who you?

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Durante alguns dias aquilo ficou martelando na minha cabeça. Nunca acreditei nessas coisas de amor à primeira vista e nem nada, ninguém me interessava assim, logo de cara, muito menos um cara em si. Eu tive algumas experiências amorosas com garotas no passado, mas nenhuma delas valeu o tempo perdido. O que me incomodava nem era o fato de eu estar pensando em um homem de forma romântica, mas sim que eu não conseguia passar um minuto do dia sem pensar no rosto ou na voz de alguém.

Já fazia mais de uma semana que Park Jimin bateu na minha porta e levou consigo a minha paz, e porra, troquei míseras três frases com ele. Naquele dia chovia muito, voltava da casa do meu melhor amigo depois de longas cinco horas de maratona de filmes do Star Trek. Era noite e tinha esquecido o guarda-chuva em casa. Fiquei um tempo debaixo de um toldo na calçada, calculando mentalmente o tempo que demoraria em correr dali até o meu prédio. Coloquei os fones e comecei a minha jornada, depois de uns 20 segundos a roupa que eu usava já estava completamente encharcada.

Min Yoongi, a única pessoa com quem eu posso dizer que tenho um relacionamento social, é meu melhor amigo desde o primeiro ano do colegial. Nós somos muito parecidos em vários aspectos, o principal deles é que ele é um completo descaso. Pode-se dizer que a vida de Yoongi baseia-se em desenhos, masturbação e cheetos. Porém, ele teve mais sorte do que eu, nasceu em uma família rica e com pais que o mimam independentemente de qualquer merda que o faça. Então tudo bem se ele tiver essa vida de um completo vagabundo, mas apesar de tudo, não posso negar que o cara tem vivência. As maiores loucuras (e arrependimentos) da minha vida foram ideias dele. Os melhores conselhos também, não que eu precisasse de conselhos constantemente, mas algo me dizia que dali em diante eu iria acabar precisando de alguns.

Quando eu cheguei à esquina da rua quase nem acreditei no que vi. Lá estava Jimin. Diferente de mim, ele não estava correndo na chuva, diferente de mim, ele tinha um carro. Ele disse que morava perto, mas não o quão perto.

Ele estava cruzando a rua quando eu não tive muito tempo para pensar, na realidade, em nenhum momento eu pensei. Porque se tivesse, eu não teria feito isso. Eu simplesmente corri até ele. Isso mesmo, eu corri até ele e parei na frente do carro. Havia tempo suficiente para ele parar, mas por um segundo eu vi o rosto de Jimin se transformando em uma expressão de confusão e depois de pavor. Já no outro, eu ouvi as freadas e no terceiro segundo eu ouvi os ossos da minha cara se chocando contra o asfalto molhado. Depois disso, eu só conseguia ouvir o barulho das gotas de chuva batendo junto ao sangue que escorria do meu nariz.

Admito que esse não fosse o melhor jeito de chamar a atenção dele, parando desse modo na frente do carro, até porque eu poderia ter morrido. Mas ele desceu do veículo e foi lá me ajudar. Aquela rua não é nem um pouco movimentada, e naquela hora, por sorte, estava deserta e não havia nenhuma plateia para assistir a minha cena ridícula. A dor aguda não me deixava abrir os olhos, mas eu sentia a presença dele agachado do meu lado, ele soluçava e eu cheguei à conclusão de que ele estava chorando por achar que tinha me matado, ou talvez porque eu amassei o capô do carro dele que, provavelmente, custava mais do que a minha vida.

Depois de um tempo, quando a minha cabeça parou um pouco de girar como se eu estivesse descendo uma montanha russa de 500 metros, insisti em tentar abrir um dos olhos. Quando consegui, vi-o sentado ao meu lado, senti a mão quente segurando a minha com tanta força que meus dedos já deveriam estar brancos. Quando ele puxou o celular do bolso para fazer uma ligação, para a ambulância ou necrotério eu suponho, segurei o seu pulso para impedir.

- Olha cara, você atropelou o meu gato e logo após eu. Se você tem algum problema comigo, a gente pode tentar conversar sem que alguém ter que morrer.

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