Capítulo 10 - I Really, really, really... Like you.

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Muitas coisas na vida são complicadas. Como correr usando saltos altos, acertar a mira de um aviãozinho de papel, apanhar um gato arrisco, encher a boca com mais de dois cupcakes e fazer Samantha Russell parar de rir depois dos primeiros minutos de uma gargalhada insandecidamente decidida a me deixar entre a irritação e uma dupla de idiotas rindo de algo que, aparentemente não deveria ser alvo de risadas.

Estou falando sério. A risada de Sam era bem pior do que uma doença altamente contagiosa. Um deslize e bum! Lá estava rindo junto com ela. Maldição.

Ai, ai... — ela puxava o ar com dificuldade, dava para escutar pelo telefone, — então você quase puxou os cabelos da prima do seu Carma?

— Não me faltou vontade. Inglesinha metida.

Prima do nariz-empinado. O que você esperava dela? Beijos e abraços? Talvez um convite formal para serem melhores amigas para sempre?

Pronto. Samantha estava rindo de novo e dessa vez parecia que um porquinho estava com ela, fungando esquisito na ligação. Claro que eu sabia que o nariz de Sam fazia aquele som às vezes, mas era engraçado imitá-la e cair na risada.

— Ela não me tratou mal. Mas também não foi nada discreta. Parecia que ela estava fazendo a marcação de um jogador de futebol com aqueles braços todos e se apertando e segurando e...

Oh, espere aí. Você está se escutando, Branquela?

— Londres ainda não me ensurdeceu, Sam — tive que rir ainda mais, enquanto rolava na cama para apanhar mais algumas bolachas de canela e chocolate, acompanhamento perfeito para o leite quente que tinha pedido assim que cheguei ao hotel.

Repete pra mim essa história da marcação de jogador de voleibol.

— Futebol.

Que seja. A moça estava fazendo marcação... — Sam dava a deixa para que completasse a ideia. Eu devia ter ficado em silêncio, mas minha boca sempre foi muito grande.

— Marcação cerrada! Absurdo! Como se alguém fosse surgir de uma moita no meio do Hyde Park e levar o Carma preso dentro de uma caixa de madeira e correntes, pronto para ser exportado para algum país exótico onde pudesse declamar Shakespeare para os nativos! E os cochichos? Qualquer um que visse ia dizer que eram namorados ou algo ainda mais sério!

Sei. E você ficou com ciúmes só nessa parte do passeio ou a noite toda?

— Ei! Eu não fiquei com ciúmes nenhum. Talvez um pouquinho, mas só... Acho que ela deveria se comportar um pouco melhor na frente de pessoas desconhecidas, só isso.

Certo. Em que parte você começa a cair na real de que não está enganando ninguém, Branquela?

— Eu não quero enganar ninguém, oras. Estou dizendo a verdade.

Exatamente. Não está enganando ninguém, Kate. Eu disse que você estava caidinha por esse tal Carma e Samantha Russell nunca se engana! E depois de todo esse lance de pontos turísticos, café, sorrisos? Branquela, você só está mentindo pra você mesma, confesse.

Mordi a última bolacha e fiquei levemente pensativa. De verdade. E isso é um fato importante, levando em consideração que meus momentos de pensamentos nos últimos meses eram dedicados a problemas de um futuro matrimônio e sobreviver em uma megalópole.

Não estava mentindo sobre nada, menos ainda sobre qualquer sentimento estranho desenvolvido por um homem tão irritante e insuportável quanto o Carma. Tudo bem que ele tinha seus pontos positivos, como ser um herói improvável e ter algumas atitudes surpreendentes quando menos se espera qualquer coisa vinda dele, mas isso não o transforma em um Príncipe Galante. Pior ainda! Não o transforma no MEU Príncipe Galante, e fim de conversa.

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