Muitas coisas na vida são complicadas. Como correr usando saltos altos, acertar a mira de um aviãozinho de papel, apanhar um gato arrisco, encher a boca com mais de dois cupcakes e fazer Samantha Russell parar de rir depois dos primeiros minutos de uma gargalhada insandecidamente decidida a me deixar entre a irritação e uma dupla de idiotas rindo de algo que, aparentemente não deveria ser alvo de risadas.
Estou falando sério. A risada de Sam era bem pior do que uma doença altamente contagiosa. Um deslize e bum! Lá estava rindo junto com ela. Maldição.
— Ai, ai... — ela puxava o ar com dificuldade, dava para escutar pelo telefone, — então você quase puxou os cabelos da prima do seu Carma?
— Não me faltou vontade. Inglesinha metida.
— Prima do nariz-empinado. O que você esperava dela? Beijos e abraços? Talvez um convite formal para serem melhores amigas para sempre?
Pronto. Samantha estava rindo de novo e dessa vez parecia que um porquinho estava com ela, fungando esquisito na ligação. Claro que eu sabia que o nariz de Sam fazia aquele som às vezes, mas era engraçado imitá-la e cair na risada.
— Ela não me tratou mal. Mas também não foi nada discreta. Parecia que ela estava fazendo a marcação de um jogador de futebol com aqueles braços todos e se apertando e segurando e...
— Oh, espere aí. Você está se escutando, Branquela?
— Londres ainda não me ensurdeceu, Sam — tive que rir ainda mais, enquanto rolava na cama para apanhar mais algumas bolachas de canela e chocolate, acompanhamento perfeito para o leite quente que tinha pedido assim que cheguei ao hotel.
— Repete pra mim essa história da marcação de jogador de voleibol.
— Futebol.
— Que seja. A moça estava fazendo marcação... — Sam dava a deixa para que completasse a ideia. Eu devia ter ficado em silêncio, mas minha boca sempre foi muito grande.
— Marcação cerrada! Absurdo! Como se alguém fosse surgir de uma moita no meio do Hyde Park e levar o Carma preso dentro de uma caixa de madeira e correntes, pronto para ser exportado para algum país exótico onde pudesse declamar Shakespeare para os nativos! E os cochichos? Qualquer um que visse ia dizer que eram namorados ou algo ainda mais sério!
— Sei. E você ficou com ciúmes só nessa parte do passeio ou a noite toda?
— Ei! Eu não fiquei com ciúmes nenhum. Talvez um pouquinho, mas só... Acho que ela deveria se comportar um pouco melhor na frente de pessoas desconhecidas, só isso.
— Certo. Em que parte você começa a cair na real de que não está enganando ninguém, Branquela?
— Eu não quero enganar ninguém, oras. Estou dizendo a verdade.
— Exatamente. Não está enganando ninguém, Kate. Eu disse que você estava caidinha por esse tal Carma e Samantha Russell nunca se engana! E depois de todo esse lance de pontos turísticos, café, sorrisos? Branquela, você só está mentindo pra você mesma, confesse.
Mordi a última bolacha e fiquei levemente pensativa. De verdade. E isso é um fato importante, levando em consideração que meus momentos de pensamentos nos últimos meses eram dedicados a problemas de um futuro matrimônio e sobreviver em uma megalópole.
Não estava mentindo sobre nada, menos ainda sobre qualquer sentimento estranho desenvolvido por um homem tão irritante e insuportável quanto o Carma. Tudo bem que ele tinha seus pontos positivos, como ser um herói improvável e ter algumas atitudes surpreendentes quando menos se espera qualquer coisa vinda dele, mas isso não o transforma em um Príncipe Galante. Pior ainda! Não o transforma no MEU Príncipe Galante, e fim de conversa.
ESTÁ A LER
Orleans
General FictionKaterina Dalton nasceu com algumas maldições: os genes azarados de sua família, um casamento arranjado e aniversários fracassados. Decidida a resolver pelo menos um de seus problemas, ela foge da ultrapassada tradição familiar para reiniciar na gran...