A festa

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FabioGuastaferro



Fábio Guastaferro

"Festa estranha, com gente esquisita

Eu não tô legal, não aguento mais birita"

Renato Russo / Legião Urbana.




Histórias constrangedoras de bêbados todo mundo tem uma para contar. Eu mesmo já desmaiei de tanto beber, vomitei na garota pela qual passei a noite inteira bebendo para ter coragem de me aproximar. Entrei em baile funk e arrumei briga com os manos, tudo porque tinha bebido umas a mais. Mas acho que o pior porre foi quando fui como convidado, ou melhor, acompanhante de convidado numa festa importante do serviço da minha mulher.

Era o aniversário do Seu Eladio, dono do colégio. Um senhor espanhol que veio pequeno morar no Brasil. Aqui ele fez a vida ao lado de sua esposa pedagoga. Construíram um grande colégio de renome com cinco unidades espalhadas pela cidade. Sendo um dos colégios particulares mais bem avaliados pela população e pelo Ministério da Educação.

O Velhinho tem grana e, claro, muitos puxa sacos. Em seu septuagésimo quinto ano de vida, ele resolveu fazer uma festa em um condomínio fechado no qual ele tem uma grande casa. Usou uma parte do clube do condomínio para receber seus convidados. Na sua casa, ele hospedou diversos parentes e amigos.

Minha mulher é pedagoga em uma das unidades do colégio e conhece o Seu Eladio desde que começou a estudar pedagogia. Duas de suas tias também foram professoras no colégio do velho e com o tempo se tornaram amigas do patrão. Minha mulher conhece o homem, mas sem grandes intimidades, diferente de suas tias. Por causa delas, além de sermos convidados para a festa ficamos hospedados em sua própria casa.

Eu fui praticamente de penetra. Só fui para acompanhar a minha mulher. Para que ela não fosse sozinha e porque a boca livre ia ser de primeira qualidade. Direto tem festas do colégio, mas minha mulher não vai a todas e eu em quase nenhuma. Logo, eu conhecia pouquíssimas pessoas. Eram mais as tias da minha mulher e duas amigas que estavam com seus respectivos maridos. Como estávamos na casa do patrão essas "amigas" não estavam muito próximas de nós.

Antes de irmos, minha mulher recomendou parcimônia na bebida, educação com a comida, e principalmente com o excesso de intimidade com quem eu não conheço. Não que eu seja um louco antissocial, que enche a cara, enche a pança e sai arrotando e peidando enquanto falo mal dos outros. Sou até um homem bem discreto e educado e foi assim que me comportei a maior parte do tempo naquela festa.

Ao chegarmos, fomos alojados em um quarto com mais três pessoas. Eu, minha mulher, Tia Wilma e mais um casal, parentes do Seu Eladio. A casa ficava quase a dois quilômetros do clube onde seria a recepção do evento, então decidimos ir de carro

Ao chegarmos ao clube, me sentei com Tia Wilma enquanto minha mulher fazia uma espécie de networking com outros funcionários do colégio. Ao meu entender, os que estavam na casa eram o pessoal da família e amigos mais próximos, o pessoal do colégio foi convidado somente para o evento no salão do clube. Na verdade não era bem um salão, era um grande espaço aberto com bufê e garçons servindo churrascos e bebidas.

Dona Wilma estava muito à vontade, cumprimentado todo mundo e falando para Deus e o mundo que estava na casa do chefe, elogiando o homem e dizendo que o conhecia há muitos e muitos anos. Todos que se aproximavam ela puxava conversa, abraçava e beijava. Tia Wilma é muito expansiva e estava muito feliz, querendo agradar todo mundo, inclusive a mim que estava ali, de companhia permanente.

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