Capitão

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A batida na porta de madeira de meu quarto soou tímida a principio para depois se tornar completamente audível.

− Entre – ordenei enquanto rabiscava alguns papéis com minha assinatura e os selava com cera negra.

A porta se abriu com um baixo rangido e se fechou novamente. Eu não precisava me virar para saber quem entrara no recinto. Dona de passos leves como o cair das folhas, a garota caminhou até o centro do cômodo.

− O senhor mandou me chamar? – perguntou já sabendo da resposta.

− Sim – disse, virando-me na cadeira. – Sente-se na cama.

A menina hesitou por um segundo, mas obedeceu. Caminhou cabisbaixa até a grande cama de dossel, coberta por lençóis de seda vermelha e sentou-se, cruzando as delicadas mãos sobre o colo.

− Qual o seu nome? – indaguei.

− Elena, senhor.

− E quantos anos tem você, Elena?

− Dezesseis, senhor.

− Já esteve com outro homem antes?

A garota vacilou de novo. Seu rosto enrubesceu por completo e suas mãos agarraram suas vestes com força.

− Responda – minha voz soou baixa, mas firme. Lembrei-me de meu pai.

− N-Não, senhor.

− Não o quê?

− N-Nunca estive com outro homem, senhor – a garota lutava contra as lágrimas.

− Então é pura?

− Sim... Ah! – ela se corrigiu: – Sim, senhor, sou pura.

Sorri. Levantei-me da cadeira de mogno e caminhei até a filha da criada. Ela ainda olhava para baixo, para as mãos que repuxavam sem parar o singelo vestido de linho. Minha mão tocou sua face de tez branca e macia.

− Olhe para mim – ordenei e ela o fez. – Não se preocupe. Vai acabar rápido. Feche os olhos.

Elena não queria fazê-lo, mas a obediência de criada e o medo de menina a fizeram obedecer. Ela fechou seus grandes olhos verdes e esperou.

Minhas mãos acariciaram seu rosto suavemente e passearam por seus lábios carnudos. E então desceram. Percorreram a carne quente e macia de seu pescoço e o enlaçaram num aperto gentil. Depois pressionaram-no com um pouco mais de força. Um pouco mais. E um pouco mais. E mais.

Logo senti as delicadas mãos da garota agarrando as minhas como ela antes agarrara seu singelo vestido de linho. Aquelas pequenas mãos não eram fortes o suficiente para refrear meu aperto e em seguida sua força se esvaiu por completo.

Deixei o corpo inerte de Elena sobre a cama coberta por seda vermelha e caminhei até a mesa, onde minhas mãos tomaram posse de uma adaga e testaram seu corte.


* * *


Os cinco anos em que passei como capitão foram gentis comigo. Mas só comigo. Meus pais faleceram durante esse tempo. Meu pai quebrou o pescoço ao cair de um cavalo numa caçada e o desgosto de minha mãe assomou-se a sua doença para também levá-la ao túmulo. Pelo menos foi o que ouvi dizer. Não compareci a nenhum dos funerais. Estava muito ocupado para isso.

Logo que recebi o manto de capitão, resolvi agir. Reuni minha companhia de homens de armas e partimos para interior de Alure. Para as florestas ditas amaldiçoadas e para os pântanos onde ninguém ousava pisar. Caçávamos os salteadores. Havia convencido o general de que o reino não poderia se concentrar na ameaça de guerra exterior se precisasse se preocupar com conflitos dentro do mesmo. O homem acreditara em minhas palavras e me dera seu aval para caçá-los.

A Ascensão de Ryne MeadowWhere stories live. Discover now