sinal dos deuses do universo me indicando que se até a família de Sam estava me dando algum suporte (mesmo que a contragosto de alguns membros), eu deveria seguir adiante. E me lembrar desse simples acontecimento ajudava as horas de voo a passarem mais depressa com uma pontinha de esperança e alguns cochilos, escutando um canal de músicas randômicas nos fones de ouvido.

Apenas quando estava desembarcando no Aeroporto Internacional Louis Armstrong é que apanhei o celular na bolsa e liguei para Adria. Ainda estava sonolenta depois do voo, um pouco enjoada por conta dos chocolates que comi e muito incrédula por estar pisando em solo louisiano mais uma vez. Já fazia um bom tempo que não colocava os olhos naquele aeroporto tão movimentado, sentindo o cheiro que o sistema de climatização deixava no ar e escutando os breves acordes de uma banda de jazz vindo de algum lugar entre os corredores.

Depois de uma segunda tentativa com o celular, finalmente escutei alguma vida do outro lado da linha.

— Adivinhe onde eu estou? — tentei sorrir enquanto apanhava minha mala da esteira de bagagens, conferindo se estava tudo bem antes de me afastar do salão entre a grande quantidade de pessoas que estava por ali. Comecei a torcer para que minha irmã tivesse reconhecido minha voz ou que não estivesse bêbada, como parecia de praxe todas as vezes que voltava para casa.

Kate? — Ah, o alívio. — Não me diga que você voltou pra Inglaterra?

— Não me faltou vontade, mas nesse momento eu estou bem longe da terra da Rainha, Adria. Você ainda está no hotelzinho de quinta no centro da cidade?

Estou sim, mas porque você... Você está em Nola, Kate? — Adria gritou, como de costume, dando aqueles guinchinhos animados que costumava soltar em sequência. Ela não sabia se ria ou se chorava por saber que eu estava prestes a pegar um táxi e surgir no French Quarter com minha velha mala e poucos trocados a tiracolo, ou se começava a lamentar minha perda de tempo e dinheiro apenas para tentar enfrentar a matriarca da família Dalton.

Vamos ficar com a primeira opção.

Quer que eu te pegue no aeroporto? Você já comeu alguma coisa? Porque você não me avisou antes de pegar o voo, sua maluquinha?

Enquanto Adria estivesse em sua costumeira mania de me encher de perguntas sem tempo para resposta, as coisas estariam bem. Estava frio, como senti assim que atravessei as portas de vidro para a plataforma do lado de fora; mas não frio o suficiente para animar a "Big Easy" com qualquer promessa de uma nevasca.

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