O mão de vaca

Começar do início
                                    

Vivi era extrovertida, independente sempre resolvia suas questões com muita objetividade, como todas as mulheres de sua idade. Era uma mulher forte, muito amorosa e feminina, e apaixonada por desafios. Ela precisava sanar a carência, mas não poderia correr o risco de assustar o amigo, senão poderia perder o possível amor e a amizade que já era tão importante para ela naquele ciclo, digo, momento. E aos poucos ela foi gostando da ideia de transformar uma amizade tranquila em uma linda historia de amor, onde o amor surge num olhar, arrebata o coração, e perdura por toda a eternidade. Pelo menos nos filmes de comédia romântica que ela amava.

Depois de semanas sem sucesso algum, veio a oportunidade.

A noite estava estrelada, uma brisa fresca, um lugar aconchegante, mas lotado. Todos os amigos felizes e lindos, os amigos de Vivi claro, porque o restante que estava na festa eram desprovidos de beleza em sua maioria, o que tornava a noite mais hilária. Todos se divertiam e dançavam ao som da música, que não era de boa qualidade, mas dançante e engraçada, observada em sua essência. As pessoas estavam animadas, menos o amigo, que preferia olhar de longe o movimento do vestido de Vivi que marcava sua cintura fina e o contorno de seus quadris, realçando ainda mais suas coxas grossas. Não bebeu nem comeu nada durante a noite, só observou em silêncio.

Apesar de toda produção para ficar mais sexy e ter percebido os olhares, Vivi não conseguia se aproximar do amigo como queria, pois ele estava no canto, quieto, não sabia dançar e não gostava de música alta.

O caminho até o estacionamento foi o que sobrou para aquela noite, já que os amigos saíram na frente e o casal ficou para traz, propositalmente.

Pararam então por um instante na tentativa de localizar o amigo em comum naquele estacionamento enorme sem sucesso. Os olhares eram inevitáveis e a ansiedade de ambos já atrapalhava o clima gostoso e empolgante daquela noite tão poética e lindamente iluminada. Depois de alguns minutos caminhando pelo estacionamento lotado em busca da carona que os levaria para casa, eles começaram a andar devagar, para apreciar a noite. A luz da lua os iluminava de forma quase particular, e como nos filmes românticos ele a olhava como quem esperava algo, mas tomar iniciativa nunca, era um homem recatado. Vivi já cansada dos joguinhos, mas como boa caçadora que sempre foi, não pensou duas vezes, aproveitou que ele, com desculpa de cansaço, encostou em uma árvore larga e florida que enfeitava o lugar, aumentou a dose de charme, e se apropriando do silenciou que calou a conversa já sem conteúdo que estavam tentando manter, foi se aproximando devagar. Vivi então sem exitar roubou! Quase um beijo de jardim de infância, de supetão e de boca fechada. Pois ela sabia que para conseguir algo de uma pessoa daquele perfil, principalmente um beijo, só se fosse estrategicamente roubado, e isso ela sabia fazer bem. E foi assim, no susto que o beijo enfim aconteceu. Não foi tão bonito como a noite merecia mais a essa altura, esse singelo beijo já era desejado por ambos, mesmo que o amigo introvertido negue até a morte. O sentimento era de vitória e sucesso, pelo menos para Vivi que beijou e se afastou para sentir a reação do belo rapaz. Aquele era o sinal positivo tão esperado. Era a autorização assinada e reconhecida em cartório, a permissão concedida, o semáforo verde, a placa de prossiga, quase um grito de livre acesso, para os demais gestos de carinho que viriam, pulsavam os hormônios de Vivi.

Ele depois de alguns segundos digerindo a atitude entendeu o recado enfim. Foi o despertar de muitos beijos quentes, famintos e impulsivos naquela noite. Ele ainda sem conseguir relaxar a puxou pela cintura meio desajeitado nos primeiros segundos, e a medida que tocava o corpo de Vivi naquele vestido acessível ele se soltava, satisfazendo seu desejo reprimido por tanto tempo.

Ela nunca imaginou que aquele amigo tão inibido e reservado beijava tão bem, ele tinha mãos grandes, braços fortes, mas ela nunca havia reparado até então, e entre abraços e apertos ela percebeu pela primeira vez que por baixo daquelas roupas largas e sem graça havia um abdômen definido, ela disfarçava a alegria. Os lábios grossos devoravam seus lábios como um doce néctar dos Deuses com tanto sabor, que Vivi até ficava sem ar em alguns momentos. Ela adorando a surpresa, ria por dentro pensando que se ela não tivesse tomado a iniciativa nunca teria vivenciado aquele instante. A empolgação de ambos foi tanta que até esqueceram que deveriam procurar os amigos que lhes dariam uma carona que preocupados com a demora logo encontraram os beijoqueiros sob a luz da lua, linda e clara, acolhidos embaixo daquela arvore larga de galhos desenhados harmonicamente que destacavam o casal que parecia ter 15 anos naquela noite, tamanha energia. Abordados pelos amigos ambos desencadearam uma crise de riso seguindo em direção ao carro sem dar maiores detalhes sobre o ocorrido, apesar da alegria estampada nos rostos rubros e manchados de batom.

Lista dos Falecidos - As tragicomédias de uma vida amorosaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora